A cara de pau das autoridades ligados à segurança pública do Estado está acima da média e alguns já estão usando os presos para fazerem reformas nas casas dos respectivos comandantes das corporações. Esse é caso do comandante do Corpo de Bombeiros em Dourados, tenente-coronel bombeiro Flávio Pereira Guimarães.
De acordo com matéria publicada hoje (12) pelo site Campo Grande News, uma viatura do Corpo de Bombeiros foi usada para transportar dois internos do regime semiaberto até uma casa em reforma em um bairro de alto padrão de Dourados.
O site apurou que a casa seria do comandante da corporação em Dourados, o tenente-coronel bombeiro Flávio Pereira Guimarães. Ele confirmou que utiliza a mão de obra dos apenados na reforma da casa, mas disse que vai pagar pelo serviço.
A reportagem acompanhou o trajeto feito pela viatura ocupada por dois soldados do Corpo de Bombeiros do quartel da corporação na Avenida Presidente Vargas até o presídio semiaberto, localizado ao lado da PED (Penitenciária Estadual de Dourados), a 19 km de distância.
Viatura na estrada
Normalmente usada no resgate de feridos, a viatura deixou o quartel às 6h18 e seguiu pela Avenida Presidente Vargas em direção à cidade de Itaporã. Com as luzes de alerta ligadas, o carro cruzou dois semáforos no vermelho, como se a equipe estivesse se deslocando para fazer um socorro.
Na rotatória da MS-156, a viatura pegou o anel viário de Dourados e continuou viagem em direção à BR-163. Após 20 minutos de estrada, a equipe dos bombeiros chegou à rodovia federal e alguns metros adiante seguiu pela estrada que liga ao distrito de Panambi e passa em frente aos presídios.
Presos esperando
Dois internos, um deles com uma sacola de plástico na mão, já esperavam a viatura fora do pátio. Assim que a viatura se aproximou, os dois caminharam em direção ao veículo e entraram na unidade de resgate.
Ainda com as luzes de alerta ligadas, a viatura do Corpo de Bombeiros fez o mesmo trajeto de volta a Dourados até chegar à Rua Iguaçu. Depois virou à esquerda e seguiu em direção ao Portal de Dourados, um bairro nobre na região norte da cidade.
O acesso ao bairro foi feito pela Rua Toshinobu Katayama. Apesar de ser cortado por vias públicas, a entrada do bairro possui uma guarita com segurança 24 horas. Da Rua Toshinobu Katayama, a viatura virou à direita na Rua Alameda dos Jacarandás.
Abordagem
A reportagem não conseguiu registrar o momento em que os internos desceram porque foi abordada por um homem em uma caminhonete S10 branca, mas nas fotos é possível ver a viatura parada em frente a uma das casas do bairro.
O homem disse ser bombeiro e queria saber o motivo de a viatura estar sendo fotografada. Informado de que se tratava de uma reportagem, ele se retirou, mas a viatura já tinha deixado os internos na casa.
No local onde a viatura parou, em frente ao número 260 da Alameda dos Jacarandás, existe uma casa em reforma, como mostram as fotos. A reportagem apurou que Flávio Guimarães teria comprado a casa e há alguns dias vem utilizando mão de obra dos internos para fazer a reforma.
Comandante confirma
Flávio Guimarães confirmou ao Campo Grande News que vem utilizando mão de obra de internos para reformar a casa, que é alugada, segundo ele. Entretanto, disse que o uso da viatura para buscá-los foi um caso isolado, por necessidade.
“Há pelo menos 60 dias os apenas são transportados todos os dias pela viatura do presídio até o quartel do Corpo de Bombeiros, onde eles fazem uma série de melhorias. Mas ontem (dia 11) não consegui pegar o carro com minha mulher e pedi para a viatura levá-los de volta ao presídio. Foi um caso isolado”, garantiu.
O tenente-coronel disse que a situação se repetiu nesta terça-feira porque ele tinha uma videoconferência com o Comando Geral da corporação no mesmo horário. Flávio Guimarães disse que o diretor do presídio semiaberto, José Nicácio do Nascimento, tem conhecimento da situação. “Eu vou pagar pelo serviço dos apenados”, afirmou.
Já a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) informou nesta terça-feira que a direção do presídio confirma a liberação dos internos, mas nega que tenha sido para executar obra em casa particular.