O inferno astral do deputado estadual João Henrique Catan (PL), que é bolsonarista fervoroso, parece que começou e, pelo jeito, não deve acabar tão cedo. Depois de ter na quarta-feira (10) recusado pela Justiça um pedido de direito de resposta no Correio do Estado e, na quinta-feira (11), assistir pela televisão a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a mais de 27 anos de prisão em regime fechado, ontem (12) foi a vez do “nobre” parlamentar sofrer um novo revés público.
A Polícia Federal prendeu dois dos principais responsáveis por lesar milhares de aposentados e pensionistas em todo o País por meio das fraudes no INSS (Instituto Nacional de Seguro Social), que provocaram mais de R$ 6 bilhões de reais em prejuízos a mais de 9 milhões de pessoas. São eles Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”, e o empresário Maurício Camisotti, dono da Prevident Assistência Odontológica S/A, um dos pivôs das fraudes sob investigação.
As prisões aconteceram no âmbito da nova fase da “Operação Sem Desconto”, batizada de “Operação Cambota”, que investiga fraudes em descontos de aposentados e pensionistas. Além dos dois mandados de prisão preventiva, também foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão, autorizados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no estado de São Paulo e no Distrito Federal.
Para quem não sabe, a Prevident Assistência Odontológica S/A tinha contratos em Mato Grosso do Sul e até um defensor para todas as horas: o deputado estadual bolsonarista João Henrique Catan. Na manhã de 17 de setembro de 2024, em discurso acalorado no plenário da Assembleia Legislativa, ele se manifestou cobrando a instalação da CPI da Cassems para apurar “falcatruas” que, segundo ele, estariam acontecendo na entidade por ter encerrado o contrato com a Prevident.
Na ocasião, Catan chegou a pedir a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o real motivo de a Cassems encerrar o contrato com uma “empresa” tão séria quanto a Prevident. Ele alegou que um dos problemas que estaria ocorrendo, na época, seria a suspensão dos serviços de odontologia prestados aos servidores públicos estaduais beneficiários do plano de saúde da Cassems, oferecidos pela conveniada Suda Odonto, por meio da Prevident Assistência Odontológica S.A.
No plenário da Assembleia Legislativa, Henrique Catan criticou com veemência o fato de a Suda Odonto ter rescindido o contrato com a Prevident, argumentando que “os servidores e o Estado seriam prejudicados em função da rescisão”. “A empresa Prevident, que é uma empresa séria, tem mais de 37 anos no mercado, 20 mil dentistas, um 1,2 milhão de usuários e beneficiários, cancelou o contrato com essa empresa Suda, suspendeu todos os atendimentos, inclusive dentro da Rede Cassems”, disse.
Fato é que não houve qualquer prejuízo aos servidores e muito menos ao Governo do Estado. O “alerta” do deputado João Henrique Catan caiu no esquecimento e a Cassems continuou oferecendo serviços odontológicos de qualidade aos seus milhares de beneficiários. Por sua vez, a empresa séria Prevident, conforme adjetivada pelo parlamentar, oito meses depois ficou conhecida em todo o País ao figurar no noticiário policial como um dos pivôs das fraudes no INSS, que tungaram em mais de R$ 6,2 bilhões o bolso de cerca de 9 milhões de aposentados.
O escândalo do INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023. Três meses depois, o portal mostrou que a arrecadação das entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, enquanto as associações respondiam a milhares de processos por fraude nas filiações de segurados.