Os erros sucessivos de Moon até os tiros fatais. Falhas na escola põe formação da PRF em dúvida

Ricardo Moon declarou à Polícia que trafegava pela Avenida Presidente Ernesto Geisel, por volta de 06h00, quando o empresário Adriano Correia teria saído da Rua Pimenta Bueno, dirigindo a camionete Hillux em alta velocidade, e quase colidindo com sua Pajero TR4. Depois disso, quando tentou ultrapassar a caminhonete, Adriano Correia teria jogado o veículo contra o dele, momento em que diminuiu a velocidade e desviou para evitar uma colisão.

No cruzamento com a Rua 26 de Agosto, ao parar no semáforo, o empresário teria parado atrás do seu veículo, sendo que, neste momento, Ricardo Moon declarou que sentiu sua vida em risco, temendo ser vítima de uma ação de bandidos de alguma organização criminosa que pretendia executá-lo, pois foi investigador da Polícia Civil de Mogi das Cruzes, em São Paulo, onde teria efetuado as prisões de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Por isso desceu do seu veículo com a mão sobre a sua arma de fogo, uma pistola PT 100, calibre .40, de propriedade da Polícia Rodoviária Federal, que estaria no coldre preso à sua cintura, quando visualizou duas pessoas dentro da caminhonete, sentadas nos bancos dianteiros. Quando se identificou como policial e solicitou que os ocupantes do veículo mostrassem as mãos para verificar se estavam armados, mas não teria sido atendido, acedendo então sua lanterna para melhor visualizar o interior da Hilux, quando percebeu um terceiro ocupante no banco de traseiro.

Ele teria dado a ordem novamente para os três ocupantes, que voltaram a não atender, sendo que os dois passageiros teriam saído de dentro do veículo e caminhado na direção dele, enquanto o condutor ficou dentro da caminhonete. Neste momento, Ricardo Moon disse que ficou muito assustado e sacou a arma, sendo ameaçado pelos dois passageiros que teriam dito: “vamos te pegar”.

Segundo termo de declarações, nesse momento o PRF pegou o seu aparelho celular e ligou para a PM, solicitando apoio para conter as três pessoas. Nisso os passageiros voltaram para dentro da caminhonete e Ricardo Moon teria se posicionado em frente ao veículo com a arma em punho, sendo que o empresário teria acelerado a Hilux indo em direção ao PRF, que disparou e o resultado foi que o motorista foi atingido e bateu a caminhonete no poste da rede elétrica logo à frente de onde eles estavam.

Ricardo Moon contou em seu depoimento que pegou a sua Pajero e foi até onde a caminhonete teria batido para verificar a situação, momento em que a viatura da PM teria chegado ao local e ele teria se identificado imediatamente como policial rodoviário federal e entregue sua arma de fogo aos policiais militares que o conduziram até a viatura da PM.

Por fim o PRF ainda informou que só tomou conhecimento de que o condutor veio a óbito quando foi informado na delegacia. E que não tinha intenção de atentar contra a vida de nenhum dos ocupantes do veículo, mesmo porque não os conhecia e, portanto, não tinha qualquer animosidade contra eles. Ainda no depoimento, ele garantiu que agiu instintivamente para se defender e, no momento da abordagem ao veículo do empresário, teria utilizado o próprio aparelho celular para acionar a Polícia Militar pelo 190, solicitando apoio.

Mas algumas inconsistências nas declarações de Ricardo Moon já foram identificadas:

Em seu termo de declarações ele afirma que estava uniformizado com as vestes tradicionais da PRF, embora os vídeos e as fotos feitos no momento do ocorrido mostram que ele estava com uma camisa listrada o que prejudica o reconhecimento do uniforme policial.

A fechada que a camionete promoveu contra a pajero do policial, teria sido na realidade uma manobra para desviar de um buraco na via.

Populares que presenciaram a tentativa de abordagem contam que os ocupantes da Hillux orientaram que fosse chamada a polícia de trânsito, pois a discussão tratava-se de  um desentendimento de trânsito. Mas quando o PRF sacou a arma, eles entraram na camionete para fugir.

Foram realizados ao menos nove disparos da arma do policial contra o veículo, dos quais sete acertaram a camionete, cinco desses alcançaram o corpo da vítima fatal e um deles o corpo do adolescente.

Os vídeos mostram ainda duas vítimas agonizando sob os olhares atônitos do PRF e dos policias militares. Uma das vítimas ainda esbraveja que o condutor estava morto dentro da camionete e que Ricardo Moon seria o responsável pelos disparos, além de que eles sequer teriam ameaçado o PRF.

DIRETRIZ DO USO DE ARMAS DE FOGO

A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e o Ministério da Justiça, ao qual estão vinculadas tanto a Polícia Rodoviária Federal, quanto a Polícia Federal, emitiram em dezembro de 2010 a Portaria Interministerial n.º 4226, que estabeleceu diretrizes para o uso de armas de fogo pelos agentes de segurança pública integrantes da PRF, da PF e também da Força Nacional. Entre outros, ficou definido que:

 

  1. Os agentes de segurança pública não deverão disparar armas de fogo contra pessoas, exceto em casos de legítima defesa própria ou de terceiro contra perigo iminente de morte ou lesão grave.
  2. Não é legítimo o uso de armas de fogo contra pessoa em fuga que esteja desarmada ou que, mesmo na posse de algum tipo de arma, não represente risco imediato de morte ou de lesão grave aos agentes de segurança pública ou terceiros.
  3. Não é legítimo o uso de armas de fogo contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, a não ser que o ato represente um risco imediato de morte ou lesão grave aos agentes de segurança pública ou terceiros.

Mas essa não é a primeira vez que policiais rodoviários federais que atuam na região de fronteira descumprem a diretriz do Ministério da Justiça. No dia 25 de outubro de 2016, uma lambança quase termina em tragédia. Um veículo Honda Fit roubado desobedeceu sinal de parada na cidade de Miranda. Uma barreira policial foi mal posicionada sobre a ponte do Rio Paraguai e com isso permitiu que o veículo roubado furasse o bloqueio. Para tentar impedir a fuga um dos policiais começa então a atirar contra o veículo, sem se importar com uma colega que está na linha de tiro. As cena são impressionantes, os dois policiais atiram um na direção do outro, e mesmo assim o veículo consegue passar entre ambos.

Coincidentemente o PRF Ricardo Hyun Su Moon que assassinou o empresário Adriano Correia do Nascimento com cinco disparos, estava se deslocando justamente para o posto da PRF de Corumbá.

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