O narcotraficante playboy William Alves Ribeiro, o “Peixe”, que foi preso pela Polícia Federal na quinta-feira (14), gostava de ostentar a fortuna que acumulou com o dinheiro sujo das drogas. Ele morava em uma mansão no condomínio de luxo Damha II, em Campo Grande (MS), onde foram apreendidos vários itens de luxo, como carros, mini buggy e jet ski.
Além disso, Peixe era dono de um haras, onde criava quatro cavalos de raça avaliados em aproximadamente R$ 250 mil cada animal e que eram usados para a lavagem do dinheiro oriundo do narcotráfico.
A PF informou que, ao chegar à mansão onde prenderam o narcotraficante, encontrou o celular e documentos pessoais dele no telhado da casa, objetos que foram localizados através de um drone.
Além dele, mais três pessoas foram alvos da operação: Nadja Tybusch Ribeiro (esposa), Welder Alves Ribeiro (irmão) e Rosany Larissa Aranda da Silva (cunhada). As contas bancárias de Peixe e do irmão foram bloqueadas e o saldo sequestrado pela Justiça.
“Através das análises bancárias e fiscais dos envolvidos, foi possível constatar um grande esquema utilizado na logística para entrega dos entorpecentes e no recebimento dos valores decorrentes dessa comercialização. Na entrega das drogas, foram empregadas empresas ligadas a familiares ou aos próprios envolvidos para emissão de documentos de transporte e notas fiscais de mercadorias agrícolas utilizadas para ocultar as drogas”, explicou a Receita Federal em nota.
Para o recebimento desses valores, as transações bancárias eram realizadas através de contas de empresas autorizadas pelos sócios e de contas vinculadas a parentes. Esses últimos, segundo a PF, não tinham lastro fiscal para a realização de grandes movimentações financeiras.
“Ressalte-se que, para blindar a origem dos recursos ilícitos, foram realizados investimentos em outras atividades econômicas como comercialização de veículos em garagens de terceiros, bem como atividades de manutenção e reparo de veículos”, complementou a Receita.
Na residência de um dos envolvidos, no Bairro Tijuca, foram apreendidos cinco veículos de luxo, sete armas de cano curto e uma de cano longo. O proprietário alegou ser colecionador, atirador desportivo e caçador (CAC), mas a investigação apontou que, além de drogas, a quadrilha também traficava armas e, por isso, todo o material foi apreendido.
Entre as empresas que foram alvo, boa parte é em nome de familiares do Peixe ou de supostos laranjas, entre elas, estão a Aliança Transporte de Veículos (W.A.R Transportes), Play Motors, WR Martelinho, Conect Peças, Subprodutos Bovinos, Ateliê da Nana, Duas Nações Materiais para Construção, Stilo Diva, Embaplast e Lolya Moda Feminina.
Essa última, horas depois da operação ser deflagrada, emitiu um comunicado que dizia que a loja ficaria fechada por tempo indeterminado e que os atendimentos só seriam feitos de maneira virtual. No Instagram, a Lolya Moda acumula 35,6 mil seguidores e leva o lema Vestindo e Empoderando Mulheres, sob propriedade da esposa do narcotraficante.
Ainda no nome da esposa dele, está a Embaplast, que, oficialmente, funciona na Rua Buarque de Macedo, nº 255, no Jardim Tijuca. Porém, no endereço não existe nenhum indício de que ali exista algum tipo de comércio de alimentos ou produtos de fumo, conforme apontam os registros oficiais da microempresa.
Nadja também é dona do Ateliê da Nana ou Nadja Ribeiro Lembranças Personalizadas. Além disso, a PF cumpriu um mandado de busca e apreensão no Haras Rancho JC Treinamento, onde foram confiscados os cavalos de raça do Peixe e um reboque usado para o transporte dos equinos.
Mesmo não sendo colocado como dono do haras, o traficante já foi chamado de “patrão” em uma postagem do empreendimento, que o parabenizou pelo seu aniversário. Ao todo, a operação resultou na prisão de quatro pessoas, além das apreensões feitas em mais 13 endereços, sendo 12 em Campo Grande e um em Jaraguari.
Já o irmão do Peixe, Welder Ribeiro aparece como dono da transportadora WAR – nome social de Aliança Transportes –, criada em 2015 e que atua principalmente no reboque de veículos. Inclusive, em outro processo, de 2019, na Justiça Federal, ele pede de volta um caminhão que foi apreendido pelo Ministério Público Federal (MPF), transportando cigarros paraguaios.
Segundo consta nos documentos, o veículo teria sido confiscado durante uma operação contra o contrabando de cigarros e Welder Ribeiro, proprietário, solicitou que o órgão devolvesse o caminhão. Depois de diversas atualizações, o processo foi movido para “conclusos para julgamento” no sábado. Importante ressaltar que ele pede a restituição do caminhão por meio da empresa Transrest Transportes e Limpeza, que está no nome de uma terceira pessoa.
As primeiras fases da Operação Contra-Ataque foram feitas em Minas Gerais. A primeira foi realizada em novembro de 2023, quando foram cumpridos 34 mandados de busca e apreensão em Uberaba (MG), Uberlândia (MG), Conceição das Alagoas (MG) e Ribeirão Preto (SP).
Na ação, foram apreendidas duas armas, 12 veículos, 53 kg de maconha, aparelhos celulares e R$ 26,4 mil em dinheiro em espécie. A Justiça também determinou o bloqueio de bens e valores provenientes das atividades criminosas, em aproximadamente R$ 4 milhões, e sequestro de 8 imóveis.
Além disso, 16 suspeitos foram presos na ação após o cumprimento de 22 mandados de prisão preventiva, que ainda teve 4 flagrantes e 2 termos circunstanciados. Em abril do ano passado, foi deflagrada a segunda fase da operação, que resultou no cumprimento de quatro mandados de prisão preventiva e três mandados de prisão temporária contra os investigados.
Esta etapa teve como alvo integrantes de uma facção criminosa de Uberaba (MG), que atuava na comercialização de armas e drogas. Dois meses antes, em fevereiro, dois membros desta associação foram assassinados.
As investigações da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Minas Gerais (Ficco-MG) apontaram que esta facção criminosa tinha contato com William, que foi preso ontem, durante a terceira fase da operação, em Campo Grande.
