Uma reportagem da edição 109 da Revista CrusoÉ revela que, em pouco mais de 500 dias à frente do Ministério do Meio Ambiente, Ricardo Salles coleciona uma série de polêmicas que já resultaram em manifestações de repúdio pelo mundo, expulsão do partido e pedidos de impeachment. Agora, conforme a publicação, o episódio mais recente é o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril em que ele sugere que o Governo aproveite o foco do Brasil na pandemia do novo coronavírus (Covid-19) para ir “passando a boiada”, flexibilizando regras ambientais.
No entanto, o que realmente preocupa Ricardo Salles é o seu passado em São Paulo, onde atuou como advogado e agente público, o que originou dois inquéritos que o investigam por suspeita de tráfico de influência e advocacia administrativa e outro por enriquecimento ilícito. Em petição judicial, o MPE (Ministério Público Estadual) de São Paulo lista volumosa transações financeiras feitas por ele, que podem elucidar as duas investigações abertas e abrir uma nova frente na esfera criminal para apurar indícios de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
Dados da quebra de sigilos bancário e fiscal autorizada pela Justiça mostram que o ministro repassou R$ 2,75 milhões da conta de seu escritório de advocacia para a sua conta pessoal em 54 transferências feitas entre 2014 e 2017. Nesse período ele exerceu dois cargos públicos na gestão do governador Geraldo Alckmin e atuou como advogado na iniciativa privada, sendo que a transação que mais chama a atenção é a de R$ 250 mil feita entre os dias 31 de outubro a 12 de novembro de 2014, quando ele ainda era secretário particular do governador e estava afastado da advocacia.
Em 20 meses em que atuou como advogado de uma construtora e as duas passagens pelo Governo do Estado de São Paulo, ele trocou um apartamento de 137 m² por um duplex nos jardins, região de bairros nobres de São Paulo (SP), e comprou um iate de R$ 580 mil, que fica ancorado em Ilha Bela, no litoral paulista. As aquisições levaram o patrimônio do ministro para R$ 8,8 milhões em 2017, quando deixou o Governo pela segunda vez, um aumento real de 335% em relação aos bens que tinha antes de ingressar na vida pública.
Foi essa evolução patrimonial que desencadeou a abertura de um inquérito em agosto do ano passado para apurar enriquecimento ilícito. Em novembro o Tribunal de Justiça autorizou a quebra dos sigilos bancários e fiscal do ministro a pedido do MPE e descobriu que, além dos repasses do próprio escritório de advocacia, o ministro recebeu em sua conta pessoal R$ 728,5 mil em 14 transferências feitas da conta da mãe, que é advogada e sócia da mesma banca entre 2015 e 2017.
Para o MPE, ele ocultou vultosa movimentação financeira, dando indícios de sonegação fiscal, enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro. A dúvida é que se as suspeitas sobre a vida pregressa de Ricardo Salles podem colocar sua cadeira de ministro do Meio Ambiente em risco, pois, em tempos de aliança do Governo Federal com o enlameado “Centrão”, talvez os documentos em poder do MPE de São Paulo seja visto como apenas uma arvorezinha no meio da floresta e ele fique onde está, firm