Por Ângelo Arruda, arquiteto e urbanista, professor da UFMS – No novo processo jurídico e político brasileiro existe um novo verbo que anda sendo conjugado com muitas variações para além da língua portuguesa: delatar. E ele anda sendo usado a torto e à direita, como meio de obter dos aprisionados, depoimentos comprometedores que jamais teriam coragem de falar sem nada receber em troca (como se um aprisionado por corrupção precisa receber ainda alguma coisa, depois de tanto assaltar a nação).
Lá no Nordeste, onde eu nasci o verbo delatar tem outro nome: caguetar ou caboetar. Dedurar. Dedurar significa entregar o outro. Na ditadura militar, o cagueta, o delator, era alguém que os militares ficavam em cima para obter informações das organizações de esquerda e quando alguém delatava, sai de baixo. Antes de delatar, de abrir o bico, o delator apanhava muito, sofria torturas físicas. Basta assistir os filmes dos anos 1970 ou ler os livros que comentam o regime militar.
Pois bem meus caros leitores. Hoje, delatar é moeda de troca pela pena que, antes de julgar o réu, a justiça lhe dá esse direito. Direito esse previsto em lei federal, aprovada recentemente. E faça-se justiça. Possivelmente, nenhuma operação de combate à corrupção avançaria sem que houvesse caguetagem. Isso é fato.
Entretanto, qual é o foco? Qual é a verdade buscada na delação? Salvar a pele do réu, diminuindo sua pena ou até se safando ou buscar novas evidências do objeto da investigação? Qual o objeto da Lava-Jato? Originalmente, encontrar provas de crime de remessa de dólares para o exterior por parte de doleiros profissionais. Ocorre que a Lava-Jato já está posicionando seus canhões para todos os lados (ops, desculpas, para todos os petistas e para o Palácio do Planalto e para o ex-presidente Lula).
Assim, obturando o verbo delatar, corrigindo suas sentenças verbais eu posso dizer que a delação do Senador Delcídio do Amaral (não sei se quando publicado esse artigo ele ainda será senador da República), é uma peça de canhão que atira para todos os lados – de petista a tucanos, peemedebista e um monte de pessoas, de todo o país. Claro, o senador de todos, não suportou 30 dias preso e se ofereceu para cagoetar os “amigos”. Provas, documentos, extratos e mais um monte de coisas necessárias para a justiça enquadrar todos, agora serão pesquisados. Primeiro entrega, depois investiga.
Mas a sociedade já condenou todos (ops mais uma vez errei a digitação. A sociedade já condenou todos os petistas) pois na delação digo cagoetagem do Senador, aparecem as figuras proeminentes da República: Dilma, Lula, Temer, Aécio e por aqui, poucos proeminentes escaparam, pois também foi citado, André Puccinelli, Giroto, Zeca, Bumlai. São 255 páginas de pura nitroglicerina política.
E aí? O que deve acontecer com a cagoetagem do senador?
Acho que ele é um cadáver para alguns e herói para outros. Eu nunca encontrei ninguém na história que tivesse esse perfil duplo, que agrade a uns e desagrade tanto a outros. Se Zeca não tinha muita simpatia pelo senador agora que ele cita-o envolvido em nomeação de gente graúda e corrupta da Petrobrás, babau.
Em todo o caso, nos resta a esperança de ver a Lava-Jato guaicuru, com o nome de Lama Asfáltica – que tem rumo certo para dormir nas gavetas do MPE-MS ou ainda a Cofee Break, que tem o mesmo rumo-, poder receber um novo gás vindo da sociedade sul-mato-grossense.
Assim sendo, quero convidar a todos os homens e mulheres e a todos os movimentos que foram ás ruas neste dia 13 de março para voltar às ruas agora para pedir a cabeça dos citados pelo senador Amaral, que moram em Mato Grosso do Sul. Quero ver quem vai sair de casa para pedir a prisão do italiano e de seu braço direito e esquerdo.
Essa eu pago prá ver.