O narcotraficante brasileiro André Oliveira Macedo, mais conhecido como “André do Rap”, considerado um dos chefões da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), que fugiu de São Paulo para a fronteira do Paraguai com Mato Grosso do Sul, terá o nome incluído na lista de procurados da Interpol. A Polícia Federal pediu a inclusão nesta segunda-feira (12) depois que ele “desapareceu” após ter sido solto no sábado (10), com autorização da Justiça.
Até a noite de ontem (12), o nome do traficante não constava na lista dos mais procurados da Polícia Civil de São Paulo e nem do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O traficante ficou 388 dias preso, 4% da pena total de 25 anos de cadeia imposta a ele em duas condenações. André deixou a Penitenciária de Presidente Venceslau, no interior paulista, na manhã de sábado (10), após ter um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello.
Horas depois, o presidente do STF, Luiz Fux, suspendeu a decisão e determinou o retorno dele à prisão. Promotores e procuradores disseram que já tinham pedido a manutenção da prisão. O delegado Fabio Lopes, chefe da operação que prendeu André do Rap em 2019, e o promotor Lincoln Gakiya, também responsável pelo caso, afirmam que será muito difícil conseguir prender o traficante novamente.
“Impossível não é, mas vai ser difícil”, afirma Lincoln Gakiya, promotor de justiça do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). O Ministério Público de São Paulo acredita que após ter deixado a penitenciária no interior de São Paulo, o traficante tenha viajado até Maringá, no Paraná, e embarcado para o Paraguai.
Desde a tarde de sábado, policias realizam uma força-tarefa para encontrar André do Rap. A polícia alega que não pôde seguir os passos de André do Rap porque, ao sair da prisão, ele era um homem livre, mas, por se tratar de um criminoso perigoso, os serviços de inteligência monitoraram à distância, a movimentação dele e tem a certeza que o traficante usou um avião particular para fugir do Brasil. A polícia também suspeita que ele esteja no Paraguai ou já tenha ido para a Bolívia.
“Para nós foi um banho de água fria, porque ele tem duas condenações já em segunda instância. Ele estava condenado a 15 anos em uma, e a dez em outra, já em segunda instância. Ele usa várias empresas de fachada, então, para conseguir capturá-lo de novo, vamos ter uma grande dificuldade. Ele é o maior atacadista de cocaína do país”, diz Fabio Pinheiro Lopes, delegado e diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
“Fizemos contato com a polícia do Paraná, também com a Polícia Federal, a partir do momento em que foi cassada a decisão pelo ministro [Luiz] Fux. Mas, infelizmente, até o presente momento, esse acusado não foi encontrado. Provavelmente, inclusive, ele já esteja fora do país. As informações é que ele dispunha de um jatinho particular à disposição para leva-lo de Maringá para fora do país”, disse Gakiya
Em nota enviada na manhã de domingo (11), a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que policiais dos departamentos Estadual de Investigações Criminais (DEIC), de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e de Operações Policiais Especiais (DOPE) estão em diligências para tentar encontrar o traficante.
As polícias civis do Paraná, Santa Catarina e São Paulo procuram o traficante desde que ele voltou a ser considerado foragido da Justiça. André do Rap foi preso em setembro de 2019, em uma operação feita pela Polícia Civil de São Paulo em um condomínio de luxo em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro, e é investigado por gerenciar o envio de grandes remessas de cocaína à Europa. Ele chegou a morar no exterior. Antes disso, tinha ficado preso por 7 anos, até 2014.
Em 2019, quando preso, ele chegou a São Paulo no próprio helicóptero. Ele era procurado pela Interpol e a operação contou com uma equipe de 23 policiais do Garra, o Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos, do Gope, o Grupamento de Operações Penitenciárias Especiais e da Divisão Antissequestro.
André do Rap foi encontrado em um condomínio de luxo no bairro Itanema, que fica às margens da BR-101 (Rodovia Rio-Santos). Na residência, foram apreendidos dois helicópteros, um deles um B 4 avaliado em cerca de R$ 7 milhões e uma lancha de 60 pés, avaliada em R$ 6 milhões. A casa era alugada, mas ele tinha uma mansão na cidade, fora de um condomínio.
A lancha foi um dos elementos que ajudaram a polícia a localizá-lo em 2019. Os investigadores descobriram que uma empresa de fachada comprou a embarcação, e a pessoa responsável era alguém que não tinha rendimentos o suficiente para arcar com os valores.
“Ela está em nome de um empresário que tem uma moto CG [um dos modelos mais básicos de moto]. Como um cara que tem uma moto CG tem uma lancha de R$ 6 milhões? A gente acredita que ele usava esses laranjas para lavar o dinheiro dele”, disse na ocasião Fábio Pinheiros Lopes, delegado da Divisão Antissequestro.
André do Rap era dono de um sítio investigado pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) em Bertioga.
Segundo o Deic, ele substituiu Wagner Ferreira, o “Cabelo Duro”, assassinado na porta de um hotel no bairro do Tatuapé, Zona Leste, logo depois das mortes de Gegê do Mangue e do Paca, no Ceará. Segundo a polícia, até 2018, o tráfico de Santos era comandado por Gegê do Mangue. André já era conhecido da polícia e ficou sete anos e meio preso, até ser solto em 2008.