O inquérito da Polícia Federal contra o plano de tentativa de golpe de Estado que se tornou público ontem (26) revelou que o presidente do PL em Mato Grosso do Sul, o suplente de senador Aparecido Andrade Portela, o “Tente Portela”, teria sido o articulador do crime no Estado.
Ele é um fiel escudeiro do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desde a década de 70, quando serviram juntos no quartel do Exército em Nioaque (MS). A ligação de ambos é tão forte que foi o próprio Bolsonaro que o indicou para ser o primeiro suplente da senadora Tereza Cristina (PP-MS).
No relatório da PF, que teve o sigilo retirado por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), o Tenente Portela tem um capítulo só para ele. O documento contém vários diálogos entre Tenente Portela e o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, elemento central da investigação, tramando um golpe ou discutindo as manifestações do dia 8 de janeiro de 2023 na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF), demonstrando preocupação com o dia seguinte e com as investigações.
“Os elementos de prova indicam que PORTELA atuou como um intermediário entre o governo do presidente JAIR BOLSONARO e financiadores das manifestações antidemocráticas residentes no estado do Mato Grosso do Sul. No final do ano, PORTELA era um frequentador assíduo do Palácio da Alvorada, visitando o então presidente da República constantemente”, afirmou a PF.
Nos diálogos interceptados entre Tenente Portela e Mauro Cid, ele cobra o então ajudante de ordens de Bolsonaro sobre a “realização de um churrasco”. Segundo a PF, o churrasco era um codinome usado para se referir ao golpe de Estado. “O pessoal que colaborou com a carne está me cobrando se vai ser feito mesmo o churrasco”, disse Portela a Cid. “Pois estão colocando em dúvida a minha solicitação”, complementou.
Em resposta, Mauro Cid foi rápido: “Vai sim, ponto de honra, nada está acabado ainda nesta parte”, afirmou o coronel, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
Cobrado insistentemente pelos colaboradores do acampamento localizado em Campo Grande, em frente ao Comando Militar do Oeste (CMO), Portela recebeu apoio de Cid. “Se quiser, eu falo com eles para tirar da sua conta”, garantiu Mauro Cid. Naquela altura, Portela vinha sendo pressionado por patrocinadores — empresários e proprietários rurais — por uma solução de ruptura institucional.
Portela imediatamente concordou: “Se eles vierem aqui em casa, eu ligo para viva vós [sic]”, respondeu, indicando que faria uma ligação em viva-voz ou mesmo uma chamada de vídeo. A PF lembra que Aparecido Portela é amigo próximo de Jair Bolsonaro desde o período em que ambos serviram em Nioaque. Nas eleições municipais, a filha de Portela, Ana Portela, foi eleita vereadora em Campo Grande pelo PL.