O empresário e empreiteiro João Roberto Baird está negociando com o MPF um acordo de colaboração premiada e essa delação vai ruir de vez as já abaladas pilastras da política regional. João Baird, o Bill Gates Pantaneiro, se vê enredado em escândalos de corrupção desde o Governo de Wilson Barbosa Martins, passando por Zeca do PT e André Puccinelli.
Mas foi nos últimos anos que ele ganhou mais visibilidade, em razão das denúncias contra a Itel Informática – principal empresa de Baird, resultantes das operações Lama Asfática da Polícia Federal e Coffee Break do Ministério Público Estadual.
Recentemente o nome de João Baird foi novamente relacionado a denúncias de corrupção, quando o Detran sofreu uma devassa que levou à demissão coletiva de toda sua Diretoria, e mais uma vez a Itel Informática está na mira da Justiça, sob suspeita de desvio de recursos públicos por meio de contratos fraudulentos, sob a Presidência de Gerson Claro Dino.
Se você achou essa manchete repetida, não foi a toa. O Ministério Público Federal acusa João Roberto Baird, Dejanira Machado Recalde, Roberto Teles Barbosa, e Juarez Lopes Cançado, dos crimes de formação de quadrilha, peculato [uso de função pública para conseguir vantagem ou lucro], dispensa ilegal de licitação e operação de instituição financeira sem autorização.
Os crimes teriam sido cometidos entre julho de 1999 e dezembro de 2003, a partir do momento em que o Detran contratou a empresa S&I Serviços e Informática, de Roberto Barbosa e João Baird, para arrecadar valores relativos ao trânsito, como IPVA, multas e o prêmio do seguro DPVAT. O Ministério Público Federal apurou que parte dos recursos, que deviam ser repassados ao Fundo Nacional de Saúde, Departamento Nacional de Trânsito e Federação de Seguradoras, foi desviado. Segundo auditoria do Tribunal de Contas, o montante desviado, atualizado até maio de 2005, chega a R$ 30.277.214,14.
Coincidências
Nessa época o órgão era comandado por Dagoberto Nogueira Filho – Presidente regional do PDT, partido esse que até pouco tempo abrigava Gerson Claro Dino, que recentemente foi exonerado do comando do Detran.
Currículo de peso
Como se vê, João Roberto Baird pode ter muita coisa a revelar. Mas seu interesse em delatar não é tão voluntarioso assim, afinal, suas relações financeiras com os irmãos Joesley Batista e Wesley Batista do grupo JBS são como largas avenidas que podem ser pontos de ligação entre as tramoias dos “irmãos coragem” com muita gente graúda.
E isso se tornou um problema depois que os “irmãos coragem” terem decidido abrir o jogo sobre o elaborado e abrangente esquema de corrupção que era alimentado com recursos das empresas do grupo JBS.
As prisões de Wesley Batista, Joesley Batista e Ricardo Saud, por conta da reviravolta no processo de delação que eles celebraram, e a perda da garantia de imunidade que tinha sido acordada com o Procurador-Geral da República Rodrigo Janot, faz com que as revelações de João Roberto Baird tenham um peso maior.
Além disso é certo que o “irmãos coragem” tenham interesse em recuperar parte dos benefícios que perderam com a rescisão do acordo de colaboração premiada que haviam celebrado com a PGR. Então a tendência é que novas revelações sejam feita, e geram aprofundamento de investigações em curso a partir de novas provas e detalhamento das informações já prestadas.
Wesley e Joesley Batista informaram que o esquema de trocar incentivos fiscais por propina teria sido discutido com João Baird, que na época seria operador do então Governador Zeca do PT. Segundo os “irmãos coragem” teria sido João Baird quem acertou os detalhes do acerto que definiu o valor de propina de 20% sobre o valor de benefícios fiscais concedidos pelo Governo do Estado. A CPI do JBS já apurou que o grupo não cumpriu boa parte das cláusulas contratuais para o regime de tributação diferenciada.
João Roberto Baird então decidiu se apressar, juntou sua equipe financeira e passou as últimas semanas reunindo as provas que prometeu apresentar ao Ministério Público Federal, com base no seu termo de acordo de colaboração premiada.
Basicamente deve apresentar detalhes de que como foi elaborado o esquema de troca de incentivos fiscais por propina, além de revelar a rota dos recursos desviados até a lavagem de dinheiro, e o sistema de saques que possibilitava que recursos desviados chegassem em espécie nas mãos de políticos e demais autoridades públicas.
Detalhes pitorescos sobre dinheiro desviado sendo colocado em caixas de arquivo, como se fossem papeladas de escritório, que então eram transportadas em comboios de veículos de passeio, até serem entregues nas mãos de diversas personalidades, muitas já carimbadas pelo noticiário policial, outras tidas como pessoas exemplares.
Áudios gravados pelos operadores do esquema montado por João Baird darão o que falar. No mesmo estilo “irmãos coragem”, foram gravadas reuniões com autoridades públicas que deveriam ser incorruptíveis por missão institucional, onde eram discutidos detalhes de “operação abafa” e estratégia de blindagem. Algumas gravações não são recentes e foram feitas para servirem como garantia futura de salvo conduto.
Alguns desses crimes já até prescreveram, mas as informações podem revelar a localização do patrimônio que foi construído com dinheiro sujo, que vai desde empresas, carros de luxo, terrenos, edifícios, até propriedades rurais compradas no Paraguay. Porém muitos outros crimes ainda são recentes e passiveis de punição.
Para aqueles que achavam que o pior já tinha passado, aguardemos, porque João Baird e sua equipe ainda tem muito a caguetar.