As coisas não andam muito bem para o lado dos parlamentares eleitos pelo PSL em Mato Grosso do Sul. Depois de a senadora Soraya Thronicke ganhar repercussão nacional pelo excesso de viagens internacionais às custas do dinheiro público, agora quem ganha os holofotes da mídia é o colega dela: o deputado federal Loester Trutis, mais conhecido como “Tio Trutis”, que foi eleito após alcançar a fama com vídeos com duras críticas às velhas práticas da política.
Na contramão de tudo que pregou na campanha, eis que “Tio Trutis” deu emprego com salário líquido de R$ 8.046 ao irmão de um deputado federal do Rio de Janeiro e do mesmo partido, ou seja, a velha prática do nepotismo cruzado, quando há um acordo entre as partes envolvidas que estabelece a promoção de parentes do outro em cargos públicos.
Nesta segunda-feira (10), Tio Trutis surpreendeu ao nomear no gabinete o advogado Ramiro Laterça de Almeida, irmão do deputado federal Felício Laterça (PSL/RJ). Ele passa a ser o 15º integrante da equipe do sul-mato-grossense, conforme o Portal da Transparência da Câmara dos Deputados.
Essa é uma prática comum e velha entre os políticos brasileiros, pedir cargos para familiares nos gabinetes dos colegas. É o famoso jeitinho para fugir da acusação de nepotismo, proibido pela legislação e pela Constituição Federal.
Trutis nega de forma veemente que tenha aderido aos antigos costumes. “Foi exclusivamente pelo currículo (de Ramiro). Não pedi nada em troca”, garantiu o deputado. “Sempre deixei claro que o fator técnico seria decisivo”, explicou.
Em seguida, o parlamentar cita as vantagens do novo comissionado: duas graduações, doutorado, várias pós-graduações e fluente em seis idiomas. “Será uma peça valiosa na minha atuação nos grupos parlamentares e na comissão de Relações Exteriores”, justificou-se.
“Agora não vou punir um candidato à vaga extremamente qualificado por algo que não tem nada de ilegal”, afirmou. “Não posso basear minha escolha no politicamente correto”, ressaltou.
“A minha consciência está tranquila”, enfatizou, para citar os benefícios que abriu mão, como a aposentadoria especial como deputado federal, motoristas, diárias e carro. Abri mão de tudo que acho imoral”, concluiu.
Apesar de ter direito a usar R$ 40 mil por mês da cota parlamentar, Trutis disse que usa apenas “R$ 3 mil”. Porém, o Portal da Transparência da Câmara aponta o uso de R$ 60,4 mil de fevereiro até o início deste mês, sendo que em maio Trutis usou o maior valor, R$ 32 mil.
Ele pode gastar até R$ 111.675,59 com a contratação de funcionários, mas usou R$ 83 mil em março. A equipe do parlamentar conta com 15 funcionários, apesar da regra permitir a contratação de até 25 pessoas.