aneiro de sangue: Matança continua e pistoleiros fazem a 11ª vítima na fronteira de MS

O mês de janeiro termina somente nesta quinta-feira (31), mas os últimos 30 dias foram de muitas execuções na região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Até ontem (29), as polícias dos dois países já tinham contabilizado na região 11 mortes, o que já dá uma mostra o que os moradores podem esperar no restante do ano.

As duas últimas mortes foram na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira com Ponta Porã (MS). Na localidade, pistoleiros mataram a tiros duas pessoas identificadas como Erasmo Carlos Ríos, 28 anos, o “Carlito”, que tinha proibição de sair do país vizinho por responder a uma causa por resistência à prisão e receptação, e Edemar Elias Gonzalez Aguilar, 35 anos, que tem passagem na Polícia por posse e tráfico de drogas.

Eles foram mortos na noite de ontem (29), por volta das 21 horas, quando se encontravam em frente a uma casa comercial denominada “3M”, situada no Bairro Terraza, em Pedro Juan Caballero. No local, os pistoleiros teriam chegado a bordo de um veículo Toyota modelo Prêmio, cor prata. Os assassinos fizeram 23 disparos de pistola calibre 9 mm contra a dupla, sendo que Erasmo Carlos Rios faleceu no local, enquanto Edemar Gonzalez chegou a ser socorrido até uma clínica particular da cidade, onde já chegou sem vida.

Informações indicam que, as duas vítimas teriam sido executadas em um ajuste de contas do narcotráfico na região de fronteira, mas investigadores da Divisão de Homicídios e da Polícia Técnica apoiados pela promotora de Justiça Sandra Diaz não descartam outras hipóteses que será investigada pelos investigadores da Polícia Nacional do Paraguai em Pedro Juan Caballero.

Outras mortes

Na segunda-feira (28), foi encontrado um corpo perto da Colônia Cerro Quatiá, que fica entre as cidades de Aral Moreira e Coronel Sapucaia, mas em território paraguaio. Trata-se do comerciante brasileiro Jorge Donizete da Silva, dono de uma olaria no distrito de Vila Marques, a 10 quilômetros de Aral Moreira.

Ele foi assassinado dentro de uma pick-up Fiat/Strada e a polícia suspeita de latrocínio (roubo seguido de morte). A pick-up estava parada na estrada de terra. No domingo (27) foi encontrado outro corpo de um homem em uma lavoura de soja ao lado da Linha Internacional, entre Brasil e Paraguai, alvo de pelo menos 10 tiros de dois diferentes calibres, conforme a Polícia Civil.

Moradores ainda relataram que na noite de domingo (27), ouviram os disparos na região onde o corpo foi encontrado, às margens de uma estrada de terra que divide o Paraguai de Mato Grosso do Sul. “As testemunhas disseram que ouviram a troca de tiros por volta das 23 horas. A vítima foi atingida por pelo menos 8 tiros de calibre 9 mm e dois tiros de calibre 12 mm”, comentou o delegado de Aral Moreira, Eduardo Ferreira de Oliveira. A perícia fez os levantamentos no local e, no momento, está focada em tentar descobrir a identidade do homem.

Na semana passada, o vice-chefe do Departamento Antissequestro da Polícia do Paraguai, comissário Rufino Acosta Gill, de 43 anos, perdeu a vida durante o confronto com sequestradores em Capitán Bado, cidade paraguaia que faz fronteira com Coronel Sapucaia (MS). Dois criminosos foram mortos e outros dois foram presos.

Rufino Acosta Gill era considerado por seus superiores, colegas e subordinados como um dos melhores policiais do país. Ele se destacou por ser o que mais sabia sobre a luta contra o grupo criminoso EPP, que ele conseguiu acertar vários golpes importantes na última década no norte do Paraguai.

O comissário foi baleado na cabeça enquanto dirigia uma caminhonete, onde estavam três subalternos. Os agentes estavam na área conhecida como Cerro 21, prestes a prender Carmelo Ramón Benítez e Andrés Peña. Essa dupla fez pelo menos três sequestros nas últimas semanas contra fazendeiros do Departamento de Amambay, na fronteira com Mato Grosso do Sul.

Na quinta-feira (24), a Polícia chegou perto da casa onde os suspeitos estavam escondidos. Os criminosos perceberam que eram policiais e abriram fogo. Acosta foi mortalmente ferido. Seus companheiros reagiram e mataram um dos atacantes, feriram outro – estes ainda não foram identificados – e prenderam dois – Crispin Ferreira, 44 anos, e Rafael Benitez dos Santos, 53 anos.

O confronto ocorreu a 80 quilômetros de Pedro Juan Caballero e a 40 quilômetros de Capitán Bado, quase em frente ao município brasileiro de Aral Moreira (MS), a menos de 1.000 metros da linha internacional. O comissário Acosta e sua equipe iam localizar a casa dos sequestradores para que hoje fosse feita uma busca.

Outra equipe policial da mesma unidade havia entrado na zona de vigilância em outra caminhonete, em outro setor, para que não pudessem ajudar seus companheiros. O comissário Acosta foi resgatado e levado para Aral Moreira, mas nada pôde ser feito. Ele deixa uma esposa também policial, com quem ele tem três filhos.

Mais mortes

A guerra pelo controle do tráfico de drogas, armas e munições na fronteira do Paraguai com o Brasil fez mais uma vítima nesta quarta-feira (23) no município paraguaio de Ypejhú, que faz fronteira com Paranhos (MS). Um conhecido brasileiro, considerado pistoleiro da facção criminosa brasileira CV (Comando Vermelho), foi morto a tiros por “soldados” da também facção criminosa brasileira PCC (Primeiro Comando da Capital).

Trata-se de Antônio Adelir Bittencourt, mais conhecido como “Toninho”, que foi atacado por dois assassinos, que estavam em uma motocicleta, quando conduzia sua caminhonete S10 perto de uma praça do distrito de Villa Ygatimí, que faz parte do município de Ypejhú. A vítima era tio de Aline Verón Bittencourt, companheira do narcotraficante Diego Alderete Peralta, líder do clã Alderete Peralta, cuja irmã e filha de seis meses foram salvas da morte em 19 de dezembro do ano passado durante ataque do PCC a mando do novo “patrão” da fronteira Sérgio de Arruda Quintiliano, mais conhecido como “Minotauro”.

Segundo informações da Polícia, Toninho teria saído da Villa Ygatimí com destino a Paranhos quando foi atacado pelos dois homens armados com pistolas calibres 40 e 45. A vítima já tinha sofrido ataques em anos anteriores porque supostamente tinha várias contas pendentes com o PCC e a sua morte faz parte da guerra entre a facção e o CV pelo controle do tráfico de drogas na fronteira seca.

A última aconteceu nesta terça-feira (15), quando dois pistoleiros que estavam em uma motocicleta mataram um homem em Pedro Juan Caballero. A vítima foi identificada como Diosnel Delgado Giménez, 38 anos, e, de acordo com testemunhas, a execução foi quando ele chegava a uma oficina no Bairro Aurora Garden para fazer o reparo do seu veículo.

Ele esperou ser atendido sentado em frente da oficina conversando com outro homem e bebendo cervejas. Neste meio tempo, chegaram ao local em uma motocicleta os dois pistoleiros, que, sem dizer qualquer palavra, abriram fogo contra a vítima, fugindo logo depois.

O homem que estava conversando com Delgado Giménez não foi atingido por nenhum projétil, confirmando que o alvo dos assassinos era apenas ele. A cumpria uma sentença de 10 anos de prisão por homicídio e deixou a prisão há um ano para cumprir o resto da pena em liberdade. Ele morava na cidade de Capitán Bado e a Polícia está investigando se esse antecedente seria o pano de fundo que causou o assassinato.

Corpo incinerado

No sábado (12), por volta das 21h30, quando moradores do distrito de Sanga Puitã, a 15 quilômetros de Ponta Porã, alertaram a Polícia Militar de que nas proximidades da BR-463 teria sido encontrado um corpo incinerado. Os policiais militares imediatamente deslocaram-se à região indicada e constataram a veracidade do fato, acionando os investigadores do SIG (Setor de Investigações Gerais) da Polícia Civil e os agentes da Polícia Técnica que realizaram os procedimentos de rigor e posteriormente encaminharam o corpo ao IML (Instituto Médico Local) de Ponta Porã à espera da identificação.

Segundo testemunhas, foram ouvidos vários disparos de arma de fogo e posteriormente foi visto um clarão. Quando foram verificar o que estava ocorrendo, encontraram o corpo de o corpo de um homem em meio ao fogo e, imediatamente, alertaram a Policia Militar. Presume se que a execução possa ter relação com um ajuste de contas do crime organizado, mas os investigadores do SIG não descartam nenhuma hipótese e esperam a identificação da vítima para iniciar as investigações que identifiquem as possíveis causas do homicídio.

Clã Pavão

Já no dia 9 de janeiro foi a vez do ex-contador de Jarvis Chimenes Pavão, responsável pela coordenação dos voos de tráfico de drogas com pilotos, ser morto a tiros em frente da sua casa em Pedro Juan Caballero. Trata-se de Gustavo Alvarenga Cardozo, 45 anos, que morava na Rua Teresa Roa, no Bairro Virgen de Caacupé.

O homem foi atingido por vários tiros e socorrido por um grupo de vizinhos, que o encaminharam a um centro de saúde particular, onde sua morte foi confirmada. Segundo os investigadores, pouco depois das 9 horas, a vítima e sua esposa estavam prestes a deixar sua residência a bordo de uma SUV da Mercedes-Benz, quando apareceu em cena um homem alto e esguio com um capacete pilotando uma motocicleta sem placa.

Calmamente, ele parou no lado esquerdo da SUV e descarregou uma pistola de calibre 40 mm na vítima. De acordo com vizinhos, em seguida, guardou a arma em um pequeno saco na cintura e saiu lentamente do local, uma vez que perdeu alguns segundos porque o motor da moto não ligava.

Os investigadores apontaram que Alvarenga foi o último administrador do narcotraficante Jarvis Chimenes Pavão, atualmente preso em uma prisão no Brasil. Ele foi quem organizou os voos com o carregamento de narcóticos para o Brasil, contratando os pilotos. Por esta razão, ele era conhecido no ambiente com o pseudônimo de “Comandante”.

Paraguaia

No dia 7 de janeiro, uma paraguaia foi morta a tiros dentro de sua SUV, em plena luz do dia, no centro de Ponta Porã (MS), enquanto seu filho, um menor, que estava no banco do passageiro, também ficou ferido. A vítima foi identificada como Juana Bautista Torres Vera, de Paso Horqueta, no Departamento de Concepción, no Paraguai.

Pouco antes das 13 horas, as vítimas estavam viajando pela Avenida Brasil a bordo da SUV da Toyota, com placa NKX-0039, de Ponta Porã (MS), e, quando chegou no cruzamento com a Rua Duque de Caxias, os pistoleiros, em uma motocicleta, aproximaram-se do lado esquerdo e abriram fogo contra a motorista, que morreu no mesmo local, enquanto seu filho teve ferimentos leves.

Ambos foram socorridos e encaminhados a um centro de saúde da cidade, onde médicos de plantão confirmaram a morte de Juana Bautista Torres Vera, enquanto o menor estava internado, mas sem gravidade. Apesar das investigações feitas pela Polícia Civil, ainda não se conseguiu obter elementos que conseguissem decifrar o feroz ataque.