Marquito Trad aperta o Uber atrás de grana mas finge que não vê a exploração da “máfia do táxis”

File illustration picture showing the logo of car-sharing service app Uber on a smartphone next to the picture of an official German taxi sign in Frankfurt, September 15, 2014. A Frankfurt court earlier this month instituted a temporary injunction against Uber from offering car-sharing services across Germany. San Francisco-based Uber, which allows users to summon taxi-like services on their smartphones, offers two main services, Uber, its classic low-cost, limousine pick-up service, and Uberpop, a newer ride-sharing service, which connects private drivers to passengers - an established practice in Germany that nonetheless operates in a legal grey area of rules governing commercial transportation. REUTERS/Kai Pfaffenbach/Files (GERMANY - Tags: BUSINESS EMPLOYMENT CRIME LAW TRANSPORT)

Em setembro do ano passado, o Blog do Nélio denunciou que a chegada a Campo Grande do UBER – um aplicativo para dispositivos móveis que coloca os usuários em contato direto com os automóveis de passageiros com condutor – seria a salvação para a classe dos taxistas (motoristas auxiliares) para acabar de uma vez por todas com a máfia que concentra a maioria dos alvarás e explora a categoria no município.

Passados cinco meses e com o serviço funcionando a pleno vapor, eis que a “Máfia dos Táxis” colocou todo o lobby para funcionar e “conseguiu” convencer o prefeito Marquito Trad que é preciso “endurecer” a relação da Prefeitura de Campo Grande e os motoristas de UBER em operação na Capital.

Após reunião com taxistas, ele informou que vai elaborar decreto sobre a regulamentação da UBER e colocar em discussão com as categorias antes de assiná-lo. A intenção é formalizar regras ao novo serviço de transporte e limitar o número de motoristas autorizados para cerca de 200.

“Nós vamos regulamentar. Estou vendo as normas de outras capitais, então vamos fazer o decreto regulamentando (o Uber) para que todos os motoristas sejam identificados, que apresentem informações, que o veículo seja identificado. Vamos exigir escritório de atendimento aqui (em Campo Grande), que todos tenham seguro do carro para garantir a segurança do passageiro, enfim, as mesmas condições cobradas dos taxistas”, disse à imprensa.

Reunião

No entanto, nesta semana, representante da empresa UBER veio de São Paulo e foi até a Prefeitura tentar acordo para regulamentação do serviço em Campo Grande. No encontro, Marquito Trad já abriu o jogo, dizendo que ele quer é “grana” e, para assinar o decreto de regulamentação do serviço, exigiu o pagamento retroativo dos tributos não recolhidos desde que o serviço chegou, ou seja, em setembro de 2016.

“Vieram espontaneamente, devem ter visto notícias, com o barulho todo que foi. Daí eu falei: vocês chegam aqui, usam o solo de Campo Grande, o nosso asfalto, enriquecem, levam o dinheiro e ainda querem fraudar a lei? Isso não pode”, declarou o prefeito.

Ora senhor prefeito, desde quando Campo Grande tem asfalto? Pelo o que temos visto são crateras ao lado de crateras e os motoristas de UBER que deveriam cobrar da Prefeitura melhores condições das vias públicas.

Porém, está na hora de falar a verdade e deixar claro que é o “dinheiro” que está motivando essa “regularização” de um serviço que só está trazendo benefícios para a população.

Após a reunião, Marquito Trad disse que o tal “decreto” será expedido na próxima semana, pois já estaria “praticamente” pronto. “Vamos enviar para eles por email, perguntar se querem sugerir algo e avaliar”, finalizou, ao ressaltar novamente que a intenção não é extinguir o serviço e sim regulamentar, “para dar segurança ao passageiro e concorrência igualitária com táxis e moto-táxis que pagam impostos”.

Será mesmo?

Falta de veículos

Como o Blog do Nélio denunciou no ano passado, hoje, de acordo com a Assotaxi, criada em 2010 para defender os 750 motoristas auxiliares de táxis, por Lei Municipal, Campo Grande deveria ter um táxi para cada mil habitantes. Tendo em vista que a Capital tem 490 alvarás, existe uma defasagem de 360 alvarás, já que a população passa hoje de 850 mil habitantes, conforme dados do IBGE.

Um movimento iniciado no ano passado já cobrou para que se cumprisse a lei com mais 400 táxis. Essa situação mantém ativo um rentável mercado negro de venda dos alvarás existentes. Alvarás de pontos do centro da cidade são vendidos em média por R$ 350 mil e de ponto no aeroporto internacional por R$ 700 mil. Um único frotista, por exemplo, chega a ter 55 carros (alvarás), onde trabalham 110 taxistas, como motoristas auxiliares. Essa “máfia” já foi denunciada ao Ministério Público, mas, o assunto está inerte.

A Capital conta hoje com 73 pontos de táxi e, por isso, a classe dos taxistas (motoristas auxiliares) queria o UBER para pôr fim à reivindicação de mais alvarás e a possibilidade de oferecer qualidade de serviços à população. Os taxistas narram que é percebido pelos passageiros que o serviço de táxi em Campo Grande é “ruim” e “precário”, e isso é pontuado continuamente aos motoristas. Não existe o respeito ao usuário, nem mesmo na vestimenta e no trato.

A frota é “sucateada”, pois para os permissionários vale a premissa da “rentabilidade máxima” e isso se baseia também na idade da frota, já que amparados por lei os veículos podem rodar por até 8 anos. Em pesquisas informais feitas pelos taxistas junto aos usuários percebe-se que a aceitação ao UBER é enorme, principalmente, pela imagem de qualidade de atendimento que o aplicativo construiu.

Semiescravidão

Os taxistas (motoristas auxiliares) também são chamados de “Curiangos” por trabalharem 24 horas ininterruptas, pois essa é a única condição de conseguirem pagar as diárias dos veículos, visto que os reais proprietários de alvarás não são os que dirigem, criando uma condição análoga à semiescravidão para os motoristas auxiliares.

A diária paga por cada motorista varia entre R$ 185,00 e R$ 235,00, conforme o ponto, fora despesas de combustível, e após 24 horas o carro precisa ser devolvido lavado, abastecido e com a diária paga. Apenas o saldo das corridas é dele, se houver.  São cobrados ainda dos motoristas valores em média de R$ 50,00 para uso de máquina de cartão de crédito e R$ 5,00 para bobinas de impressão de recibo.

Geralmente entre os dias 20 e 30 de cada mês o movimento cai e impacta os taxistas e por vezes eles ficam “pendurados” em débito, que devem ser pagos até o segundo dia. Caso contrário ele fica bloqueado de pegar outro carro para fazer diárias. Para corridas que saiam da cidade, além da diária os motoristas têm que pagar km rodado, tornando-se economicamente inviável atender clientes em longas distâncias, e isso é um problema visto que Campo Grande é a porta de entrada para o turismo internacional no MS. A situação financeira destes motoristas e suas famílias (750) é dramática, diante das condições impostas para poderem trabalhar.