Santa Casa dá calote em clínica e fila da urologia passa de 1,5 mil pacientes em Campo Grande

O MPE (Ministério Público Estadual) abriu inquérito civil para investigar a suspensão dos atendimentos ambulatoriais e cirúrgicos para pacientes com doenças urológicas na Santa Casa de Campo Grande.

Conforme o órgão, pelo menos 1.572 pacientes estão na fila por procedimentos urológicos, enquanto repasses firmados em convênios — como a transferência de R$ 3,6 milhões em emendas parlamentares federais e estaduais, especificamente para a prestação desse serviço — podem ter ficado pelo caminho.

Em Campo Grande, o agendamento de novas consultas urológicas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) estava suspenso até o dia 21 de maio, não havendo, segundo o município informou ao MPE no procedimento preparatório que antecedeu o inquérito, registro oficial da retomada.

É isso que a promotora de Justiça Daniella Costa da Silva vai investigar no inquérito civil. A investigação teve início após comunicação oficial feita em fevereiro de 2025 pela Uroclinic, empresa contratada para prestar o serviço no hospital, de que os atendimentos urológicos na Santa Casa foram interrompidos por causa da inadimplência da instituição.

À 32ª Promotoria de Justiça da Saúde, a Santa Casa alegou dificuldades financeiras e afirmou estar aguardando a liberação de repasses referentes a dois convênios. Um deles, no valor de R$ 15 milhões, firmado com a Secretaria Estadual de Saúde, teve duas parcelas pagas e uma ainda pendente. Outro, de R$ 5,3 milhões com recursos federais, ainda não havia sido quitado. A instituição também mencionou estar buscando recursos junto a instituições financeiras.

A Uroclinic também anexou ao processo o convênio assinado entre a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, o secretário de Saúde de MS, Maurício Simões, e a diretora da Santa Casa, Alir Terra. Nele, estava previsto o repasse de R$ 3,5 milhões em emendas — R$ 100 mil em emendas estaduais e o restante, federais.

A Secretaria de Estado da Saúde, por sua vez, informou ter feito um aporte emergencial de R$ 25 milhões, pago em três parcelas. Já a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) confirmou o encerramento temporário das agendas da Uroclinic e relatou que os atendimentos ambulatoriais e eletivos em Urologia só foram retomados no fim de maio.

Mesmo assim, a fila de espera ainda supera 1,5 mil pessoas, segundo dados do sistema de regulação municipal. O CRM-MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul) informou que não adotou providências, por entender que a situação diz respeito a uma relação contratual entre o hospital e a empresa prestadora.

A abertura do inquérito civil tem como objetivo aprofundar a apuração sobre os impactos da suspensão dos serviços e a destinação dos recursos públicos destinados à área. A Promotoria também pretende acompanhar as medidas adotadas para normalizar os atendimentos.

A investigação segue em andamento e deverá incluir novos esclarecimentos por parte das autoridades envolvidas, além do monitoramento da fila de espera e dos pagamentos pendentes.