A disputa por uma das vagas de candidato a senador em 2018 pode causar uma baixa de peso ainda este ano no governo do Estado. Coordenador da campanha de Reinaldo Azambuja ao governo em 2014 e dono de uma ampla rede de apoios entre os prefeitos, o secretário de Infraestrutura, Marcelo Miglioli, estuda deixar o governo se houver preferência de Reinaldo pela candidatura do secretário de governo, Eduardo Riedel. A disposição de Miglioli foi confirmada por duas fontes bem posicionadas no governo.
Embora Reinaldo oficialmente diga aos secretários que este é um assunto para 2018, a disputa pela vaga de candidato ao Senado tem se acelerado nas últimas semanas, tanto nos bastidores quanto publicamente. E os movimentos recentes de Riedel, até então um técnico discreto, é sinal de um possível aval de Reinaldo, pensando em ter Miglioli focado na campanha de reeleição.
No evento de 40 anos da Famasul, no fim de outubro, dirigentes da Federação lançaram o nome de Riedel como pré-candidato a Senador diante de centenas de convidados – um deles, sentado na primeira fila, era exatamente Marcelo Miglioli. Foi da Famasul que Riedel saiu para o governo de Reinaldo, com apoio de dirigentes e do PR. Esse apoio foi visto como fundamental para garantir um cargo de relevância para um técnico que não havia participado da campanha.
Ao mesmo tempo, o secretário de governo, que concentra a verba de publicidade, tem acelerado sua presença pessoal no Facebook, com posts patrocinados nos últimos dias. Riedel, que há pouco tempo não tinha fanpage, aparece em posts com centenas de curtidas lançando obras do governo no interior.
E são exatamente as obras o trunfo de Marcelo Miglioli para pavimentar seu caminho até o Senado. O secretário de Infraestrutura, que mantém até aqui perfil discreto, lançou centenas de quilômetros de pavimentação em rodovias e, principalmente, nas áreas urbanas de municípios. Foram 100 pontes de concreto, ante 240 na história do estado, e 10 mil casas construídas. Em seu Facebook, lançado há alguns meses, Miglioli mostra as obras e as parcerias com prefeitos e com o governo federal, mas até agora aparentemente sem patrocinar as publicações.
Desde a – inexplicável – desativação da Caravana da Saúde, as obras feitas pela secretaria de Infraestrutura são a realização mais visível do governo de Reinaldo Azambuja. E é a disputa pela “paternidade” delas que Riedel tenta criar agora, para se cacifar ao Senado. Riedel apresenta a “gestão” como responsável pelas obras, o que tem enfurecido a equipe da Seinfra, que diz contar desde o início do governo só com as verbas do Fundersul, o fundo que vai direto pra secretaria, sem passar pelo controle da Secretaria de Governo. A autonomia sobre o Fundersul, garantida por Reinaldo, seria o único escape do aperto que Riedel faria sobre as verbas da Seinfra, incluindo a publicidade das obras, que teria sido reduzida para que ele possa aparecer como responsável. Seria exatamente esta a gota d’água para Miglioli, um engenheiro que acompanha com obsessão detalhista os projetos de estradas, pontes, redes de esgoto e casas que agora seu rival interno quer aparecer inaugurando.
Mas, bem antes da gota d’água, o copo precisa estar cheio. E essa é uma história que começa em 2012, quando Reinaldo decidiu ser candidato a prefeito de Campo Grande e convidou Miglioli para ser ser coordenador de campanha. Empreiteiro com atuação em MT e MS, ele deixou as empresas e montou um time que quase levou Reinaldo ao segundo turno. Baseado nessa disputa que projetou seu nome na capital, Reinaldo chamou Miglioli para coordenar sua campanha para o governo em 2014, que começou em um distante terceiro lugar e terminou na primeira vitória do PSDB em MS.
Depois de coordenar a campanha, Miglioli também coordenou a transição do governo e finalmente assumiu a Seinfra, enquanto Riedel, que não havia participado da campanha, foi chamado para a secretaria de governo. Ao lado de Sérgio de Paula, então na Casa Civil, formaram o trio mais poderoso do governo, até a saída de Sérgio, rumo à direção estadual do PSDB. Foi aí que Riedel acumulou as funções de Sérgio e começou a tentar reunir forças.
As fontes ouvidas pelo blog dizem que Reinaldo não manifesta oficialmente preferência por nenhum dos dois secretários e diz que este é um assunto para 2018. Mas que, na prática, essa posição favorece Riedel, que é menos conhecido, sem rede de contatos com os prefeitos, e está usando esse tempo, as ferramentas do cargo e a Famasul para fazer campanha antecipada.
A principal preocupação de Reinaldo, dizem as fontes, é claramente a própria reeleição. O governador gostaria de ver Miglioli, em quem confia, novamente coordenando sua campanha, e não focado em uma disputa própria. Como o PSDB não poderá ter as duas vagas do Senado na construção da aliança, Riedel pode ser um candidato do seu partido que reúne apoio do PR.
“Mas a gratidão não é uma estrada de mão única”, diz um alto funcionário do governo com influência no partido. Ao tentar um apoio externo e pensar novamente primeiro em si mesmo, o governador pode desorganizar o PSDB, mostrar ingratidão com um aliado de primeira hora e perdê-lo não só na campanha, mas desde já no governo do Estado.
“Reinaldo é um administrador e um político hábil e frio. Até hoje as jogadas têm dado certo”, diz essa fonte. “Mas quem faz política achando que joga xadrez esquece que as pessoas não são peças e podem ter seus próprios movimentos”.
O movimento de Miglioli, saindo do governo ainda em 2017 caso Reinaldo coloque apenas os próprios interesses acima do projeto de um aliado de primeira hora, pode transformar a eleição de 2018 em algo muito mais próximo de um jogo de poker com muitos jogadores do que com o xadrez previsível com que sonha o governador.
Para completar, vale lembrar que na ocasião da disputa para a prefeitura de Campo Grande, Ridel foi lembrado como virtual candidato, no entanto, parte do staff de Reinaldo torceu o nariz vendo ele apenas como um técnico, incapaz de arrastar votos diante de uma disputa acirrada, como foi, e mesmo com a vice-governadora, Rose Modesto no pleito, o plano tucano naufragou.
Vai vendo!