Ex-capitão PM, pai de acadêmico de Direito executado por engano diz estar pronto para encarar Jamilzinho

O ex-capitão PM Paulo Roberto Teixeira Xavier, o “PX”, pai do acadêmico de Direito, Matheus Coutinho Xavier, que foi fuzilado com tiros de fuzil AK-47 no dia 9 de abril de 2019, disse está preparado para encarar de frente o empresário campo-grandense Jamil Name Filho, o “Jamilzinho”, apontado como mandante da execução, no júri popular marcado para a próxima segunda-feira (17).

 

“Queria muito acordar… Isso aqui foi só um pesadelo e pronto”, disse PX, revelando que vive em um “looping” dos minutos que levou para percorrer os cerca de 5 quilômetros do trajeto entre a casa onde morava com os filhos, no Jardim Bela Vista, em Campo Grande (MS), e a Santa Casa, onde o filho receberia os primeiros-socorros.

 

Em entrevista ao site Campo Grande News, ele disse que até perde a noção do tempo. “Minha vida é trabalhar, trabalhar, trabalhar para ocupar a cabeça”, revelou PX, que seria o verdadeiro alvo dos pistoleiros e agora vai encontrar o mandante do crime, bem como os comparsas, o ex-guarda municipal Marcelo Rios e o policial civil aposentado Vladenilson Daniel Olmedo, que seriam os “gerentes” da milícia armada desmanchada pela “Operação Omertà”.

 

De camisa e blazer bem passados, ele disse que se lembrava com orgulho da curta trajetória do filho e que, nos últimos quatro anos, não se deu a chance de viver o luto em sua totalidade. “Primeiro quero resolver isso daqui”, define, sobre a guerra que travou, desde que recebeu a notícia de morte do garoto, para ver os culpados punidos pelo crime.

 

PX lembrou-se, como se fosse hoje, daquele comecinho de noite. Conta que estudava na sala de casa, como de costume. Policial reformado aos 47 anos, ele pretendia passar em concurso público.

 

“Achei que era rojão, porque estava com fones de ouvido. Saí e vi meu filho todo ensanguentado. O coloquei no banco de trás e saí em direção à Santa Casa, passei por cima de canteiros na Afonso Pena e na Mato Grosso. Meu filho respirando e eu conversando com meu filho. Falando que o amava, que a gente estava indo para o hospital, para ele aguentar, para ele não se entregar. Eu ouvi os últimos gemidos do meu filho. Gemia e tentava respirar”, descreveu

 

Ele conta que a notícia devastadora chegou em minutos. “Quando cheguei lá, ele ainda respirava. Levaram lá pra dentro e daqui a pouco, veio a psicóloga. Aí… veio a psicóloga…”, se recorda, sem evitar a emoção. Para o pai, não é clichê revelar que aqueles minutos no trânsito e na porta do pronto-socorro pareceram uma eternidade. “E eu vivo isso até hoje”, completou.

 

“A vida da mãe do Matheus acabou. Chora o tempo todo, tem depressão profunda. Todos eles fazem tratamento psicológico”, também conta sobre o trauma que a partida trágica deixou para a família.

 

Além do terror de ver a vida do filho escapando entre os dedos, PX convive há pouco mais de 1,5 mil dias com a saudade, “que só aumenta”, diz. Algumas vezes, tem até dificuldade de se referir a Matheus no pretérito. “Ele conseguia reunir todas as tribos. Um menino único, de coração bom, maravilhoso. Eu me dava e ainda me dou (não entendo como ele partiu) muito bem com meu filho. Todos os dias eu sinto falta”.

 

O jovem universitário deixou boas lembranças, do companheirismo e bom humor. “Meu filho, meu amado filho. Morava comigo. Meu amigo, meu parceiro. A gente jogava xadrez juntos, estudávamos juntos e era muito gostoso. Meu parceiro de estudo, de carreira, de assistir filmes. Gostava de achar os erros em filmagens. Quanto mais ridículo o filme, mais ele gostava”.

 

Acadêmico do 2ª ano de Direito, Matheus Xavier sonhava em ser promotor de Justiça. O sonho do estudante era estar num Tribunal do Júri, como o que acontecerá nos próximos dias, lembra o pai. “Ele tinha muita eloquência, era um menino inteligente, bem relacionado. Queria ser promotor e olha onde ele vai ser citado, num júri”.

 

Ainda buscando explicações impossíveis para o destino do filho, Xavier fala em missão. Para o policial aposentado, a execução do jovem foi a derrocada da família que, por quatro décadas, mandou e desmandou em Mato Grosso do Sul.

 

“Não me resta outra coisa a não ser acreditar numa permissão divina, para acontecer isso com ele, para que o Estado pudesse mudar para melhor e para que outros pais e mães não chorassem sobre o túmulo de seus filhos, como aconteceu conosco”, afirmou PX.