A Santa Casa de Campo Grande chegou a um acordo com sindicatos que representam profissionais da enfermagem, limpeza, radiologia e farmácia para o pagamento do 13º salário, encerrando uma paralisação parcial que afetou serviços essenciais na semana do Natal. No entanto, os médicos celetistas da instituição, que atuam sob regime CLT, não foram incluídos no entendimento e ainda não receberam uma proposta formal para a quitação do benefício, mantendo a incerteza sobre os pagamentos.
Na manhã de quarta-feira (24), véspera de Natal, o hospital anunciou que firmou um consenso com o Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem do Estado de Mato Grosso do Sul (Siems), o Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de MS (Sintesaúde), o Sindicato dos Técnicos e Tecnólogos em Radiologia de MS (Sinterms) e o Sindicato dos Farmacêuticos do Estado de MS (Sinfarms). De acordo com o acordo, 50% do 13º salário foi pago na mesma data, e o restante deve ser quitado até o dia 10 de janeiro do próximo ano.
Segundo a direção do hospital, a segunda parcela será paga com recursos da 13ª parcela repassada pelo Governo do Estado aos hospitais filantrópicos de Mato Grosso do Sul, verba que não está prevista em contrato. Com a aceitação da proposta pelas categorias envolvidas, a paralisação parcial dos trabalhadores foi oficialmente encerrada.
Entretanto, os médicos celetistas continuam sem uma solução. O Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul (Sinmed-MS) informou que a instituição não apresentou qualquer proposta concreta para a categoria. Apesar disso, os médicos decidiram não entrar em greve neste momento para evitar prejuízos aos serviços essenciais.
Diante da falta de pagamento, o Sinmed-MS protocolou na Justiça, na terça-feira (23), um pedido de liminar para que a Santa Casa seja obrigada a quitar integralmente o 13º salário em até 48 horas. O sindicato também solicita uma indenização por danos morais no valor de R$ 500 mil, a ser revertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Além disso, o sindicato divulgou uma nota à imprensa acusando a Santa Casa de praticar lockout, uma prática em que o empregador cria condições para pressionar os trabalhadores a entrar em greve, visando gerar pressão sobre o poder público. Os ofícios enviados pelo hospital à categoria chegaram apenas após o sindicato convocar uma assembleia, realizada na noite de segunda-feira (22), para discutir o atraso no pagamento do 13º.
Durante a assembleia, os médicos analisaram uma proposta da instituição que previa o parcelamento do benefício apenas a partir de janeiro de 2026, sem juros ou correção monetária pelos atrasos. Essa sugestão foi rejeitada pela categoria, que optou por manter as atividades e buscar medidas judiciais para assegurar seus direitos trabalhistas.
Além da liminar, o Sinmed-MS pede a responsabilização dos gestores da Santa Casa e a realização de uma audiência de conciliação para resolver o impasse. O presidente do sindicato, Marcelo Santana, afirmou: “Nunca vimos esse tipo de atitude na história da Santa Casa. O problema da falta de pagamentos e do 13º salário é de responsabilidade exclusiva deles como empregadores. Eles nos chamaram apenas um dia antes do vencimento do prazo para dizer que não pagariam, demonstrando total falta de gestão e de respeito com os médicos celetistas.”
O acordo firmado com as demais categorias pôs fim a uma greve que durou cerca de dois dias e impactou diretamente a população de Campo Grande durante a semana de festas natalinas. Aproximadamente 30% dos profissionais das áreas de enfermagem, limpeza e copa cruzaram os braços, comprometendo consultas, cirurgias eletivas, atendimentos em enfermarias, pronto-socorro e UTI, além de serviços de apoio como higienização, lavanderia e cozinha.
Essa foi a segunda paralisação em serviços essenciais registrada em Campo Grande em menos de uma semana. Na semana anterior, motoristas do transporte coletivo ficaram quatro dias em greve devido a atrasos salariais, situação que foi resolvida apenas após audiência de conciliação realizada na tarde de quinta-feira (18).
