O papa Francisco admitiu, nesta terça-feira (5), que padres e bispos abusaram sexualmente de freiras. A declaração foi feita no voo de volta ao Vaticano, após viagem aos Emirados Árabes Unidos.
“Houve padres e também bispos que fizeram isso”, reconheceu o sumo pontífice, que nunca havia abordado o assunto antes, ao ser questionado por uma jornalista.
Em sua avaliação, é possível encontrar registros destes abusos “em todas as partes”, mas estão mais presentes em “algumas congregações novas e em algumas regiões”.
“Estivemos trabalhando por muito tempo sobre esse assunto. Suspendemos vários clérigos por essa causa”, afirmou Francisco, sem mencionar nomes nem países
Segundo ele, a igreja não pode se refugiar “na negação”.
Francisco contou que o papa emérito Bento 16 dissolveu uma ordem religiosa logo após tomar posse, em 2005, “porque a escravidão tinha se tornado parte dela, inclusive escravidão sexual por parte dos padres e do fundador”.
Ele não disse o nome do grupo, mas o porta-voz do Vaticano, Alessando Gisotti, disse que se trata de uma ordem francesa.
Antes de se tornar papa, Bento 16 era o cardeal Joseph Ratzinger, chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, departamento responsável por investigar abuso sexual no Vaticano. Na época, o papa era João Paulo 2º (1920-2005).
Enquanto cardeal, Ratzinger queria investigar a ordem onde as mulheres estavam sendo abusadas, mas ele teve seu trabalho bloqueado, segundo Francisco, que não disse quem foi responsável por isso.
Depois de se tornar papa, Bento 16 reabriu a investigação e dissolveu a ordem, de acordo com Francisco.
Recentemente, mais freiras, encorajadas pelo movimento #MeToo, têm feito denúncias de abusos sexuais feitos por padres e bispos. No ano passado, a União Internacional de Superioras, que representa mais de 500 mil freiras católicas, encorajou suas integrantes a reportar abusos.
“Temos que fazer algo mais? Sim. Temos a vontade de fazê-lo? Sim!”, afirmou o pontífice.
O papa Francisco convocou bispos de várias partes do mundo para uma reunião no fim do mês no Vaticano para buscar respostas de como proteger crianças do abuso sexual por parte de clérigos.
Francisco voltava de uma visita histórica a Abu Dhabi, capital de Emirados Árabes Unidos, que durou menos de 48 horas, a primeira de um papa na Península Arábica. Folha de S. Paulo