O site do Correio do Estado publicou neste sábado que o chefão da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), Marcos Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, pode ter sido transferido para o Presídio Federal de Campo Grande na manhã de ontem (21).
Segundo apuração do jornal, a Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais) não confirmou, mas também não negou que “Marcola” foi trazido para Campo Grande.
A equipe do Correio do Estado flagrou o momento da chegada de um homem muito parecido com “Marcola”. A operação foi feita sob sigilo absoluto para possibilitar um esquema de segurança até discreto para uma suposta transferência do chefão máximo do PCC.
Os policiais penitenciários federais foram flagrados armados com fuzis e utilizando três viaturas para buscar o presidiário no Aeroporto Internacional de Campo Grande e levá-lo para o Presídio Federal localizado às margens do anel viário, próximo ao aterro sanitário.
Ao perceberem que estavam sendo fotografados, um dos agentes aproximou-se da tela da pista de pouso, na Avenida Duque de Caxias, fez imagem do crachá do fotógrafo do Correio do Estado, informou que a operação era sigilosa e solicitou que o profissional parasse de fotografar, recusando-se a informar o nome do presidiário.
Não foi possível confirmar se o detento foi transferido em voo comercial, mas naquele horário, por volta das 10h50, tiveram dois pousos procedentes de São Paulo. Em contato com a Senappen, foram solicitadas informações se era mesmo “Marcola” ou se era outro presidiário, porém, não obteve sucesso.
A resposta, que chegou somente seis horas depois da solicitação, foi lacônica: “A movimentação dos internos é parte da rotina de segurança das unidades prisionais e a SENAPPEN não informa localização dos presos nem detalhes dessas operações”.
Na resposta a Senappen ainda complementou que “registre-se que isolar as lideranças das organizações criminosas, que é o primeiro passo no processo da desarticulação das facções, vai além da simples criação de barreiras físicas, uma vez que devem ser tomadas todas as medidas para desconstituir a própria personalidade de influência delitiva do líder”.
“Neste contexto, divulgar informações sobre remoções de um personagem de notória liderança nacional no mundo do crime nada contribui para a desarticulação de suas ações criminosas”, finalizou.
O Correio do Estado ainda recorreu a várias ferramentas de inteligência artificial para reconhecimento de imagens e o resultado na maioria das comparações foi de que a imagem se tratava realmente de “Marcola”. O sistema penitenciário federal brasileiro conta com cinco unidades prisionais, com pouco mais de 1 mil vagas: 208 em cada uma delas.
A média de ocupação raramente passa dos 70%. Neste universo muito limitado de detentos, ainda que não impossível, seria difícil a existência de dois presidiários muito semelhantes fisicamente.
Marcola está no sistema penitenciário federal desde fevereiro de 2019. Inicialmente foi levado para Porto Velho, em Rondônia, depois foi transferido para a unidade de Brasília (DF) e em março do ano passado voltou a ser levado para Porto Velho. Todas as transferências ocorreram em meio a fortes esquemas de segurança e até alarde.
Em 23 de janeiro deste ano, foi levado sob forte esquema de segurança do presídio federal de Porto Velho para a penitenciária federal de Brasília. A transferência do chefe do crime organizado ao sistema penitenciário federal chegou a ser tema de debate entre os candidatos à presidência Bolsonaro e Lula, no ano passado.
Bolsonaro insinuou que o PT tinha ligação com o PCC e por isso o chefão da facção nunca fora retirado dos presídios paulistas e isolado no sistema federal. Lula, por sua vez, respondeu que a transferência somente havia sido possível porque em sua primeira gestão mandou construir estes presídios.
A suposta transferência de Marcola para Campo Grande ocorreu um dia depois de uma operação que prendeu quase duas mil pessoas supostamente ligadas ao PCC em São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Essa megaoperação do dia anterior contra a facção criminosa mobilizou cerca de 15 policiais civis e militares de cinco estados.
O presídio de Campo Grande, onde ainda estava Jamil Name Filho até esta sexta-feira, já abrigou detentos como Fernandinho Beira-Mar, o traficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadia, Elias Maluco, traficante condenado pela morte do jornalista Tim Lopes, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, que também foi condenado por narcotráfico pela justiça do Rio de Janeiro.
Atualmente, abriga Ronnie Lessa, preso por envolvimento com milícias do Rio e investigado pelo assassinato da vereadora Marielle Franco, e também Adélio Bispo, preso desde setembro de 2018 por ter esfaqueado o então candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PL).
O ex-policial João Arcanjo Ribeiro, o “Comendador”, que durante décadas imperou e acumulou fortuna no estado vizinho de Mato Grosso, foi outro “visitante ilustre” do presídio federal de Campo Grande, que tem capacidade para abrigar 208 internos e funciona desde dezembro de 2006.