“Se cuida! Vamos precisar muito do senhor. Tem barulho no ar.” A mensagem, em tom de alerta, foi enviada pelo major da PMMS aposentado Gilberto Luis do Santos, já denunciado por integrar uma organização criminosa envolvida na exploração do jogo do bicho. O aviso era direcionado a Roberto Razuk, figura influente na fronteira e principal alvo da quarta fase da Operação Successione, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).
De acordo com o Gaeco, nas conversas interceptadas, o “Coronel G. Santos” ou “Barba” alertava Razuk sobre o risco crescente de uma guerra pelo controle do jogo do bicho em Campo Grande, agravada pelo vácuo deixado pela queda do grupo liderado pela família Name. O cenário, segundo os investigadores, envolve até movimentos estratégicos do crime organizado.
Nas mensagens, o gerente do grupo Razuk na Capital informa que concorrentes estariam buscando apoio do PCC (Primeiro Comando da Capital) para reforçar sua influência no mercado clandestino. A eventual parceria entre rivais e a facção paulista poderia, segundo o relatório, alterar drasticamente o equilíbrio de forças no setor ilegal de apostas.
“Gilberto dos Santos, em diálogo com Roberto Razuk, deixa claro que o próprio Razuk tinha conhecimento e coordenava o monitoramento das atividades de grupos concorrentes, diante da possibilidade de o PCC estar se aliando aos adversários para dominar plenamente a atividade na Capital. A tarefa de confirmar essa movimentação caberia a Manoel Ribeiro, o ‘Manelão’”, descreve o Gaeco ao pedir à Justiça a prisão de 20 pessoas e buscas em 27 endereços.
As mensagens foram trocadas em 30 de maio de 2023. Na conversa, o major afirma que está apurando a suposta ofensiva do PCC em Campo Grande. Razuk responde dizendo já ter ouvido rumores: “Circulou uma mensagem que vão cobrar pau por aí em grandes cidades”.
A presença da facção na disputa pelo jogo do bicho na Capital já havia sido citada em fases anteriores da Successione. Segundo o Gaeco, o grupo MTS, liderado por Henrique Abraão Gonçalves da Silva — o “Macaulin” ou “Rico” — e vinculado ao PCC, movimentava cerca de R$ 5 milhões por mês entre 2021 e 2024. Em meio ao conflito, chegou-se a oferecer R$ 100 mil pela morte do líder do MTS, mas o plano não foi executado.
Henrique, apontado como braço direito de Marcola, foi denunciado por organização criminosa após a Operação Forasteiros. Ele está preso em Mato Grosso do Sul.
Já Roberto Razuk e seus filhos Rafael Godoy Razuk e Jorge Razuk Neto foram detidos no dia 25 de novembro. O Gaeco cumpriu 20 ordens de prisão e 27 mandados de busca em cidades do MS e também no Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul.
O nome da operação — “Successione”, em italiano — remete justamente à disputa pela sucessão do controle do jogo do bicho em Campo Grande.
Em nota, os advogados André Borges e João Arnar, que representam os Razuk, afirmaram que ainda não receberam oficialmente as informações sobre a nova fase da operação. A defesa destacou que ninguém pode ser considerado culpado antes do fim do processo, negou qualquer envolvimento da família em crimes e sustentou nunca ter sido ouvida sobre os fatos citados. Declarou ainda serem falsas as acusações de formação de organização criminosa, de disputa territorial com grupos de São Paulo e Goiás e de atos violentos.
A defesa concluiu dizendo que confia na Justiça e que todos os pontos serão esclarecidos no momento oportuno. Roberto Razuk cumpre prisão domiciliar.
