A ousadia dos traficantes de drogas que operam na região de fronteira do Brasil com a Bolívia e Paraguai não tem limites. Agora, além de aviões, os marginais estão usando helicópteros para o transporte de drogas, como já tinha sido noticiado pelo Blog do Nélio em março de 2016, quando ladrões roubaram um helicóptero em São Paulo, pintaram no Paraguai e levaram para o tráfico na Bolívia.
Na época, somente o Ministério Público do Paraguai estava procurando o helicóptero roubado em Mairinque, região metropolitana de São Paulo, por bandido vestido de Papai Noel, e levado para o Paraguai. Tanto policiais norte-americanos como brasileiros desistiram da busca, sendo que eles até estiveram em solo paraguaio, mas não conseguiram fazer avançar as investigações, com o crime continuando sem solução até hoje, dois anos depois.
A última coordenada da aeronave foi no Chaco paraguaio, quase na fronteira com a Bolívia e Argentina. O helicóptero já tinha sido pintado de preto e repintado de verde e teria sido uma encomenda de bandidos paraguaios. De acordo com fontes que preferem não se identificar, o helicóptero voou de Salto Del Guairá, fronteira com Mundo Novo (MS), para o Chaco paraguaio para uma fazenda.
Agora, dois anos depois, a Polícia Civil de São Paulo prendeu três pilotos e apreenderam um helicóptero suspeito de ser usado no tráfico internacional de cocaína, na quarta-feira (25), em Arujá (SP). Os agentes acreditam ter desmantelado esquema em que os profissionais ensinavam rotas da fronteira do Pantanal com a Bolívia – fora do controle das autoridades – a integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que controla a entrada de drogas e armas nos limites de Mato Grosso do Sul.
A aeronave era monitorada desde janeiro e, segundo a Polícia, nos últimos quatro dias, tinha 56 horas de viagem não registradas em bordo ou comunicadas à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). “Não havia plano de voo, típico de facções criminosas que transportam drogas da Bolívia para São Paulo”, disse Aldo Galiano Júnior, delegado seccional de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, e que comandou a operação.
Entre os pilotos presos está Rogério Almeida Antunes, detido em 2013 pela Polícia Federal no Espírito Santo, transportando 450 quilos de cocaína em helicóptero da empresa Limeira Agropecuária, do então deputado estadual mineiro Gustavo Perrella (SD), hoje diretor da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A Polícia aponta que foi detectado não só que o próprio piloto e os comparsas buscavam cocaína e utilizavam bases montadas em
Corumbá, Ladário e cidades de Mato Grosso, mas também ofereciam ensinamentos sobre rotas para que integrantes da facção criminosa cumprissem prazos e pedidos quando não estavam disponíveis para voar.
Apesar de o helicóptero apreendido ser todo adapta do para o transporte de drogas, com os bancos senão o do piloto removidos, o grupo de pilotos realizava outros serviços. Felipe Ramos Moraes, piloto que é integrante do PCC e é apontado pela polícia como integrante do grupo que matou dois líderes da quadrilha, em fevereiro, no Ceará, faz o transporte de lideranças para Puerto Suarez, na Bolívia, cidade usada como base para carregamentos das aeronaves com cocaína. Ele continua foragido.
A necessidade de recorrer à mão de obra especializada e abrir rotas na Bolívia cresceu para o PCC depois que o FBI (polícia federal dos EUA) e a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai aumentaram o controle de voos não identificados em operações realizadas durante todo o ano passado para coibir o tráfico aéreo no País. Mais de 32 pistas e hangares clandestinos foram desmantelados em sete meses de atuação em Ponta Porã, Bela Vista e seus limites fronteiriços.