Policiais da linha internacional não têm mais dúvida: as quatro execuções ocorridas entre a noite de sábado (25) e a tarde de segunda-feira (27), estão ligadas e marcam o início da guerra anunciada em agosto deste ano por criminosos contrários ao grupo de extermínio autodenominado “Justiceiros da Fronteira”.
Um perfil identificado como “Henrique Fronteira” postou no Facebook que seria o responsável pela execução do homem encontrado enrolado em um edredom, ao lado do regimento do Exército paraguaio, em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS).
Decapitado, com as vísceras expostas por profundo golpe na barriga e com parte das tripas colocadas na boca, o homem foi identificado hoje como sendo o brasileiro Carlos Limar de Souza Lima, 38 anos, oriundo de São Paulo.
“Esse sim é o crime verdadeiro cobrando as covardias dos comédias que se auto intitulam justiceiros. Segue o recado para você que se diz justiceiro. Leia bem o recado, tá filhão! É nós que tá na fronteira. Não iremos mais admitir suas covardias, tirando a vida de inocentes sem ao menos chance de defesa e até de crianças”, afirma trecho da postagem feita por “Henrique Fronteira”.
A foto no perfil mostra um homem jovem de boné preto, camiseta verde, pistola na cintura e fuzil na mão. Na rede social, o suposto “Henrique Fronteira” informa apenas que mora em Ponta Porã. Usando como pano de fundo a foto do corpo decapitado, o perfil JDF [Justiceiros da Fronteira] respondeu aos inimigos.
“Nóis do grupo JDF recebemos um comunicado que o grupo ‘Crime’ e o grupo da mariposa traicionera tá fazendo isso pra gente deixar de procurar ela, mais si ela quer guerra, guerra vai ter”, afirmou o suposto integrante do grupo de extermínio.
O JDF também nega que Carlos Limar de Souza Lima fosse integrante do grupo e diz que a execução foi apenas para atrapalhar o “trabalho” dos justiceiros. A principal suspeita é de envolvimento de Carlos Limar de Souza na execução de outro brasileiro, Rogerio Laurete Bousi, 26, ocorrida sábado à noite em Pedro Juan Caballero.
Natural de Rondonópolis (MT), mas oriundo de São Paulo, Rogério foi morto a tiros de pistola 9 milímetros e ao lado do corpo foi deixado cartaz assinado pelos “Justiceiros” com a frase “não roubar na fronteira”.
A polícia paraguaia chegou até a identificação de Carlos Limar, depois de encontrar o passaporte dele na casa onde mora o paraguaio Julio César Ocampos, que está desaparecido desde domingo. A mãe de Julio chegou a procurar a polícia ontem, achando que o corpo de Carlos era do filho.
Segundo apurado pela reportagem, integrantes do “Crime” teriam descoberto envolvimento de Carlos Limar na execução de Rogério Bousi e o sequestraram para “interrogatório”. O corpo do brasileiro tinha sinais de tortura. Além de parte das vísceras, na boca dele tinha um pedaço de pano, recurso usado para impedir a vítima de gritar durante a tortura.
Bandidos rivais dos “Justiceiros” teriam torturado Carlos até a manhã de ontem, para que ele revelasse os nomes de outros integrantes do grupo de extermínio. Depois o mataram, enrolaram o corpo e a cabeça no edredom e jogaram ao lado da área militar.
Existe forte suspeita de que Carlos tenha apontado como membros dos “Justiceiros da Fronteira”, o paraguaio Jorge Ortega García, 27, e o ex-vereador e empresário Joanir Subtil Viana, 53. Os dois foram executados a tiros no intervalo de menos de duas horas ontem. Jorge foi morto em Pedro Juan Caballero e Joanir no centro de Ponta Porã. A reportagem apurou que os dois eram amigos e andavam sempre juntos.
Julio César Ocampos continua desaparecido. Há duas possibilidades para o desaparecimento: ele conseguiu fugir dos inimigos ou foi executado e o corpo deve aparecer nas próximas horas. Ele também é suspeito de participação na morte de Rogério.
As fontes ouvidas pela reportagem não souberam explicar quem seria a “mariposa traicionera” (borboleta traidora), citada na postagem do “JDF”. O termo é usado para identificar pessoas acusadas de serem delatoras, as chamadas “x9”. “Mariposa traicionera” é uma das músicas mais conhecidas da banda mexicana Maná. Em 2019, a música ganhou versão brasileira, gravada pela dupla Mato Grosso e Mathias. Com informações do site Campo Grande News