Operação Courrier: advogada presa trocou 2 mil mensagens com líder do PCC em 10 dias

A advogada Inaíza Herradon Ferreira, que foi presa durante a “Operação Courrier”, trocou mais de duas mil mensagens com o núcleo “Sintonia dos Gravatas”, da organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) ofereceu denúncia contra 8 pessoas por envolvimento e, do dia 6 a 16 de agosto de 2021, a advogada trocou com o líder do PCC cerca de 2.946 mensagens, entre elas, fotos e áudios.

Na mesma época, com o servidor que forneceu a sua senha para um dos advogados integrantes do núcleo foram 567 mensagens. Ela chegou a ser orientada para usar o ‘Signal’, já que o WhatsApp era de fácil rastreamento. Quando a advogada foi presa em seu quarto foram localizadas 10 folhas pertinentes a operações contra a facção criminosa.

Em abril de 2021, foi apreendido um segundo bilhete, com nome de diversos servidores da Agepen-MS, acompanhados da frase: “cortar a árvore e colocar fogo — todos já rastreados”, mostrando ainda que foram feitos levantamentos da rotina destas pessoas, a fim de que elas também fossem alvos de atentados. Com a investigação, chegou-se à conclusão de que o preso Ed Carlos Rodrigues Dias, vulgo Heitor, seria o responsável pelo bilhete.

Em seguida, houve a transferência dele para o Sistema Penitenciário Federal, o que o levou a ameaçar um juiz da 1ª Vara de Execução Penal de Campo Grande, responsável pelo pedido de transferência. O Gaeco ainda apontou que, insatisfeito com a decisão do juiz, Ed Carlos pediu levantamentos dos locais onde o magistrado reside e trabalha, já que ele pretendia se vingar. Dois meses depois, em junho do mesmo ano, sabendo que um dos líderes do grupo criminoso, estava com um celular em mãos, foi solicitada uma varredura em uma cela do presídio fechado de Campo Grande.

No entanto, a vistoria do dia 1° de julho apontou que o líder regional do PCC, Edimar da Silva Santana, o Arqueiro, teria destruído o aparelho celular a fim de atrapalhar as investigações. Na mesma época, outra investigação foi iniciada, com procedimento instaurado e apurado pelo delegado Carlos Delano, da DEH (Delegacia Especializada em Repressão a Homicídios).

A investigação aponta que, em ligação telefônica, um policial penal relatou a um familiar que seria transferido. Ele disse que faria plantões no Presídio de Segurança Máxima. Conforme relatado pelo Gaeco, o policial tinha uma “relação promíscua” com o advogado. Os dois se mostraram bastante íntimos nas conversas flagradas pela acusação, sendo que o advogado frequentemente acionava o agente para pedir favores ilegais. Um dos favores atendidos seria a transferência de um preso.

Dória

A insatisfação com as transferências de líderes do PCC para presídios com regras mais rígidas, que dificultam o contato com o mundo externo, é o principal motivo para que a facção tramasse atentados contra policiais penais e outros servidores do sistema carcerário, além de promotores de Justiça e juízes. Até o ex-governador de São Paulo, João Dória (PSDB), estava na mira, conforme relatórios de inteligência que municiaram o Gaeco em denúncia contra a chamada “Sintonia dos Gravatas” em Mato Grosso do Sul.

Os planejamentos de ataques ao político e também ao diretor do Deppen (Departamento de Polícia Penal) do Paraná, Francisco Alberto Caricati, tiveram contribuições de integrantes do PCC presos na Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira, conhecida como Supermáxima.

De acordo com a investigação da inteligência da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário de MS), a cobrança para a realização dos ataques partiu de detentos da Penitenciária Federal de Porto Velho (RO), mas Ed Carlos Rodrigues Dias, conhecido como “Heitor”, e Elson Pereira dos Santos, o “Gordinho”, ambos removidos de Rondônia para a unidade do sistema carcerário estadual, foram os responsáveis por difundir a ordem.

Dentre outros “projetos” do PCC interceptados pela Gisp (Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário), em abril de 2021, também estava a organização de fuga de detentos da Supermáxima – façanha inédita, se tivesse sido concretizada. A ação estaria sendo capitaneada por Edimar da Silva Santana, vulgo “Arqueiro”, que contou com a ajuda de “Heitor” para fazer a interlocução com presos do Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, o presídio de segurança máxima localizado na saída para Três Lagoas. “Arqueiro”, conforme as apurações, havia conseguido apoio de traficante para fornecer 159 armas, longas e curtas, a serem usadas nos atentados contra os agentes.

Para viabilizar o plano, a intenção é assassinar funcionários públicos com cargo de gestão na Penitenciária da Gameleira e policiais penais integrantes do Cope (Comando de Operações Penitenciárias). Bilhete encontrado na cela 25 do pavilhão 1 da Supermáxima, assinado por “Heitor”, traz lista com vários nomes e fala em “cortar árvores e colocar fogo” e contém a frase “todos já rastreados”, o que para o Gaeco indica que “foram feitos levantamentos a respeito da rotina desses servidores, a fim de que também fossem alvos de atentados”.