A quarta fase da Operação Sucessione levou à prisão de 20 pessoas e expôs a engrenagem de uma organização criminosa altamente estruturada, comandada pela família Razuk, de Dourados. A investigação do GAECO revela que o grupo operava num amplo espectro de crimes — de assaltos e corrupção à lavagem de dinheiro — e buscava consolidar o monopólio da jogatina ilegal em Mato Grosso do Sul, com planos de expansão para Goiás.
Autorizada pela juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna, a nova etapa aprofunda as descobertas da operação deflagrada em 2023 e mostra que, mesmo após fases anteriores, o grupo não só manteve as atividades como fortaleceu sua atuação, adotando práticas violentas e sofisticadas.
Segundo o MPMS, a reestruturação começou após o enfraquecimento de antigos rivais, como o grupo de Jamil Name Filho, desmontado na Operação Omertà. Com esse vácuo, o clã Razuk buscou assumir o controle das bancas de jogo do bicho em MS e se aliou à empresa paulista MTS, que havia ocupado parte do mercado após a queda da família Name.
A disputa desencadeou confrontos diretos: ao menos três ataques armados contra arrecadadores da concorrência foram registrados em plena luz do dia. Para os investigadores, isso evidenciou uma “guerra urbana” pelo monopólio da jogatina.
Hierarquia interna e conflitos familiares
O núcleo da organização girava em torno do patriarca, Roberto Razuk, descrito como o “chefe de liderança”, responsável pelas decisões estratégicas e pelo financiamento de ações jurídicas, inclusive na licitação bilionária da LOTESUL.
Os filhos desempenhavam funções distintas:
- Neno Razuk, deputado estadual e apontado nas fases anteriores como líder operacional, controlava ações diretas do esquema.
- Rafael Godoy Razuk, membro do núcleo principal, discordava das decisões do irmão e chegou a classificá-las como “equivocadas e inoportunas”, aumentando tensões internas.
- Jorge Razuk Neto chefiava a modernização do jogo. Ele desenvolveu uma plataforma digital — o site “apponline” — para ampliar o alcance das apostas e figurava como sócio da empresa de fachada Criativa Technology Ltda., usada na tentativa de entrar na disputa pela LOTESUL.
Plano de expansão para Goiás
Um dos elementos mais graves revelados pela investigação é o projeto de expansão para Goiás, onde o grupo pretendia enfrentar diretamente o domínio do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Segundo o GAECO, um investidor não identificado ofereceu R$ 30 milhões para financiar a tomada do jogo no estado vizinho.
A estratégia incluía a participação da Engepar Engenharia e Participações Ltda., empresa sul-mato-grossense indicada para atuar em licitações fraudulentas em Goiás, a pedido do investigado goiano Willian Ribeiro de Oliveira.
Outro personagem central revelado nesta fase é Rhiad Abdulahad, filho de José Eduardo Abdulahad, o Zeizo, envolvido nas primeiras fases da operação. Advogado, Rhiad teria ultrapassado as atribuições da profissão para exercer funções de comando, coordenando decisões sobre expansão e novas ramificações do esquema criminoso, com anuência do próprio pai.
Ao decretar as prisões, a juíza May Melke Siravegna ressaltou que os crimes seguem ocorrendo desde 2021 e que o grupo não demonstrou qualquer receio das operações anteriores.
A decisão destaca que as infrações vão desde contravenções do jogo do bicho até “crimes de homicídio qualificado”, sempre com o objetivo de manter o domínio do mercado ilegal e eliminar concorrentes.
Investigados e presos na 4ª fase da Sucessione
- ROBERTO RAZUK
- RAFAEL GODOY RAZUK
- JORGE RAZUK NETO
- SÉRGIO DONIZETE BALTAZAR
- FLAVIO HENRIQUE ESPÍNDOLA FIGUEIREDO
- JONATHAN GIMENEZ GRANCE (“CABEÇA”)
- SAMUEL OZÓRIO JÚNIOR
- ODAIR DA SILVA MACHADO (“GAÚCHO”)
- GERSON CHAHUAN TOBJI
- MARCO AURÉLIO HORTA
- ANDERSON LIMA GONÇALVES
- PAULO ROBERTO FRANCO FERREIRA
- ANDERSON ALBERTO GAUNA
- WILLIAN RIBEIRO DE OLIVEIRA
- MARCELO TADEU CABRAL
- FRANKLIN GANDRA BELGA
- JEAN CARDOSO CAVALINI
- PAULO DO CARMO SGRINHOLI
- WILLIAN AUGUSTO LOPES SGRINHOLI
- RHIAD ABDULAHAD

