Raízes do mal! Senapen revela que Comando Vermelho já está presente em 23 estados

Um relatório de inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senapen) mostra que a facção criminosa carioca Comando Vermelho (CV) continua em expansão pelo território brasileiro. Em 45 anos após seu surgimento no Rio de Janeiro, o grupo criminoso hoje atua em Mato Grosso do Sul e mais 22 estados – três a mais do que no ano passado

No último ano, Amapá, Pernambuco e Espírito Santo passaram a constar na relação de estados onde a facção atua. A organização criminosa só não tem representantes no Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e São Paulo – onde atua a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e é a única que tem integrantes em 24 estados.

O estudo revelou que o CV tem hoje 134 homens com posições de comando espalhados em presídios do país, o que representa 21% de todos os chefes de facções presos, sendo que o CV controla, também, 125 pavilhões no país.

“Essa expansão do Comando Vermelho, em alguns estados, principalmente para as regiões Norte e Nordeste é uma tendência por ser uma organização criminosa que se caracteriza por ser territorialista. Há talvez um interesse nessas regiões por serem regiões de fronteira com outros países, fronteira seca, mas também pegando ali a costa do Oceano Atlântico”, destacou o relatório da Senapen.

A expansão do Comando Vermelho pelo Brasil fez do Rio de Janeiro um local buscado por bandidos dessa quadrilha. Seja pela facilidade de se esconderem ou por ser aqui a origem da facção, o Rio abriga hoje pelo menos 253 criminosos foragidos de outros estados.

Só do Pará, são mais de 80 fugitivos. O local é tão estratégico para esses bandidos que os três homens que comandam o tráfico de drogas naquele estado vivem no Rio. Tiago Teixeira Sales, conhecido como “Gato Mestre”, atualmente ocupa o cargo que eles chamam de presidente da facção no estado.

Anderson Souza Santos, o “Latrol”, tem o cargo de vice e David Pinheiro Palheta, o “Bolacha”, é o tesoureiro do CV no Pará. Segundo as investigações, eles se escondem na Vila Cruzeiro e no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ).

“A própria topografia do Rio de Janeiro favorece a desordem urbana, que é a regra em todo o estado, isso favorece muito que esses faccionados venham para cá fugir da ação da Justiça. Imagina uma operação dessa na Maré, a complexidade que é pra localizar uma pessoa ali dentro, a quantidade de prédios, para baixo, para cima, você não tem endereço”, completou o relatório.

O professor de Ciências Políticas Benjamin Lessing, da Universidade de Chicago (EUA), se especializou em facções criminosas e pesquisa justamente a expansão do Comando Vermelho pelo Brasil, disse que um dos principais motivos foi a transferência de chefes do Rio para presídios federais.

“No Rio de Janeiro temos um único presídio de segurança máxima. O ideal é que nós tivéssemos pelo menos mais uns dois. São mais de 43 mil presos no Rio de Janeiro. Então, a dificuldade de controle disso é realmente o grande desafio. Tecnologias que evitem, por exemplo, que o preso continue mesmo dentro do sistema se comunicando aqui fora através de telefones celulares”, opinou.

Ele ressaltou que o único objetivo de que se fala é: ‘Vamos acabar com o crime organizado, vamos acabar com as facções, guerra às facções, combate ao crime”. Mas a ideia de que você vai acabar com os mercados de drogas, com o tráfico de drogas, é ilusório. Alguma coisa está dando errado. Vão acabar com o crime organizado fazendo aquilo que está fazendo há 40 anos.