Manda soltar, manda prender: Juiz volta atrás e decreta prisão de PRF que matou empresário

prf-matador-doc1prf-matador4prf-matador3A Justiça decidiu hoje prender o PRF Ricardo Hyun Sun Moom.

A decisão foi o mesmo juiz que soltou Moon no domingo. O magistrado Mario José Esbalqueiro Junior reformou a própria sentença seguinda pedido do Ministério Público.

Anteriormente ele havia dito que “a regra é provar que ele é culpado, não prender para depois provar que é inocente”.e soltou o policial rodoviário federal Ricardo Hyun Sun Moon.

O mandado foi cumprido na manhã desta quinta-feira por policiais do Garras com o acompanhamento da corregedoria da PRF,

Os advogados de Moon agora preparam um pedido de Habeas Corpus que deve ser analisado ainda hoje.

Nesta quarta-feira (04/01), o Blog do Nélio obteve, com exclusividade, o depoimento prestado à Polícia Civil pelo policial rodoviário federal Ricardo Hyun Su Moon, 47 anos, que matou a tiros o empresário Adriano Correia, 33 anos, no dia 31 de dezembro de 2016, depois de uma discussão de trânsito em Campo Grande (MS), além de ferir com dois disparos um adolescente que estava na companhia da vítima no momento do crime.

 Ao delegado João Eduardo Santana Davanço, o policial rodoviário federal contou que disparou contra o veículo do empresário porque temia ser uma ação de bandidos de alguma organização criminosa para executá-lo, pois, como declarou no depoimento, quando era investigador da Polícia Civil de Mogi das Cruzes, em São Paulo, teria efetuado as prisões de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).

 prf-matador1Além disso, Ricardo Moon reforça que, como PRF, trabalha na região de fronteira do Brasil com a Bolívia, nos municípios de Corumbá (MS) e Anastácio (MS), tendo efetuado diversas prisões de bandidos por tráfico de drogas e cumprido inúmeros mandados de prisão de marginais de alta periculosidade. Em razão disso, ele alegou, em seu depoimento, que reagiu de maneira violenta para preservar sua integridade física, especialmente, a sua vida.

 O PRF ainda informou que não tinha intenção de atentar contra a vida de nenhum dos ocupantes do veículo, mesmo porque não os conhecia e, portanto, não tinha qualquer animosidade contra eles. Ainda no depoimento, ele garantiu que agiu institivamente para se defender e, no momento da abordagem ao veículo do empresário, teria utilizado o próprio aparelho celular para acionar a Polícia Militar pelo 190, solicitando apoio.

O incidente

Na linha de que teria alvejado a tiros os ocupantes da caminhonete Hilux, placa OOS-6359, de Campo Grande (MS), por temer ser uma ação de bandidos para executá-lo, Ricardo Moon alegou à Polícia que, quando trafegava pela Avenida Presidente Ernesto Geisel, o empresário teria saído da Rua Pimenta Bueno, em alta velocidade, e quase colidindo com a Pajero TR 4, placa EAM-2021, de São Paulo (SP), conduzida por ele.

 Além disso, ao passar pela caminhonete, Adriano Correia teria jogado o veículo contra o dele, momento em que diminuiu a velocidade e desviou para evitar uma colisão. No entanto, no cruzamento com a Rua 26 de Agosto, ao parar no semáforo, o empresário teria parado atrás do seu veículo, sendo que, neste momento, Ricardo Moon declarou que sentiu sua vida em risco.

 Por isso, contou o PRF, desceu do seu veículo com a mão sobre a sua arma de fogo, uma pistola PT 100, calibre .40, de propriedade da Polícia Rodoviária Federal, que estaria no coldre preso à sua cintura, quando visualizou duas pessoas dentro da caminhonete, sentadas nos bancos dianteiros. Ainda de acordo com ele, foi nessa hora que se identificou como policial e solicitou que os ocupantes do veículo mostrassem as mãos para verificar se estavam armados, mas não teria sido atendido, acedendo então sua lanterna para melhor visualizar o interior da Hilux, quando percebeu um terceiro ocupante no banco de traseiro.

 Ele teria dado a ordem novamente para os três ocupantes, que voltaram a não atender, sendo que os dois passageiros teriam saído de dentro do veículo e caminhado na direção dele, enquanto o condutor ficou dentro da caminhonete. Neste momento, Ricardo Moon disse que ficou muito assustado e sacou a arma, sendo ameaçado pelos dois passageiros que teriam dito: “vamos te pegar”.

 Teria sido nesta hora que o PRF pegou o seu aparelho celular e ligou para a PM, solicitando apoio para conter as três pessoas. Nisso, segundo ele, os passageiros voltaram para dentro da caminhonete e Ricardo Moon teria se posicionado em frente ao veículo com a arma em punho, sendo que o empresário teria acelerado a Hilux indo em direção ao PRF, que disparou e o resultado foi que o motorista foi atingido e bateu a caminhonete no poste da rede elétrica logo à frente de onde eles estavam.

Ricardo Moon contou em seu depoimento que pegou a sua Pajero e foi até onde a caminhonete teria batido para verificar a situação, momento em que a viatura da PM teria chegado ao local e ele teria se identificado imediatamente como policial rodoviário federal.

 Após tomar conhecimento do conteúdo do depoimento de Ricardo Moon, o Blog do Nélio entrou em contato com o diretor-geral da Polícia Civil no Estado, delegado Marcelo Vargas, para ouvir o posicionamento oficial sobre as investigações a respeito do incidente. Ao Blog do Nélio, o delegado Marcelo Vargas disse que o objetivo da Polícia Civil é a busca da verdade real e não tem compromisso com a defesa ou com a acusação do PRF. “Vamos apurar os fatos na íntegra, doa a quem doer”, garantiu.

MPE

 Também nesta quarta-feira (04/01), o MPE (Ministério Público Estadual) pediu a prisão preventiva e quebra do sigilo telefônico de Ricardo Moon, alegando que o policial foi preso em flagrante pelo crime de homicídio e causou ferimento em outras duas pessoas, o que “potencialmente virão caracterizar outros dois crimes de tentativa de homicídio”.

 Além disso, o MPE classificou a decisão da Justiça de soltar o acusado como não “acertada”, pois no auto de prisão em flagrante apenas os policias militares que atenderam a ocorrência teriam sido ouvidos e que as outras vítimas sobreviventes não foram ouvidas.

E hoje pela manhã a justiça decidiu mudar de ideia e prender o PRF.

 “O crime praticado pelo requerido não apenas é abstratamente grave, afinal, o homicídio é a infração penal que atenta de maneira vais lesiva ao bem jurídico mais importante daqueles tutelados pelo Direito Penal, isto é, a vida, mas, no caso concreto, apresenta circunstâncias que o tornam especialmente grave e, assim, abalador da ordem pública”, frisaram os promotores de Justiça no pedido encaminhado à Justiça.

 Somado ao fato de ressaltarem que o PRF recebeu treinamento ‘rígido’ para representar o Estado, o MPE afirma que das 17 munições que haviam no revolver (16 balas no cartucho e uma na própria arma), “sobraram apenas quatro intactas na pistola do policial”. Para os promotores, isso “demonstra grave ofensividade em sua conduta pela intensidade do dolo, do que decorre sua periculosidade”.

 O MPE também solicitou ao delegado João Eduardo Santana Davanço, que cuida do caso, perícia no suposto buraco que teria causado a ‘fechada’ do veículo do empresário na Pajero do policial, além de oitivas com testemunhas que presenciaram o fato, bem como perícia nos vídeos que possam ajudar a solucionar o caso.

 Para os três promotores que assinam o documento, o PRF apresentou uma versão fantasiosa dos fatos, que relatou ao delegado que ficou com “medo” que Adriano e demais ocupantes do veículo pudessem ter intenção de “assaltá-lo” ou “executá-lo.

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