Durante a primeira fase da ação, em 4 de dezembro de 2023, foi aprendido bilhete na casa do ex-assessor do deputado estadual, o major PM reformado Gilberto Luiz dos Santos, com anotações com três nomes que deveriam “pular”, expressão usada comumente no meio policial para se referir a execuções, assim como “empurrar”, tanto que aparecem escritas entre parênteses.
O documento não fala na razão da necessidade de tais assassinatos, cujos alvos foram denominados pelo major como “Betinho”, “Joel” e “Déa”, porém, nenhum foi identificado pelo Gaeco até o momento. “Há de se reconhecer o cenário de guerra entre organizações criminosas causado pelas ações dos investigados, sendo esperado que, se mantidos em liberdade, as ações se intensifiquem e terminem em assassinatos”, citou documento do grupo em 28 de dezembro do ano passado, dias antes da deflagração da terceira fase da “Operação Successione”, em 2 de janeiro deste ano.
O mesmo pedido de prisão e busca apreensão cita diversas vezes Neno Razuk como líder da organização que “tem apostado na prática de roubos para cooptar ‘recolhes’ do jogo do bicho vinculadas a outros grupos criminosos, não podendo ser descartada a possibilidade de escalada dessas ações para homicídios na hipótese de ineficiência dessas medidas”.
A descoberta do esquema para monopolizar o jogo do bicho em Campo Grande e no restante de Mato Grosso do Sul começou com três roubos de malotes de motociclistas que faziam o recolhimento das apostas feitas nas bancas da Capital, dominada pelo grupo do Rio de Janeiro, MTS.
As vítimas, depois identificadas como falsas vítimas, uma vez que os assaltos teriam sido forjados, aceitaram a “encenação” para forçar a própria saída do MTS por insegurança e então migrarem para a organização de Neno Razuk.
O Gaeco enfatizou ainda no documento que, diante disso, “o comportamento inspira respostas violentas por parte de outros grupos criminosos, prenunciando riscos concretos à segurança pública da sociedade sul-mato-grossense”.
O quarto alvo de possível assassinato não executado era “Macaule”, também não identificado oficialmente na investigação. Neste caso, a morte dele era esperada para que houvesse a ampliação dos pontos de jogo do bicho em Campo Grande. Isso, mesmo depois da apreensão pelo Garras (Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) de 700 máquinas do jogo em casa no bairro Monte Castelo, em outubro do ano passado.
“Consta dos diálogos dos denunciados Diogo Francisco (“Barone”) e Mateus Júnior Aquino que, ao menos até a data da conversa (dia 23.11.2023), era aguardada notícia do denunciado José Eduardo Abdulahad (“Zeizo”, “Zenzo” e/ou “Z”) acerca do assassinato de “Macaule” (não identificado), pessoa até então caçada pela organização criminosa”, citou o Gaeco.
A transcrição mostra Mateus dizendo a Diogo que “Z” “deve estar resolvendo alguma coisa importante né?”, desejando que tal “coisa” poderia ser “pegar esse tal de Macaule, e sumir com ele”. O mesmo Mateus afirma que isso seria uma coisa “maravilhosa, a notícia do ano, a hora que ele der essa notícia aí, eu vou soltar fogos”.
Conforme as interceptações do Gaeco, a ampliação dos pontos “estava condicionada à prática de outra ação violenta pela organização criminosa” e revela, em seguida, o desejo que o tal Macaule fosse assassinado.
A expectativa era que os novos pontos passassem a funcionar entre 24 e 25 de novembro. A apreensão do Garras aconteceu em 16 de outubro do ano passado. Haviam estocadas cerca de 800 máquinas de jogo do bicho com o grupo, fora as 700 apreendidas em outubro. As 800 também serviriam para ampliar os pontos em cidades da região sul do Estado.
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