O juiz federal aposentado Odilon de Oliveira, candidato a governador pelo PDT, tem um grande dilema para resolver nestas eleições. Como ele pode pleitear governar Mato Grosso do Sul se não conseguiu nem cuidar direito da 3ª Vara Federal Criminal de Campo Grande? E, se cuidou, por que o seu funcionário de confiança por 21 anos é acusado de desviar mais de R$ 10,6 milhões dos cofres apreendidos de traficantes quando atuava na Vara Federal?
A questão é o calcanhar de Aquiles da campanha eleitoral do juiz federal aposentado, pois se não responder satisfatoriamente os questionamentos a respeito dessa situação pode dar adeus às chances de ser eleito. Caso opte por ignorar o processo que está em andamento, o resultado pode ser o mesmo ou até pior. É velha máxima de que se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.
Porém, o fato é que Odilon de Oliveira tem uma decisão a tomar sob risco de ver naufragar o sonho dourado de virar governador de Mato Grosso do Sul. Enquanto isso, a defesa do ex-servidor da Justiça Federal em Campo Grande Jedeão de Oliveira, funcionário de confiança de Odilon por 21 anos, apresentou as alegações finais em processo movido contra ele, sob acusação de ter desviado dólares dos cofres apreendidos por ordem do magistrado.
Alvo de ação que cobra R$ 10,6 milhões, Jedeão responde a 26 acusações de peculato e admite ter cometido um crime, “fraudado um documento”, nas palavras do advogado dele José Roberto Rodrigues Rosa. O defensor disse apenas que pediu a prescrição de parte dos supostos delitos cometidos e pena mínima pelo crime que Jedeão confessou. “Não posso falar mais do que isso, porque este processo tramita em sigilo”, teria dito.
Entenda o caso
Em maio de 2015, o Banco Central do Brasil devolveu uma quantia em torno de US$ 16,7 mil, cujas notas não poderiam ser trocadas. Na oportunidade, a ordem era que o dinheiro fosse guardado no cofre e, no dia seguinte, acautelado na Caixa Econômica Federal.
Segundo Jedeão, a ordem foi cumprida. Posteriormente, em vistoria, descobriu-se que esse dinheiro estava na secretaria, no armário do funcionário, embora já tivesse passado mais de um mês desde a determinação de uma juíza que atuou na 3ª Vara.
Ainda conforme o documento, o ex-servidor confessa ter feito uma transação financeira e inserido informação em ofício para o juiz assinar.
“Em outras palavras, o ex-diretor assume que, na tentativa de sanar um problema (a não localização dos valores a serem devolvidos à […], inseriu num ofício encaminhado ao Dr. O (iniciais do ex-chefe de Jedeão)., junto a outras contas que realmente necessitavam de correções, uma conta que não precisava de nenhuma mudança, permitindo, com isso, sacar indevidamente valores de uma conta escorreita e que possibilitariam a restituição”.
A ação penal, proposta pelo MPF (Ministério Público Federal), tramita desde julho de 2016 na 5ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande. “Pergunto: como alguém atua desviando valores por 20 anos? Tendo um juiz que fiscaliza duas vezes por ano o cofre e o tribunal que manda correição. Sempre esteve tudo certinho. Leva 20 anos para ver que sumiu dinheiro. É uma situação bem esquisita”, disse o defensor de Jedeão à época, deixando subentendido que Odilon saberia de tudo.
O advogado afirmou ainda que mais de um servidor tinha acesso ao cofre onde ficava o dinheiro apreendido. “Tudo que falta de dinheiro caí nas costas dele. Mas não era só o Jedeão que tinha acesso ao cofre onde guarda valores. Precisa de dois servidores para abrir o cofre, um coloca a chave e ou outro digita a senha”, diz o advogado.
A 3ª Vara Federal de Campo Grande é especializada em crimes de lavagem de dinheiro, ocultação de bens e valores e crimes contra o SFN (Sistema Financeiro Nacional). Jedeão mudou-se para Cuiabá (MT) e diz ter recebido amaeaças depois que o sumiço dos dólares veio à tona.