A Santa Casa de Campo Grande, maior complexo hospitalar de Mato Grosso do Sul, foi responsável por 40% de todo o valor destinado aos hospitais do Estado para internações em 2023 e 2024. O dado consta em documento obtido com exclusividade pelo Correio do Estado.
Segundo o levantamento, a instituição também lidera a categoria de alta complexidade, respondendo por 62,1% do faturamento estadual e 61,8% do total de Campo Grande nesse tipo de atendimento. O estudo toma como base os números oficiais de 2023 e 2024.
Atualmente, a Santa Casa recebe R$ 392,4 milhões por ano, cerca de R$ 32,7 milhões mensais, provenientes do acordo tripartite firmado entre o governo federal, o governo estadual e a Prefeitura da Capital.
O orçamento estadual de 2024 destinou R$ 1 bilhão apenas para internações hospitalares — o equivalente a 42,5% dos R$ 2,3 bilhões investidos em saúde no período. Desse montante, R$ 108,9 milhões foram destinados à Santa Casa.
Para 2025, o valor global das internações caiu para R$ 919 milhões, uma redução de cerca de R$ 90 milhões. Apesar disso, o repasse à Santa Casa foi mantido. Mesmo assim, a direção do hospital tem cobrado a atualização dos valores, alegando estagnação diante do aumento de custos operacionais.
A instituição afirma que o contrato de repasse não é reajustado desde agosto de 2023. O valor atual de R$ 32,7 milhões mensais — soma das contribuições municipal e estadual —, segundo o hospital, não cobre as despesas da estrutura, levando à suspensão de 15 serviços considerados menos essenciais.
A Santa Casa pede reajuste para R$ 45,9 milhões mensais, o que representa aumento de 40,37%, além da recomposição retroativa referente aos dois últimos anos. O caso foi levado à Justiça, que concedeu prazo até o fim deste ano para que a entidade, a prefeitura e o governo estadual cheguem a um acordo.
O superintendente estadual do Ministério da Saúde, Ronaldo de Souza Costa, discorda da avaliação e afirma que “os recursos transferidos mensalmente são bastante significativos e deveriam dar conta das despesas”.
Com dificuldades financeiras, o hospital contraiu empréstimo de R$ 5 milhões no início de novembro para quitar uma das cinco folhas salariais atrasadas dos cerca de 400 médicos. A dívida total com a equipe médica ultrapassa R$ 30 milhões.
“É preciso entender o lado dos médicos. Não é porque são médicos que vão trabalhar de graça. Muitos dependem exclusivamente do hospital. Então, a Santa Casa precisou recorrer ao banco para pagar uma folha. O médico não tem culpa da crise instalada”, afirmou João Carlos Marchezan, diretor de Negócios e Relações Institucionais da instituição.
Os atrasos têm comprometido atendimentos em especialidades como cirurgia cardíaca, pediátrica, vascular, plástica, urologia, anestesia, ortopedia e radiologia. Os serviços de urgência e emergência, porém, seguem funcionando normalmente.
