Enquanto o secretário municipal de Saúde de Campo Grande, Marcelo Luiz Brandão Vilela, recebe R$ 22,6 mil por mês para não trabalhar no Hospital Regional Rosa Pedrossian (HR), a direção da unidade de saúde, que é mantida pelo Governo do Estado, anunciou no começo do ano que iria alterar o cardápio para quem está internado, substituindo a carne pelo ovo.
Agora, o descaso do Estado, que ao invés de “caçar” os fantasmas de dentro do Governo, limita-se a estabelecer cortes, tanto no atendimento a pacientes que procuram diretamente o Pronto Atendimento Médico (PAM), como também para quem já está internado e para servidores. Os problemas vão de deficiência no cardápio alimentar de pacientes e funcionários, a falta de cadeira de rodas adequada para transportar quem passa por atendimento.
Uma situação que demonstra estar se repetindo há pelo menos 20 dias é de que a unidade não tem mais servido carne para a alimentação de pacientes. Para manter fonte de proteína no cardápio, a direção do HR está oferecendo apenas ovo. Funcionários que também comem no Hospital Regional estão sofrendo o corte. A situação foi relatada à reportagem por pessoas que preferiram não se identificar.
Outra falta de estrutura foi gravada em vídeo. A cena mostra um paciente sendo transportado em cadeira de escritório. As imagens foram enviadas ao Portal Correio do Estado e a informação é que nem sempre há cadeira de rodas adequada para transportar pacientes. Por isso, equipes que trabalham no hospital acabam utilizando de outros meios para realizar o atendimento.
Deficiência nos elevadores do HR também tem sido recorrente. O hospital, que tem 10 pavimentos, possui três sistemas de transporte internos grandes e um elevador social. Mensagens enviadas para a reportagem relataram que no último mês, apenas dois desses equipamentos estavam funcionando corretamente: que seria o social e um elevador grande.
Fantasma?
Enquanto isso, o secretário municipal de Saúde acumula três salários por mês, que lhe rendem R$ 51.400,77. Além de receber 151,8% acima do teto, ele recebeu R$ 22,6 mil sem trabalhar no Hospital Regional. O valor pago a ele como “fantasma” é nove vezes maior que o salário base do médico na rede municipal de saúde na Capital.
Marcelo Brandão tem três vínculos empregatícios. Para ocupar o cargo de secretário municipal de Saúde, a Prefeitura lhe pagou R$ 24.401,37 no mês de março deste ano, sendo R$ 16,2 mil referente a remuneração retroativa e R$ 8,1 mil como indenizações temporárias. Só neste item, ele já acumulou salário superior ao pago ao prefeito Marquito Trad (PSD), que recebe R$ 20,4 mil por mês – quantia usada como parâmetro para definir o teto do funcionalismo público municipal. Ao contrário dos demais funcionários, ele não teve nenhum centavo retido por ter ultrapassado o teto.
Apesar do cargo de secretário exigir dedicação integral em decorrência de a pasta ser a mais complexa e problemática, ele encontra tempo para manter o vínculo de professor com a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Em março, ele teve remuneração de R$ 4.371,54. Por meio da assessoria, ele explicou que recebe para atender duas vezes por semana no Hospital Universitário, onde também realiza cirurgias e é o responsável pela preceptoria de médicos residentes.
O terceiro salário é pago pelo Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian, onde o secretário admitiu que não trabalha desde que assumiu a Secretaria Municipal de Saúde em 1º de janeiro. Apesar de não cumprir nenhuma hora no estabelecimento hospitalar, ele recebeu R$ 22.627,86 – a soma de R$ 17.222,36 de remuneração e mais gratificação de R$ 5.405,50 – em março deste ano, conforme o Portal da Transparência do Governo Estadual.
Sobre o salário pago pelo HR, onde admitiu não desempenhar a função desde que foi cedido com ônus para a Prefeitura, ele responsabilizou a burocracia pelo pagamento, porque a cedência foi publicada com atraso.