A inadimplência em Mato Grosso do Sul atingiu um novo recorde em outubro, com 119,8 mil empresas registradas como negativadas, o maior número desde o início da série histórica da Serasa Experian. Além das empresas, o número de consumidores endividados também alcançou patamares alarmantes, totalizando 1,234 milhão de pessoas físicas.
De acordo com o levantamento, as empresas inadimplentes acumulam um total de R$ 2,9 bilhões em dívidas, com uma média de R$ 25.795,72 por CNPJ, resultando em cerca de oito contas em atraso. O valor médio por débito é de R$ 3.256,71.
A economista da datatech, Camila Abdelmalack, destaca que o aumento no número de empresas inadimplentes indica uma fragilidade financeira no setor corporativo. A diminuição na concessão de crédito tem dificultado a renegociação de dívidas e a reorganização das finanças, pressionando ainda mais o caixa das empresas. A desaceleração econômica tem reduzido a geração de receita, criando um cenário desafiador para a manutenção da liquidez, especialmente entre micro e pequenas empresas.
No contexto nacional, o número de empresas inadimplentes chegou a 8,7 milhões, totalizando R$ 204,8 bilhões em dívidas. A dívida média das companhias foi de R$ 23.658,74, com uma média de 7,1 contas em atraso, sendo o ticket médio por compromisso vencido de R$ 3.329,5.
Dos negócios inadimplentes em outubro, 54,9% pertenciam ao setor de serviços, 33% ao comércio e 8% à indústria. O maior volume de dívidas negativadas veio do setor de serviços (32,2%), seguido por bancos e cartões (19,3%).
A maioria das empresas inadimplentes são micro, pequenas e médias, totalizando 8,2 milhões, que concentraram 56,8 milhões de dívidas, somando R$ 184,6 bilhões em contas inadimplidas. Camila ressalta que essas empresas são mais vulneráveis aos impactos dos juros altos e incertezas econômicas, enquanto as maiores têm mais estrutura para enfrentar desafios financeiros.
Endividamento dos consumidores
O endividamento dos consumidores em Mato Grosso do Sul também alcançou um nível histórico, afetando mais da metade da população adulta. Em outubro, 1.234.934 moradores estavam com o nome negativado, o que representa 57,2% da população. Juntos, eles acumulam 5,42 milhões de dívidas, totalizando R$ 9,23 bilhões.
As dívidas com bancos e cartões de crédito são as principais responsáveis pela inadimplência, representando 29,6% do total. Em seguida, aparecem as financeiras (18,3%), o varejo (10,9%) e as contas básicas de serviços, como energia e telefonia (12,8%).
Os dados indicam que a inadimplência em Mato Grosso do Sul é uma questão estrutural e crescente, mesmo com o aumento de modalidades de crédito mais acessíveis, como o consignado CLT e o saque aniversário do FGTS. Embora essas opções ofereçam alívio imediato, elas também podem aumentar o risco de endividamento permanente.
Até outubro deste ano, o Estado registrou 105,1 mil novos nomes incluídos em cadastros de inadimplência, refletindo um crescimento contínuo mesmo com a expansão das linhas de crédito e opções de renegociação.
O mestre em Economia Eugênio Pavão aponta que a pandemia agravou a situação, levando muitas famílias a um ciclo de dívidas difícil de romper. Ele observa que o acesso facilitado a crédito de alto risco, como cartões de crédito e cheque especial, pode ser prejudicial, pois muitos consumidores o utilizam como uma extensão de sua renda, sem compreender as implicações financeiras.
