Depois de quase três anos na gestão estadual, o PT de Mato Grosso do Sul pode deixar a base do governo depois que o governador Eduardo Riedel (PSDB), diretamente da Ásia, criticou publicamente a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A fala do governador, feita em suas redes sociais, foi interpretada pela sigla como um alinhamento com pautas e posturas da extrema direita, o que rompe com os princípios acordados entre as partes desde o segundo turno das eleições de 2022, quando os petistas declararam apoio a Riedel por considerá-lo um representante da centro-direita “sensata e democrática”.
De acordo com o presidente estadual do PT, deputado federal Vander Loubet, o teor das mensagens de Riedel aproxima o governador de pautas antidemocráticas e dificulta a manutenção do acordo que levou o partido a compor o governo.
“No 2º turno das eleições de 2022, o PT declarou apoio público a Riedel por considerar que o governador representava uma centro-direita sensata e democrática. Porém, as recentes declarações e notas oficiais do governador com mensagens que identificam fidelidade ao extremismo de direita — como os ataques ao STF, a defesa cega de Jair Bolsonaro e o apoio à chantagem retaliatória do Donald Trump tornam difícil a manutenção desse acordo. Entramos no governo estadual pela porta da frente e, se tivermos que sair, também será pela porta da frente, algo que acontece quando as diferenças se tornam inconciliáveis. Convocamos uma reunião no PT-MS para segunda-feira com nossos parlamentares e lideranças e vamos discutir essa saída”, disse.
O dirigente destacou a atuação do partido dentro da gestão estadual e o apoio contínuo do governo federal a Mato Grosso do Sul, inclusive em administrações municipais de oposição. “Demos ao governo estadual a nossa contribuição, atuando e melhorando o desempenho das políticas públicas de fomento à agricultura familiar. E até em Campo Grande, uma gestão de direita, o governo Lula está presente, com 95% dos investimentos que a cidade tem”, declarou.
Durante a sessão ordinária da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems), na manhã de ontem (6), os deputados estaduais do PT, Pedro Kemp e Gleice Jane, criticaram as manifestações em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro e também sinalizaram “dar as costas” para a atual gestão.
“Eu não poderia deixar de comentar o que houve ontem no Congresso Nacional, um protesto contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, deputados e senadores que o apoiam, ocuparam as Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, impedindo que as sessões fossem abertas e a votação de projetos importantes para o País, como o que isenta do pagamento do Imposto de Renda de Pessoa Física [IRPF] para quem ganha até R$ 5 mil e outros projetos importantes para a economia do País”, registrou Pedro Kemp.
O deputado também comentou na sessão sobre o tarifaço imposto sobre as exportações brasileiras pelo presidente dos Estados Unidos que começou ontem. “Hoje (ontem) entrou em vigor o tarifaço em cima de uma série de produtos, e vai prejudicar o agronegócio. Me causou estranheza a manifestação do ex-governador Reinaldo Azambuja e do governador Eduardo Riedel pelo que vem acontecendo no País. É lamentável quando os ataques à economia do Brasil e as afrontas ao Poder Judiciário não são condenados. Bolsonaro antecipou sua prisão porque deliberadamente não cumpriu as medidas cautelares”, discursou.
Por sua vez, Gleice Jane também se pronunciou sobre as falas de Riedel e disse que a manutenção dos petistas na base de governo “não é saudável para a democracia”. “Quero lembrar que é necessário fazer um grande debate nesse Estado e continuar nesse Governo não é saudável para a democracia, o País. Porque não é primeira vez que o Governo Riedel se manifesta dessa forma, mais que urgente que o Partido dos Trabalhadores e Trabalhadoras tome essa decisão. Bolsonaro está sendo condenado em prisão domiciliar para garantir que as investigações sejam feitas. Também me admirei com o movimento de domingo em que a bandeira americana esteve acima da brasileira, não podemos ser um país subserviente, temos que ter muita seriedade nesse processo”, ressaltou.
A saída dos petistas do governo estadual poderá representar uma mudança significativa no equilíbrio político de Mato Grosso do Sul, fim de uma aliança que, até então, era considerada estratégica para ambos os lados. A sigla tem uma reunião marcada para segunda-feira (12) e deve definir os próximos passos da legenda no estado, selando oficialmente o rompimento entre o partido e o governo tucano.
Atualmente, o governo estadual conta com dois petistas em sua composição. Em janeiro de 2023, Washington Willeman de Souza foi nomeado titular da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), órgão responsável por fomentar a agricultura familiar no estado. Além dele, Viviane Luiza da Silva ocupa a SEC (Secretaria Estadual da Cidadania), uma das pastas mais importantes na gestão social do governo estadual, responsável por oito subsecretarias.