Os ladrões que tentaram assaltar a central administrativa do Banco do Brasil em Campo Grande (MS), quando chegaram a cavar um túnel para chegar até o cofre da agência, esperavam R$ 500 mil para cada um dos integrantes da quadrilha. Felizmente, o plano foi descoberto no dia 21 de dezembro do ano passado, um sábado, quando teve confronto com policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros) e dois bandidos morreram, enquanto outro foi baleado e mais seis foram presos.
Segundo a Polícia, seria um dos crimes com maior valor já levados no País, já que no local, segundo consta de documento oficial costumam ficar guardados mais de R$ 200 milhões. No “assalto ao Banco Central”, como ficou conhecido crime semelhante ocorrido em 2005, em Fortaleza (CE), a quadrilha conseguiu furtar R$ 167 milhões. De acordo com o site Campo Grande News, a informação sobre o valor que seria partilhado está em depoimento de um dos envolvidos. São nove, considerado também os que morreram, cuja extinção de punibilidade já foi declarada.
Só para dirigir o caminhão usado no crime, um dos presos, Bruno Oliveira de Souza, 30 anos, disse que receberia R$ 150 mil. Identificado como pedreiro originalmente, Bruno acabou sendo baleado depois de tentar jogar o veículo sobre os policiais, após a descoberta do plano, segundo admite no depoimento dado ao Garras. Os sete presos se transformaram em réus na segunda-feira (6), quando a juíza Luciana Buriasco Isquierdo, durante o plantão do judiciário, acatou a peça acusatória. A magistrada deu 10 dias de prazo para a defesa prévia dos envolvidos.
Sigilo telefônico
A juíza Luciane Buriasco Isquerdo também autorizou a quebra de sigilo telefônico dos sete presos envolvidos. O objetivo do MPE (Ministério Público Estadual) é identificar outros envolvidos no esquema, como dois homens citados como “Barba” e “Véio”.
O pedido foi feito no inquérito da Polícia Civil e citado na denúncia do MPE contra os sete presos: Wellington Luiz dos Santos Junior, 28 anos; Lourinaldo Belisario de Santana, 51 anos; Robson Alves do Nascimento, 50 anos; Gilson Airis da Costa, 43 anos; Eliane Goulart Decursio, 36 anos; Francisco Marcelo Ribeiro, 42 anos e Bruno Oliveira de Souza, 30 anos.
Consta que o acesso aos dados telefônicos seria a única forma de evidenciar as circunstâncias do crime e, ainda, identificar demais envolvidos. Os delegados envolvidos na investigação também solicitaram a coleta de material genético dos presos. O promotor plantonista Rodrigo Yshida Brandão, porém, opinou pelo indeferimento nas duas situações, avaliando que a justificativa de “subsidiar outras investigações” é muito vago.
Para a juíza Luciane Buriasco Isquerdo, é importante identificar “Barba” e “Véio”, “pois nos aparelhos celulares (…) podem estar inúmeros dados confidenciais da pessoa, conversas, dados bancários, fotos, dentre outros que podem esclarecer a forma de atuação e identidade de todos os envolvidos”. Sobre o pedido de coleta, a juíza seguiu o parecer do MPE e indeferiu a solicitação e disse que pode ser reapresentado pela Polícia Civil de forma mais específica.
Segundo a investigação policial, Wellington, Lourinaldo, Francisco Marcelo e Bruno Oliveira foram os responsáveis por cavar o túnel, sob supervisão de pessoa identificada como “Barba”, que reportava o andamento do serviço ao “Véio”, seu superior hierárquico. Bruno também seria responsável pelo transporte do dinheiro em um caminhão, caso o plano tivesse seguido.
Gilson Airis, em princípio, foi contratado para cavar túnel, mas, com fobia de ambiente fechado, não conseguiu continuar na atividade e tornou-se cozinheiro do grupo; Robson Alves alugou um dos imóveis usados pela quadrilha, na Rua José Barbosa Rodrigues e “cuidava das despesas da casa”, com dinheiro enviado por “Véio”, sendo auxiliado pela esposa, Eliane.
O grupo foi denunciado pelos crimes de furto qualificado, porte ilegal de arma e formação de quadrilha. O grupo estava sendo monitorado há seis meses pela Polícia Civil. O lucro obtido, previsto em cerca de R$ 200 milhões, seria dividido entre nove participantes identificados.
No entanto, o plano foi interrompido no dia 21 de dezembro, quando policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros) prenderam sete e mataram dois membros da quadrilha: José Williams Nunes Pereira e Antonio de Melo Leal.
O furto era arquitetado há pelo menos três anos. As investigações apontaram que o esquema já custava R$ 1 milhão, incluindo custo com aluguel, água e luz dos locais utilizados para executar o roubo. Os homens que trabalhavam na escavação recebiam R$ 2 mil por semana pelo trabalho.