A política é realmente uma caixinha de surpresas, o “aprendiz de feiticeiro”, vereador novato Tiago Vargas (PSD), que foi o mais votado nas eleições do ano passado em Campo Grande (MS) e ficou conhecido por criticar nas suas redes sociais diversos políticos e pessoas envolvidas no meio no ano de 2017, não poderia ter escolhido um professor melhor: o deputado federal Loester Trutis (PSL/MS), mais conhecido como “Tio Trutis”.
Mesmo com o “nobre” parlamentar federal tendo sido preso no ano passado por falso comunicado de atentado e posse ilegal de armas de fogo, o que está lhe rendendo uma investigação por parte da Polícia Federal, Tiago Vargas resolveu se aliar a ele. Nesta quinta-feira (25), o vereador postou nas suas mídias sociais um encontro com Tio Trutis em Brasília (DF).
Na postagem, ele revela que firmou um compromisso em prol de Campo Grande com o deputado federal, que estará enviando verbas federais para a melhoria da cidade. “Eu como vereador estarei fiscalizando o uso de cada centavo gasto”, garantiu Tiago Vargas ao tirar uma foto ao lado de Tio Trutis no gabinete dele em Brasília.
É a velha máxima: “diga-me com quem andas e te direi quem tu és”. Para quem não sabe, o vereador novato é cria das redes sociais, tendo mais de 54,6 mil seguidores no Instagram e 39 mil no Facebook. Ele ficou conhecido quando se envolveu em polêmica por criticar, em suas redes sociais, diversos políticos e pessoas envolvidas no meio, no ano de 2017.
Tiago Vargas foi exonerado do cargo que ocupava como investigador da Polícia Judiciária em 17 de julho de 2020 e, na ocasião, ele disse em prantos em vídeo que circulou na internet que sua exoneração estaria ligada ao seu posicionamento político e críticas que teria feito contra o Governo do Estado.
Porém, a versão da Polícia Civil é diferente, informando que o ex-inspetor respondia a 9 infrações disciplinares tanto na vida pública, quanto na vida privada, de modo a danificar a imagem da Polícia Civil perante a sociedade. A decisão da exoneração de Tiago constou na Resolução “P” Sejusp-MS n° 343/2020, assinada pelo secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira.
Já Tio Trutis dispensa apresentações, afinal, está sendo investigado pela Polícia Federal por ter simulado a ocorrência de atentado para obter dividendos políticos junto ao seu eleitorado. Para quem não se lembra, na manhã do dia 16 de fevereiro de 2019, ele publicou em suas mídias sociais que teria sofrido um atentado a tiros na BR-063, no trecho entre Campo Grande e Sidrolândia.
No entanto, conforme a PF, tudo não passou de uma fraude montada pelo deputado federal, que chegou a ser preso no dia 12 de novembro do ano passado durante uma operação para o cumprimento de vários mandados de busca e apreensão nos endereços ligados a ele, ao irmão dele, Alberto Carlos Gomes de Souza, ao seu assessor, Ciro Nogueira Fidelis, e ao ex-primeiro-secretário do PSL da Capital, Jovani Batista da Silva.
Porém, o “nobre” parlamentar não chegou a passar uma noite na cadeia, pois a nova lei que trata de prisões em flagrante por posse irregular de armas de fogo livra quem registra suas armas como colecionador. Desde então, está sendo travada uma verdadeira batalha na Justiça e, conforme a última movimentação, o MPF (Ministério Público Federal) manifestou-se contrário à devolução das armas apreendidas durante a “Operação Tracker”.
Além disso, o órgão ainda avalizou as investigações sobre o suposto atentado contra o deputado federal e se opôs ao trancamento delas. Os pedidos pela devolução das armas apreendidas e a suspensão da investigação foram feitos pela defesa de Trutis e de seu assessor, Ciro Fidelis, no âmbito do inquérito que apura o suposto ataque no STF (Supremo Tribunal Federal).
As investigações da Polícia Federal acerca do suposto atentado de fevereiro de 2020 se voltaram contra Loester Trutis a partir de trabalhos periciais. Laudos balísticos, de exame de local e informações de georreferenciamento entraram em rota de colisão com o que alegavam o deputado e seu assessor. Assim, a PF concluiu que o atentado foi simulado por Trutis, de olho em dividendos políticos e eleitorais. O parlamentar é um entusiasta voraz da flexibilização do Estatuto do Desarmamento.
A polícia identificou que ele sequer foi seguido no dia do suposto ataque a tiros. Além disso, a descrição dada pelo deputado federal sobre o veículo supostamente envolvido no atentado contra ele levou os investigadores a uma caminhonete “antiga e deteriorada, que certamente não teria condições mecânicas razoáveis para ser utilizada em um atentado em face de alguém que estava embarcado em um potente Toyota Corolla”, conforme descreve o inquérito.
Com base no trabalho da PF, a ministra Rosa Weber deferiu os pedidos para busca e apreensão contra Trutis, seu irmão, Fidelis e Jovani Batista da Silva. Para a magistrada do STF, as provas obtidas no âmbito da investigação podem implicar Loester Trutis nos crimes de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, disparo de arma de fogo, dano e comunicação falsa de crime.