Empresa de pai que teve filho executado a mando de Jamilzinho comprava dados de motoristas

A empresa Poup Tempo Consultoria de Trânsito Ltda., de Sarandi (PR), de propriedade do ex-capitão PM Paulo Roberto Teixeira Xavier, o “PX”, que teve o filho executado em seu lugar a mando de Jamil Name Filho, o “Jamilzinho”, em Campo Grande (MS), estaria envolvida no esquema de obtenção de informações sigilosas sobre condutores multados ou com outro embaraço no Detran-PR (Departamento Estadual de Trânsito do Paraná).

 

Durante a “Operação Money Poup”, deflagrada quarta-feira (11) pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) do Paraná, PX foi preso em flagrante, em sua própria residência, por porte ilegal de munições e carregador de pistola 9 milímetros.

 

No caso dele, a 2ª Vara Criminal de Maringá tinha expedido mandado de monitoramento por tornozeleira eletrônica, mas a prisão ocorreu por conta da “pequena quantidade de munições e carregador de pistola 9 milímetros”.

 

A operação investiga crimes de associação criminosa, corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, falsificação de documento público e lavagem de bens, direitos e valores.

 

O promotor de Justiça Marcelo Alessandro Gobbato disse que a operação tinha como alvo cinco pessoas jurídicas e sete pessoas físicas que estariam envolvidas no esquema de venda de informações privilegiadas. O montante levantado pelos investigados no esquema ainda está sendo contabilizado.

 

Conforme informações do Gaeco, a investigação começou em março de 2023, quando o grupo recebeu informações do esquema por parte de servidores do Detran-PR em favor de um despachante. A partir daí, foram identificados outros envolvidos.

 

A reportagem apurou que a empresa de PX estaria na lista e receberia as informações de servidores da Ciretran. Aberta em 29 de agosto de 2022, a Poup Tempo Consultoria de Trânsito Ltda. tem capital social de R$ 100 mil e como atividade a “preparação de documentos e serviços especializados de apoio administrativo não especificados anteriormente”.

 

Com acesso a dados de condutores de veículos, os servidores vendiam as informações para despachantes, duas clínicas de exames toxicológicos e uma empresa de placas. Há suspeita de que algumas empresas foram criadas pelos próprios servidores investigados.

 

Um dos exemplos de uso dessas informações, por exemplo, é de um condutor que tenha sido multado. A pessoa tinha seus dados pessoais e sigilosos compartilhados do banco de dados do Detran a um despachante, como seria o caso de PX, que ligava para o multado, oferecendo serviços para se livrar das autuações administrativas.

 

PX deixou Campo Grande após a morte do filho, o acadêmico de Direito Matheus Coutinho Xavier, executado em 2019 a mando de Jamilzinho, sendo que na verdade o alvo seria o ex-capitão PM. O assassinato do rapaz foi o fio condutor da “Operação Omertà”, que investigou a ação de milícia comandada por Jamil Name e Jamilzinho, sendo que o primeiro morreu vítima de Covid-19 e o segundo foi condenado pelo crime em julho do ano passado.