A execução de Matheus Coutinho Xavier, filho do capitão PM Paulo Roberto Teixeira Xavier, com 7 tiros de fuzil é a terceira morte de filhos de policiais militares envolvidos com a vida do crime em Mato Grosso do Sul.
Outra foi em junho do ano passado, quando o filho do subtenente PM Silvio César Molina de Azevedo, o jovem Jefferson Henrique Piovezan Azevedo Molina, foi assassinado em uma conveniência de Mundo Novo com 10 tiros.
Já em julho do ano passado, na cidade paraguaia de Salto Del Guairá, perto de Mundo Novo (MS), quando foi morto com 30 tiros o adolescente sul-mato-grossense João Victor Richena Costa, filho do ex-policial militar Fábio Costa, mais conhecido como “Pingo”.
O capitão PM Paulo Roberto Teixeira Xavier foi preso em 2009 na “Operação Las Vegas”, sendo condenado a 7 anos de prisão em regime fechado por falsidade ideológica, por manter um estabelecimento comercial, o que é proibido para oficial e corrupção passiva. Na época, ele foi denunciado pelo Ministério Público Estadual durante a Operação Las Vegas, realizada pela PF (Polícia Federal) e Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado), como responsável pela logística e segurança da organização que explorava máquinas caça-níqueis na Capital.
O major PM Sérgio Roberto de Carvalho foi apontado como líder do esquema e acabou expulso da corporação. Com a quadrilha foram apreendidos 18 veículos, um avião, 97 máquinas de caça-níqueis, R$ 77 mil, US$ 1,7 mil, computadores e notebooks. Cerca de dois anos depois da prisão, em 2011, o STF (Supremo Tribunal Federal) concedeu habeas corpus ao capitão, que a essa altura já cumpria a pena em regime semiaberto.
Desde então Xavier aguardava o julgamento em liberdade. No ano de 2015, foi flagrado observando um banco em posse de uma pistola 380 sem registro em uma caminhonete com placa alterada, em Bom Jardim (MA). No entanto, recebeu alvará de soltura após o juiz considerar que ele não preenchia os requisitos para a prisão preventiva.
Molina
Já o subtenente PM Silvio César Molina de Azevedo foi acusado de liderar a “máfia” de tráfico de drogas e acabou preso na “Operação Laços de Família”, sendo transferido do Presídio Federal de Campo Grande para o Presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. De acordo com as investigações, o subtenente Molina liderava um grupo que atuava com características de máfia em Mundo Novo e tinha relações comerciais com o PCC (Primeiro Comando da Capital).
Foram identificados vários núcleos, como o familiar, que era liderado pelo policial; o operacional e apoio logístico, integrados por gerentes; e os “correrias”, definição para quem presta toda a sorte de serviços (motorista, segurança pessoal de membros do grupo). Durante a investigação, a Polícia Federal apreendeu R$ 317.498,16, joias avaliadas em R$ 81.334,25, duas pistolas, 27 toneladas de maconha, duas caminhonetes e 11 veículos de transporte de carga.
Os mandados de busca e apreensão ajudam a dimensionar o tamanho do patrimônio do grupo: 136 ordens de sequestros de veículos, sete mandados para apreender aeronaves (helicópteros). Além de cinco mandados de sequestro de embarcações de luxo e 25 mandados de sequestro de imóveis (apartamentos, casas, sítios, imóveis comerciais). As ordens judiciais foram cumpridas em MS, Paraná, São Paulo, Goiás e Rio Grande do Norte.
Pingo
O ex-policial militar Fábio Costa, conhecido como “Pingo”, foi preso em 2011 na “Operação Marco 334”, deflagrada pela Polícia Federal para desarticular uma quadrilha de contrabandistas de cigarro. O nome da operação foi menção a um dos 901 marcos da fronteira entre Brasil e Paraguai, situado Mundo Novo e Japorã, e ao artigo 334 do Código Penal, que trata do crime de contrabando.
Em outubro de 2011, na decisão pela prisão preventiva dos envolvidos na Operação Marco 334, a Justiça Federal cita Fábio Costa como batedor de carregamentos de cigarro, inclusive um que tinha sido aprendido pela Polícia Federal. Gravações telefônicas interceptadas pela PF revelaram na época fortes indícios vinculando “Pingo” ao pagamento de propina a policiais militares.
“Há transcrições demonstrando que [Fábio] orientava os demais batedores a respeito da presença de policiais federais na via pela qual passaria carregamento de cigarro”, diz trecho da decisão judicial. Ainda segundo o despacho, Fábio Costa teve participação em crime de contrabando ou descaminho por três vezes, “além de formação de quadrilha e de utilização clandestina de telecomunicações”.
“A intensidade com a qual Fábio está comprometido com ações criminosas demonstra que as medidas cautelares não serão suficientes para afastá-lo da pratica de infrações penais. Por essa razão, entendo que estão presentes os requisitos da prisão preventiva, como medida necessária para a garantia da ordem pública”, afirmou o TRF, ao decretar a prisão do ex-PM, há sete anos.
Fábio Costa foi condenado a dois anos e oito meses de prisão por associação criminosa, mas acabou absolvido dos crimes de contrabando e uso clandestino de rádios comunicadores. Dois anos após a prisão ele ganhou liberdade. Nas redes sociais, Fábio Costa é conhecido por posar para fotos com uma gigantesca corrente e um escudo de ouro. “Daqui a alguns dias vou te tratar da dor nas costas, 5 kg pendurado no pescoço”, escreveu um amigo do ex-PM, ao comentar foto de Pingo postada no Facebook.