Uma investigação do Grupo Especial de Combate à Corrupção (Gecoc) revelou o pagamento de R$ 265 mil em propina a oito vereadores de Sidrolândia, apelidados de “G8”, que faziam oposição à prefeita Vanda Camilo (PP) em 2022. Segundo o Ministério Público Estadual, o dinheiro teria origem nos R$ 5,4 milhões desviados do Hospital Dona Elmiria Silvério Barbosa.
O esquema veio à tona durante a Operação Dirty Pix, após os promotores rastrearem transferências bancárias feitas pelas empresas Farma Medical e Pharbox Distribuidora, contratadas para fornecer equipamentos hospitalares que nunca foram entregues.
As investigações conduzidas pelos promotores Bianka Mendes, Adriano Lobo Resende e Humberto Lapa Ferri mostram que: R$ 165 mil foram pagos diretamente às contas dos vereadores por meio de PIX, sem uso de intermediários; e R$ 100 mil chegaram aos parlamentares por meio de terceiros, usados para disfarçar a origem do dinheiro.
No total, R$ 582,5 mil teriam sido movimentados apenas para garantir os pagamentos ilícitos. O valor recebido pelos parlamentares era considerado um “salário extra”, já que o subsídio mensal em Sidrolândia é de R$ 10.128,90. Em alguns casos, vereadores chegaram a embolsar duas vezes esse valor, e um deles recebeu o equivalente a doze salários em apenas dois dias.
A quebra de sigilo bancário demonstrou que a Farma Medical realizava PIX diretamente para alguns vereadores. O maior beneficiado, segundo o MPE, foi Izaqueu de Souza Diniz, conhecido como Gabriel Autocar (PSD): R$ 100 mil repassados à empresa do vereador em 27 de outubro de 2022; e R$ 20 mil enviados à sua conta pessoal no dia seguinte.
Outro núcleo identificado na investigação foi o de Júlio César Alves da Silva, apontado como figura influente na política local. A empresa teria transferido R$ 482,5 mil para ele, que usou contas de familiares — a esposa Adriele Nogueira Trelha e a filha Júlia Carla do Nascimento — para distribuir a propina.
Somente no dia 28 de outubro de 2022, Farma Medical e Pharbox enviaram quatro repasses que totalizaram os R$ 482,5 mil. No dia 1º de novembro, Júlio transferiu R$ 50 mil para a filha, que repassou R$ 70 mil aos vereadores.
Quanto cada vereador recebeu
Segundo o Ministério Público, estes foram os repasses identificados:
Izaqueu de Souza Diniz (PSD) – R$ 120 mil
Cledinaldo Cotócio (PSDB) – R$ 30 mil
Cleyton Martins Teixeira (MDB) – R$ 25 mil
Adavilton Brandão (MDB) – R$ 20 mil
Ademir Gabardo (Republicanos) – R$ 25 mil
Cristina Fiúza (MDB) – R$ 20 mil
Enelvo Felini Junior (PSDB) – R$ 20 mil
Eliel da Silva (PSDB) – R$ 5 mil
Também foi rastreado um PIX de R$ 20 mil para Adriana Zarati Franco Brandão, esposa do vereador Adavilton Brandão. Além disso, Júlio César Alves da Silva teria realizado pagamentos adicionais de R$ 5 mil para os vereadores Cleyton, Gabardo e Cotócio.
O esquema estaria ligado ao contrato firmado com a Farma Medical, de Manaus (AM), contratada para fornecer uma ressonância magnética e uma autoclave. A cidade aguardava os equipamentos havia mais de dez anos — mas, segundo o Ministério Público, apesar de receber R$ 5,4 milhões, a empresa não entregou nada.
Na representação encaminhada à Justiça, os promotores destacaram um discurso do vereador Ademir Gabardo agradecendo “intervenções divinas” que teriam permitido o repasse de recursos ao hospital:
“O hospital inicia uma nova era, um milagre, ou Deus está atuando. É muito importante”, disse ele à época, citando esforços de autoridades para obter os R$ 7,4 milhões destinados à compra dos equipamentos. Para o Ministério Público, enquanto discursava, a propina já havia sido paga por meio de PIX.
