Tem algo de estranho no ar! Polícia Federal faz buscas na Seleta de Campo Grande

Policiais federais amanheceram nesta quinta-feira (25) no prédio da Seleta (Sociedade Caritativa e Humanitária), em Campo Grande (MS), e presidente da entidade, Roberto Barros de Oliveira, afirma que a presença das equipes da PF (Polícia Federal) no imóvel é por conta de investigação sobre contratos de trabalho.

No mês de dezembro, a Justiça do Trabalho colocou o imóvel, que ocupa quase uma quadra na Vila Esplanada, a leilão por R$ 17, 8 milhões. A construção fica entre as ruas Pedro Celestino, Dolor Ferreira de Andrade e João Pessoa. A instituição “quebrou” depois que decisões judiciais impediram a manutenção dos convênios com o poder público.

Desde 2016, inúmeros processos contra a Seleta minaram a capacidade de atuação da entidade, que se viu obrigada a pagar dívidas trabalhistas através da venda de imóveis em leilão judicial. Os convênios com a prefeitura de Campo Grande, que depois foram barrados pela Justiça, começaram na gestão do ex-governador André Puccinelli (MDB), então prefeito da Capital.

Os trabalhadores teriam de atuar em Ceinfs (Centros de Educação Infantil) e Cras (Centro de Referência à Assistência Social). Mas a estimativa é que, além de funcionários fantasmas, pelo menos 2,7 mil estavam em desvio de função.

“Na prática, a Omep e a Seleta foram transformadas numa agência de empregos, recebendo comissão de 5% sobre os custos mensais do convênio”, diz a decisão judicial. Mais de 4.300 pessoas foram contratadas dessa forma, com espaço para apadrinhados políticos e até parentes do ex-prefeito Alcides Bernal (PP).

A lista de trabalhadores pagos pelo convênio também incluía pessoa presa há anos e moradora de Ladário, cidade a 421 km de Campo Grande. Os contratos foram alvo de operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) em 2016.

O presidente da Seleta chegou de carro ao imóvel, na Rua Pedro Celestino, e falou rapidamente com a imprensa. “Estou sabendo que é originário do Ministério do Trabalho, da Procuradoria do Trabalho. São contratos de trabalho”, disse.

Ao deixar o prédio da Seleta, Roberto Barros de Oliveira voltou a dar entrevista, mas com uma explicação confusa. “Estão recolhendo material para investigação, só documentos. Um TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] de mais de dez anos. É alguma coisa em relação ao TAC, mas do outro lado. Desvio, pessoas trabalhando a mais. Graças a Deus, dessa vez, a Seleta não está envolvida”, disse.