Uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, revelou, na noite de ontem (19), que o ex-major PM Sérgio Roberto de Carvalho, mais conhecido como “Major Carvalho” e batizado de “Escobar Brasileiro” em referência ao narcotraficante colombiano Pablo Escobar, pretendi enviar para a Europa 350 quilos de cocaína em contêineres de um navio que seguiria do Porto de Guarapari para o porto de Le Havre, na França.
Preso na Hungria desde o ano passado, o criminoso sul-mato-grossense, conforme a Polícia Federal, até ser detido, tinha enviado para a Europa 50 toneladas de cocaína ao longo de cinco anos. Além de aviões, o esquema do Pablo Escobar brasileiro também usava navios e, em um telefonema monitorado pelos investigadores da PF, Major Carvalho fala sobre o risco de a carga de cocaína ser descoberta.
“Vai daí direto pra Europa, são 13 dias. E o outro vai demorar 30 dias, ainda vai ficar parado no Rio de Janeiro, um tempão pros cachorros ficar cheirando lá”, disse Major Carvalho em conversa ao telefone com o comparsa Rodrigo Rodrigues Boeira, o “Xiru”. Em outubro de 2021, a Polícia Civil do Espírito Santo apreendeu um caminhão, em Cachoeiro do Itapemirim, no sul do estado, que transportava 350 quilos de cocaína.
A Polícia Federal assumiu a investigação e descobriu que o plano da quadrilha era esconder a droga em placas de granito. A carga seria colocada em contêineres e seguiria do Porto de Guarapari para o porto de Le Havre, na França. “Chamou atenção, no decorrer das investigações, foi uma nota fiscal que nós encontramos da aquisição de um fuzil calibre 762 mm. Essa arma foi comprada por um dos integrantes do grupo, que tinha contato direto com o Major Carvalho, que era a liderança do grupo no Brasil”, afirmou Victor dos Santos Baptista, chefe da delegacia de repressão a drogas da PF do Espírito Santo.
Quem tinha contato direto com o Major Carvalho era Xiru, o homem do telefonema. Ele e mais quatro traficantes foram presos em fevereiro na “Operação Chapa Branca”. A Polícia Federal descobriu 18 armas com os acusados, 17 delas compradas legalmente, e seis, inclusive um fuzil, estavam com “Xiru”. São armas que normalmente são usadas pelas Forças Armadas e por unidades especializadas das polícias civil, militar e federal. Um fuzil como esse pode atingir um alvo a mais de um quilômetro de distância.
Quem é Major Carvalho
Sérgio Roberto de Carvalho, o ex-major da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul que foi preso na Hungria no dia 21 de junho de 2022 sob acusação de tráfico de drogas já tem condenações na Justiça brasileira. Ele foi para a reserva da PM em 1997. Um ano depois, foi condenado a mais de 15 anos de prisão pelo tráfico de cerca de 230 quilos de cocaína. O ex-PM sofreu também um processo para a perda do posto e da patente.
Ele foi demitido da PM de Mato Grosso do Sul apenas em 2018. O Major Carvalho comanda uma organização criminosa internacional, segundo a Polícia Federal: o grupo dele envia drogas de portos brasileiros (principalmente o de Paranaguá e o de Natal) para Europa, África e Ásia. A quadrilha faz diversas ações para levar cocaína para outros países. Uma parte dessas tentativas de exportação de droga é descoberta pela polícia, mas mesmo os agentes afirmam que o Major Carvalho consegue vender certa quantidade de droga.
Na Europa, o ex-major se escondia com uma identidade falsa: ele fingia que era um empresário do Suriname chamado Paul Wouter. Vivia em uma mansão avaliada em 2 milhões de euros na cidade de Marbella, no sul da Espanha. Em agosto de 2020, a polícia da Espanha o prendeu por suspeitar que ele tinha levado cocaína para a Europa em um barco, mas sem saber que o homem, na verdade, era o brasileiro Major Carvalho. Foi detido como se fosse Paul Wouter.
O brasileiro pagou fiança e foi solto. Para não ter que comparecer a um tribunal de Justiça, enviou um atestado de óbito de Paul Wouter e inventou que o personagem que ele havia criado tinha morrido de Covid-19. Depois disso, as autoridades brasileiras alertaram que o homem, na verdade, não era do Suriname e nem tinha esse nome.
Quando as agências de segurança europeias foram avisadas, começaram a fazer buscas em imóveis das empresas do Major Carvalho. Em uma dessas buscas, em Portugal, foram achados 12 milhões de euros. O brasileiro, no entanto, estava foragido. Não se sabia qual era seu paradeiro até a prisão na Hungria.
Sérgio tem cerca de R$ 1,3 milhão a receber de aposentadoria pela Polícia Militar em Mato Grosso do Sul. O ex-PM sofreu um processo para a perda do posto e da patente e, em junho de 2010, teve a aposentadoria suspensa. Em outubro de 2016, porém, o desembargador Claudionor Miguel Duarte mandou a Agência de Previdência do Mato Grosso do Sul voltar a pagar a aposentadoria ao ex-major, sob pena de crime de desobediência.
A alegação é de que a condenação do ex-PM veio depois de ele ter sido transferido para a reserva remunerada. Os advogados do major Carvalho querem que a agência pague a ele R$ 1,3 milhão pelos 6 anos que ele não recebeu o benefício.