As investigações da Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo) revelaram que o esquema de bebidas clandestinas desmontado durante a “Operação Metanol” e que culminou com o fechamento da Indústria e Comércio de Bebidas Terenos, em Terenos (MS), abastecia as atléticas das universidades de Campo Grande (MS).
Conforme a Decon, as atléticas universitárias, que são organizações estudantis de universidades e faculdades responsáveis por promover a integração dos acadêmicos através de esportes, eventos sociais e atividades culturais, recebiam da fábrica até R$ 0,60 por garrafa de bebidas alcoólicas devolvidas após as famosas festas promovidas pelos universitários.
A empresa investigada mantinha um sistema de devolução de vasilhames e vendia grandes quantidades de vodka e gin para essas festas universitárias em transações feitas exclusivamente por Pix ou dinheiro.
Segundo um ex-presidente de atlética da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), de 23 anos, o fornecedor era conhecido entre as atléticas por oferecer preços abaixo do mercado. O fardo com seis garrafas custava R$ 45, e cada garrafa devolvida rendia R$ 0,60, o equivalente a R$ 3,60 por fardo. O valor era pago após os eventos, reduzindo ainda mais o custo das compras.
O estudante contou que o contato do empresário circulava entre as atléticas e que comprar dele era algo comum. As negociações eram sempre em dinheiro vivo ou Pix, já que o fornecedor não aceitava cartão. Em pelo menos duas ocasiões, as compras ultrapassaram 50 fardos.
Uma nota fiscal obtida pela reportagem mostra que, na última calourada da UFMS, que reuniu cerca de 2,3 mil jovens em março deste ano, a empresa vendeu 47 fardos de vodka por R$ 1.974,00 à vista. Após a festa, as garrafas foram recolhidas e o valor dos vasilhames foi devolvido ao organizador.
A Indústria e Comércio de Bebidas Terenos foi interditada pelo Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) e funcionava de forma irregular desde 2023. No local, os fiscais encontraram garrafas lavadas com detergente comum, rótulos falsificados e produtos químicos usados para alterar cor, sabor e aparência das bebidas.
Durante a vistoria, também foram apreendidos rótulos com o nome “Shirlof”, tampas plásticas que imitavam marcas conhecidas, compostos químicos, ácido cítrico e oito garrafas prontas para consumo sobre a esteira de embalagem. As garrafas recicladas eram lavadas e reutilizadas sem qualquer controle sanitário.
O proprietário da Indústria e Comércio de Bebidas Terenos, Márcio Roberto Veron, foi preso em flagrante suspeito de crime contra as relações de consumo. Segundo a Decon, bebidas produzidas fora dos padrões podem conter metanol, substância tóxica que causa cegueira, falência de órgãos e até a morte.
A defesa, representada pela advogada Talita Dourado Aquino, afirmou que o local não produzia bebidas desde 2020 e funcionava apenas para armazenar embalagens. Segundo ela, o empresário foi surpreendido durante a fiscalização e os materiais apreendidos ainda serão periciados. Até o momento, a defesa sustenta que não há comprovação de fabricação no local.
As investigações agora buscam rastrear a origem do álcool e os canais de distribuição usados pelo grupo, que incluíam festas estudantis e eventos particulares em Campo Grande. Com informações do site Campo Grande News
