Memórias de um náufrago!

Por Ernesto Ferreira, náufrago.

A razão desse pequeno texto é o nascimento do blog do meu velho amigo Nélio, que conheço desde os tempos de adolescência. Se minha memória não estiver errada, nos encontramos pela primeira vez numa viagem de barco pelo litoral da Bahia de todos os Santos, tendo como destino uma ilha, em que festejos de Carnaval estavam acontecendo.

O futuro blogueiro Nélio, por azar, acabou assaltado, durante a madrugada, em meio à multidão, em plena rua. Ao pobre Nélio, transformado em náufrago carnavalesco, pouco restou, apenas o calção. Tentou, sem sucesso, convencer o pessoal das barcas que realizavam o transporte para o continente, a levá-lo de volta.

Desesperado, atirou-se nas águas do mar, nadou vigorosamente até o barco mais próximo, tentou embarcar, sendo repelido por um resoluto marinheiro, que todas as vezes o empurrava de volta ao mar. Foi preciso a intervenção de alguns passageiros sensibilizados, permitindo o resgate.

A essa altura, os futuros leitores (será que haverá leitores?), devem estar espantados e, se perguntando, que diabos tem a ver o nascimento desse blog com esses tristes e remotos fatos que acabei de narrar? E com o futuro? Preciso solicitar calma aos meus virtuais leitores, posso explicar tudo.
O convite do meu velho amigo para colaborar nesse blog, causou-me algumas reflexões, a primeira delas é que não sou jornalista, nada tenho a escrever sobre fatos e notícias, não possuo habilidades ou credenciais para tanto.

A segunda, é que me fez escrever sobre nascimentos, naufrágios e o futuro, lembrei-me do filósofo alemão, Theodor Adorno, que desenvolveu toda uma teoria crítica da sociedade, da história e do conhecimento, representada por ele com uma simples metáfora, a da garrafa hermeticamente fechada, contendo uma mensagem, escrita por um náufrago e lançada ao mar.

A garrafa permanecerá a deriva no mar por tempo indeterminado, com sorte, alguém poderá resgatá-la em algum remoto ponto do planeta, poderá ou não abrir sua tampa, ler ou não a mensagem nela contida. Se ler, qual compreensão terá? Fará uso de sua compreensão? Ou, simplesmente, descartará tudo, garrafa, tampa e mensagem?

Pois bem, pacientes leitores, escrevo exatamente como esse náufrago, minhas mensagens serão escritas a partir da minha ilha virtual, colocadas em garrafas hermeticamente fechadas e lançadas nesse blog, pois, além de ver semelhança entre um oceano e um blog, preciso confessar que, apesar da condição de náufrago, não tenho outro oceano à disposição.

Para terminar, preciso explicar sobre o futuro. Espero, que minhas garrafas possam ser abertas por leitores inteligentes, capazes de usar minhas mensagens como referências despretensiosas, porém decididamente críticas, porque escritas na única condição que, segundo o mesmo Adorno, podem ambicionar à essa categoria, no distanciamento dos fatos , coisa que minha atual situação, a de náufrago voluntário e consciente, me possibilita.

Dessa forma, espero oferecer esperanças aos que conseguirem perceber a importância da teoria crítica para a tarefa de reconstrução do espaço público, tornado privado pelo poder global que se estabeleceu no planeta. Para todos os outros que não acreditam nesse valor, sugiro que experimentem provocar um naufrágio em suas vidas, quem sabe assim possamos nos encontrar.