Mato Grosso do Sul transformou-se em rota para o tráfico de cocaína no Brasil e as apreensões recordes dos últimos três anos confirmam essa triste situação. Para se ter uma ideia, em apenas 40 dias deste ano, apenas o DOF (Departamento de Operações de Fronteira) já conseguiu apreender 494,4 quilos da droga, quantidade 246% maior que a do mesmo período de 2021, ano em que foram encontradas duas vezes mais porções da droga do que em 2020.
Além disso, os policiais da corporação também encontraram mais 525 quilos de pasta base, droga que no ano passado não tinha sido apreendida nos primeiros 40 dias do ano. De acordo com o comandante do DOF, coronel Wagner Ferreira da Silva, a ativação de radares da Força Aérea Brasileira (FAB) para detecção de aeronaves que voam em baixa altura e não estão identificadas em Corumbá, Porto Murtinho e Ponta Porã é um dos fatores que contribuiu para que isso acontecesse.
Isso porque os narcotraficantes agora optaram por adentrar no território nacional com a droga por meio das rodovias, principalmente pela região de fronteira com o Paraguai, por se tratar de uma fronteira seca e mais simples. Ele acrescenta que os radares têm influenciado nessa mudança de comportamento porque as zonas de produção da cocaína estão no norte da Bolívia e no sul do Peru, enquanto o Paraguai, conhecidamente, é um grande produtor de maconha.
Nos últimos anos, o crime organizado tem aumentado a sua base na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, o que pode ter influenciado para que o Estado se tornasse importante rota na logística da droga. Conforme ele, na série histórica de apreensões de droga, a partir dos anos 1980 e 1990 é que houve um crescimento na retenção da cocaína graças ao aperfeiçoamento do trabalho da Polícia e a entrada desses criminosos de organizações no tráfico.
Hoje, de acordo com o coronel, as redes são complexas no tráfico por causa da grande lucratividade e o crime organizado não atua senão para ter uma grande obtenção de lucro, e encontrou um terreno fértil no tráfico. Diferentemente da maconha, que é trazida para consumo interno, o DOF avalia que 80% da cocaína que entra no Brasil é para exportação para países da Europa, África e Ásia.
Mato Grosso do Sul é vizinho de uma das maiores zonas de produção do mundo, a Bolívia, que tem a 3ª maior produção de cocaína do planeta, enquanto o Brasil é um grande corredor que serve para levar essa droga para outros mercados. O quilo da cocaína no mercado europeu, por exemplo, chega a custar R$ 120 mil, segundo o comandante.
Levando em conta esse valor, os 494 quilos apreendidos esta semana poderiam ter resultado em R$ 59.328.000,00 para o grupo organizado. No caso da pasta base, por se tratar do substrato da cocaína, ou seja, o resto do refino da droga, o valor de mercado é menor e poderia ser vendido a R$ 65 mil o quilo. Os 525 quilos totalizariam R$ 34.125.000,00. A soma da apreensão dessa semana poderia dar R$ 93 milhões aos narcotraficantes.
A cocaína apreendida esta semana possivelmente foi a maior quantidade encontrada neste ano até agora. Ela estava enterrada em uma fazenda na faixa de fronteira, entre Paranhos e Coronel Sapucaia. A droga estava enterrada ao lado de uma pista de pouso clandestina da fazenda.
Os policiais fizeram a apreensão em dois dias. Na terça-feira, quando faziam rondas pela linha internacional, viram um avião decolando do local com direção ao Paraguai. A situação chamou a atenção dos policiais, que foram até a propriedade. No local, duas pessoas foram abordadas e confessaram que estavam lá para transportar a cocaína.
Eles disseram que o avião que havia decolado estava carregado com meia tonelada da droga e iria para o Paraguai. Outra parte estava enterrada ao lado da pista de pouso, que foi quando foram encontrados 494 quilos de cocaína. Um dia depois, policiais voltaram ao local e, em nova varredura, encontraram 525 quilos de pasta base de cocaína. Com informações do site Correio do Estado