O jornalismo investigativo costuma se deparar com situações, no mínimo, inusitadas — e algumas pautas nascem exatamente onde menos se espera.
Foi o caso do grupo “Amigos do Parque dos Poderes”, cujo ativismo de atuação despertou a curiosidade da redação do Blog do Nélio. A princípio, o objetivo era retratar o trabalho do coletivo. Mas, ao tentar contato, a pauta revelou uma série de sinais de alerta.
Um grupo sem rosto e sem voz
Não há e-mail, telefone ou nome de contato. Apenas um perfil de Instagram — que, mesmo após mensagens enviadas, nunca respondeu.
Outros veículos de imprensa também tentaram contato, buscando saber quem responde tecnicamente pelas postagens. Nenhum sucesso.
Tudo é oculto.
Os líderes do grupo são uma incógnita.
E foi aí que acendeu-se a luz amarela: começava uma apuração que, desde então, só tem crescido.
A defesa anônima e as perguntas sem resposta
Apesar da bandeira legítima de proteção ao Parque das Nações, o grupo atua de forma anônima. Nenhuma publicação é assinada, nenhum responsável é citado.
Não há CNPJ, CPF, ou qualquer entidade legalmente constituída.
Ter um perfil anônimo não é crime, é verdade — mas o uso do anonimato para atacar empresas, marcas e pessoas, com alegações sem embasamento legal, pode configurar delitos graves.
E surge a pergunta que não quer calar:
Quem financia as postagens e impulsionamentos?
Seleção de causas e silêncios convenientes
O grupo diz “defender o Parque das Nações de construções predatórias”, mas curiosamente não se manifesta em defesa do desenvolvimento urbano, dos empregos ou das oportunidades para todos.
É um discurso seletivo — que revela mais sobre suas origens do que tenta esconder.
Pelas apurações, trata-se de um movimento de moradores incomodados com a possibilidade de sombra em seus quintais. Situação parecida já foi vista em outros bairros, e acabou servindo de palanque para políticos de ocasião.
Mesmo tentando dar ar de seriedade à causa, nenhum dos candidatos que abraçou o discurso “ambiental” na última eleição superou 1.300 votos.
O recado das urnas foi claro: o povo não é tão manipulável quanto imaginam.
Escondidos entre 5 mil
O grupo reúne mais de 5 mil seguidores — em sua maioria, pessoas de boa-fé, que acreditam lutar por uma cidade melhor.
Mas o que está por trás do movimento?
Fontes ouvidas pela reportagem indicam que os líderes são empresários (inclusive do setor imobiliário, interessados em prejudicar concorrentes), servidores públicos de alto escalão e profissionais de comunicação residentes no Parque dos Poderes.
Gente influente, mas que prefere o anonimato.
A redação das postagens, marcada por tom agressivo e pouco técnico, seria de autoria de um engenheiro morador da região, inconformado com um projeto de construção vizinho ao seu condomínio.
Ele tem publicado relatórios e análises jurídicas carentes de base técnica, que circulam entre colegas como motivo de piada.
Além disso, o “anarquista digital” imputa crimes a construtoras, o que pode levar o grupo a responder financeiramente por indenizações futuras.
Acreditar na impunidade do anonimato pode sair caro para todos os “amigos secretos”.
Políticos em embarque autorizado
Como toda polêmica, o caso atraiu políticos oportunistas.
Alguns, sem sequer saber quem são os líderes do movimento, aderiram ao discurso, repetindo argumentos frágeis, sem respaldo técnico ou jurídico.
Um verdadeiro mico público.
Da boa intenção ao obscurantismo
O grupo também incentiva um abaixo-assinado inócuo, que funciona, na prática, como um cadastro eleitoral disfarçado de causa ambiental.
Muitos cidadãos assinam acreditando contribuir com o bem comum, mas acabam servindo como base de dados para futuras campanhas políticas.
No fim, a natureza que parece precisar de mais proteção é a natureza humana.
A apuração continua.
O Blog do Nélio segue recebendo novas informações sobre o caso, que estão sendo verificadas e serão objeto de matérias futuras.
