Se gritar pega ladrão…! Semana marcada por 8 operações que movimentaram polícia em todo Estado

Em uma semana, contando do dia 22 ao dia 30 de novembro, foram realizadas pelas forças de segurança de Mato Grosso do Sul – Polícias e Ministérios Públicos – oito operações especiais para combater os mais variados crimes, desde pedofilia, passando por tráfico de drogas, pagamento de propina, corrupção e terminando com fraudes em concurso público e licitações. Enfim, o Estado teve uma semana cheia, ou melhor, oito dias repletos de crimes para todos os lados e gostos, como há muito tempo não se via por essas bandas.

As operações realizadas ao longo dos últimos oito dias de novembro foram: Operação Luz na Infância (22), Operação Mensalinho (26), Operação Computadores de Lama (27), Operação Carta Convite (28), Operação Back Door (28), Operação Captare (29), Operação Planum (29) e Operação Reagente (30). A primeira delas, a Operação Luz na Infância, foi deflagrada no dia 22 de novembro pelo Ministério da Segurança Pública e envolveu policiais civis de Mato Grosso do Sul e mais 17 Estados, bem como o Distrito Federal (DF), e cumpriu 69 mandados de busca, apreensão e até de prisão.

A operação deu continuidade aos trabalhos de identificação de crimes relacionados ao abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes praticados no meio cibernético em quase todo o País. Também participaram da operação o Corpo de Investigações Judiciais (CIJ) do Ministério Público Fiscal da Cidade Autônoma de Buenos Aires, na Argentina, onde cumpriu simultaneamente 41 mandados de busca. A Operação Luz na Infância teve início em outubro de 2017, quando foram cumpridos 157 mandados e presos 112 abusadores, sendo que na 2ª fase, ocorrida em maio de 2018, houve cumprimento de 579 mandados de busca, resultando na prisão de 251 pessoas.

Nesta 3ª fase, somente em Mato Grosso do Sul, foram quatro presos, ante outros cinco já pegos nas duas ações anteriores. Entre os detidos no Estado estão um técnico de laboratório de 37 anos, morador do Distrito Indubrasil, em Campo Grande, um jovem de 21 anos, morador do Jardim Tijuca, também na Capital, e um engenheiro da Câmera de Vereadores de Jardim, cuja casa era alvo de buscas e apreensão na cidade, mas foi encontrado pelas equipes policiais em Campo Grande e acabou preso em flagrante.

Já a segunda foi a “Operação Mensalinho”, deflagrada no dia 26 de novembro pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) para investigar o esquema conhecido como “mensalinho” na Prefeitura e na Câmara de Vereadores de Ladário. O prefeito Carlos Anibal Ruso Pedrozo (PSDB), o secretário municipal de Educação, Helder Naulle Paes, e sete dos 11 vereadores acabaram foram presos preventivamente.

Conforme o MPE (Ministério Público Estadual), as investigações têm por objetivo esclarecer uma suposta prática dos crimes de associação criminosa, corrupção ativa e corrupção passiva no Legislativo e no Executivo da cidade. Os mandados de prisão, suspensão do exercício de mandatos e de cargo público no município foram determinados pelo desembargador Emerson Cafure, da Seção Especial Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS).

O presidente da Câmara de Ladário, Fábio Peixoto de Araújo Gomes (PTB), e mais dois vereadores – que colaboram com as investigações – chegaram a receber R$ 3 mil do prefeito Carlos Anibal Ruso Pedrozo (PSDB) para não “abrirem a boca”. O parlamentar contou que desde março, quando protocolou denúncia e passou a colaborar com a investigação do Ministério Público, ele e os vereadores Daniel Benzi (MDB) e Jonil Júnior Gomes Barcelos (PP) chegaram a receber do prefeito R$ 3 mil para evitar denúncias sobre a administração de Ruso.

Dinheiro pago aos outros vereadores, que compactuavam com o chefe o Executivo. “Ele não queria que o nosso serviço fosse feito”, conta. Cada vereador recebe salário em torno de R$ 6 mil. Os vereadores presos são: Augusto de Campos, Lília Maria de Vilavalva de Moraes Silva, Paulo Rogério Feliciano Barbosa, Osvalmir Nunes da Silva, André Franco Caffaro, Agnaldo dos Santos Silva Junior e Vagner Gonçalves.

A terceira foi a Operação Computadores de Lama, que foi realizada no dia 27 de novembro pela Polícia Federal, CGU (Controladoria Geral da União) e Receita Federal e faz parte da Operação Lama Asfáltica, para combater as remessas clandestinas de valores em dinheiro ao exterior feitas pelos proprietários de empresas de informática investigadas nas fases anteriores. Foram presos o dono New Tec, João Baird, o ex-secretário-adjunto de Fazenda, André Luiz Cance, o empresário Antônio Celso Cortez, dona da PSG Tecnologia Ltda., e um homem que atuava como “laranja”, chamado Romilton Rodrigues de Oliveira.

Conforme as investigações, os envolvidos no esquema decidiram enviar o dinheiro para outro país após a deflagração da primeira fase da operação, em 2015. Nesta nova fase foi demonstrado como os investigados escondiam os recursos arrecadados em propina durante os governos de André Puccinelli. A investigação ainda aponta que o ex-governador André Puccinelli (MDB) é o “principal beneficiário do esquema”, inclusive com empresas fictícias no Paraguai.

“Nesta 6ª fase estamos dando continuidade à origem de desvios de recursos públicos, envolvendo corrupção. Esta nova fase demonstra como os investigados fizeram para esconder os recursos, então a evasão de divisas e lavagem de dinheiros foram objetos de investigação. Encontramos depósitos não declarados no exterior, uma ação descoberta na época do Banestado, há mais de 15 anos. É o tipo de metodologia dólar-cabo, em que doleiros do exterior trocam o dinheiro com doleiros brasileiros e fazem a compensação no mercado negro”, afirmou o superintendente da PF no Estado, Luciano Flores.

Na quarta-feira (28), foi deflagrada a Operação Carta Convite, com o Gaeco, em conjunto com a Promotoria de Justiça de Taquarussu, deu cumprimento a oito mandados de busca e apreensão em Campo Grande para apuração de crime de fraude à licitação, corrupção e associação criminosa, envolvendo empresas contratadas por municípios para a realização de concurso público.

Foram cumpridos mandados de busca nas residências dos proprietários, reais e ocultos, das empresas SIGMA Assessoria em Gestão Pública e VALE Consultoria e Assessoria EIRELI, bem como na sede das empresas. Nessa investigação apura-se fraude a licitação nº 12/2018, ocorrida no município de Taquarussu, para contratação de empresa para realização de processo seletivo de servidores públicos, via concurso. O nome da operação faz referência à modalidade de licitação utilizada pelos Municípios para a contratação das empresas investigadas – modalidade Carta Convite.

 

Mais quatro

No mesmo dia, ou seja, 28 de novembro, o Gaeco deu continuidade à Operação Back Door para cumprir oito mandados de busca e apreensão contra empresas suspeitas de fraudes em concursos públicos. Neste ano, a Operação Back Door mirou concurso aplicado pela Prefeitura de Aparecida do Taboado e as investigações resultaram no afastamento de cinco servidores comissionados e um concursado.

A juíza Kelly Gaspar Duarte Neves determinou afastar dos cargos o secretário municipal de Administração, Kaiser Carlos Corrêa, que era funcionário de confiança da prefeitura, alvo de mandado de prisão temporária na força-tarefa, deflagrada pelo Gaeco no dia 3 de julho. Kaiser levantou suspeita porque ele e outro inscrito para o cargo de analista de controle gabaritaram a prova.

Já no dia seguinte, isto é, dia 29 de novembro, teve início a Operação Captare, que envolveu policiais civis do Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul e mirou quadrilha especializada no tráfico de drogas. Além de Cuiabá e Várzea Grande, os policiais cumpriram ordens judiciais em Campo Grande, Dourados e Coxim, sendo que, no total são 52, sendo 28 mandados de prisão preventiva, 22 mandados de busca e apreensão domiciliar e 2 mandados de apreensão de veículos.

Três mandados de prisão foram cumpridos em Dourados pelo SIG (Setor de Investigações Gerais), em apoio à Polícia Civil de Cuiabá (MT). Wallace Alberto Chireia de Souza, Maísa Oliveira Pereira e Ana Cláudia Pereira da Silva, todos moradores na cidade, são apontados como integrantes do grupo. Eles participam no envio de entorpecentes ao Mato Grosso. De acordo com a investigação, a quadrilha foi responsável pela movimentação de duas toneladas de maconha pelas rodovias dos dois Estados nos últimos quatro meses.

As investigações começaram há quatro meses no intuito de desarticular esquema que abastece as bocas de fumo da região de Cuiabá. A droga era adquirida em forma de consórcio em MS e transportada em veículos de carga. Ao longo do período, foram apreendidos 2,5 toneladas de maconha e seis veículos, através do rastreamento realizado pelos policiais civis daquele Estado.

O nome ‘Captare’ é de uma casta de anjo presente na obra literária de ficção Ignavos, escrita por um investigador de polícia desta Especializada. Os Captares, ou rastreadores, como também são conhecidos, são tidos como uma espécie de “serviço secreto”, encarregados de caçar e procurar inimigos, aqui, fazendo uma referência aos traficantes.

Também no dia 29 de novembro foi realizada a Operação Planum pela Polícia Federal, mirando doleiros que movimentaram R$ 1,4 bilhão com tráfico de cocaína nos Estados de Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Goiás. Ao todo, 200 policiais federais cumpriram 21 mandados de prisão, 40 de busca e apreensão e ordens judiciais para sequestro e bloqueio de mais de R$ 25 milhões em imóveis, fazendas, aeronaves, embarcações, veículo e contas bancárias.

No Estado, os policiais cumpriram mandados em Campo Grande, Fátima do Sul e Caarapó. As investigações começaram em junho do ano passado para apurar o envio de cocaína da Bolívia para a região sul do Brasil. Segundo a polícia, aviões partiam de Mato Grosso do Sul para serem carregados com grande quantidade de cocaína (em média 500 quilos) na Bolívia. De lá, seguiam para o Rio Grande do Sul, onde pousavam em fazendas adquiridas pela organização criminosa. Na sequência, a droga seguia pela rodovia para outros Estados e permanecia em depósito até ser despachada para a Europa por meio de portos brasileiros.

Uma das apreensões ocorreu no terminal portuário de Navegantes (SC) em maio de 2016. Na ocasião, foram encontrados 811 quilos da droga escondidos em blocos de granito em contêineres que seriam despachados para a Espanha. Em outra apreensão, em junho deste ano, a Polícia Federal flagrou 448 quilos da droga escondidos em um bloco de concreto em um caminhão que seguia pelo município de Unistalda (RS). Porém, não foi possível comprovar o volume de 2,2 toneladas de cocaína que foram enviadas ou que seriam despachadas do Brasil para Europa pelo grupo criminoso.

A última foi a Operação Reagente, realizada nesta sexta-feira (30) pelo Gaeco para cumprir 17 mandados – 3 de prisão preventiva e 14 de busca e apreensão – em ação contra fraudes em licitações do HR (Hospital Regional) de Campo Grande. A Operação Reagente, segundo divulgou o Gaeco, mira organização criminosa responsável pelo esquema envolvendo equipamentos médicos. Equipes do Gaeco e policiais militares do Batalhão de Choque também fizeram buscas na casa do diretor-presidente da unidade, Justiniano Vavas, no Bairro Carandá Bosque, que acabou preso por posse de uma espingarda calibre 36.

O Gaeco ainda fez buscas na sede da SAD (Secretaria de Estado de Administração). A equipe chegou ao prédio no Parque dos Poderes nas primeiras horas da sexta-feira (30) e deixou o local por volta das 10h com documentos. O gerente do laboratório do Hospital Regional Rosa Pedrossian, em Campo Grande, Adriano César Augusto Ramires, e o dono da Neoline (empresa de produtos hospitalares), Luiz Antônio Moreira, também foram presos durante a Operação Reagente.

Fraudes em licitações e desvios de recursos dos cofres do Hospital Regional de Campo Grande causaram prejuízos da ordem de R$ 3 milhões. A força-tarefa investiga crimes de fraude em licitações, peculato, corrupção ativa e passiva e organização criminosa, com envolvimento de empresas na Capital e de São Paulo. O nome da operação tem relação com um dos materiais “adquiridos fraudulentamente pelo Hospital Regional”, no caso os reagentes químicos utilizados para exames laboratoriais, conforme divulgou o MPE.

O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) determinou que a Secretaria de Governo e Gestão Estratégica e Secretaria de Saúde avaliem o cunho da denúncia envolvendo o Hospital Regional de Campo Grande. “Parece que já têm decisões com medidas cautelares propostas pela juíza de afastamento. Já está na própria medida”, disse, destacando que o Governo vai continuar acompanhando o desenrolar da operação. “Não foi uma ação só do Gaeco. A Controladoria Geral do Estado acompanhou a ação e está responsável em acompanhar”, afirmou.