Os quase dois anos atrás das grades – a prisão foi em 19 de setembro de 2019 – já começam a afetar o psicológico do outrora poderoso empresário campo-grandense Jamil Name, 83 anos, acusado de chefiar milícia armada responsável por várias execuções em Mato Grosso do Sul. Durante audiência por vídeo ontem (19) para ouvir testemunhas de defesa em ação penal envolvendo a execução do ex-chefe de segurança da Assembleia Legislativa, Ilson Figueiredo, em 2018, ele chutou o balde e protestou contra o próprio advogado, dizendo que ele não mandava na sua vida.
“Você é meu advogado, mas não manda na minha vida”, afirmou Jamil Name em resposta à insistência dele em conversar com o juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, no começo da sessão. Ele participa da audiência por vídeo, direto do Presídio Federal de Mossoró (RN), onde está preso. Em Campo Grande, em cela do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros), também participou da videoaudiência o compadre dele, o empresário ponta-porandense Fahd Jamil, 79 anos, acusado de orquestrar a morte de Ilson Figueiredo, que está preso há um mês.
Como o procedimento é para ouvir depoentes e não os réus, o advogado de Jamil Name, Tiago Bunning, ao perceber o pedido dele para falar com o juiz, alertou que a vez do cliente se manifestar é no interrogatório. Antes disso, ele já tinha protestado em voz e em gestos, pela vontade de conversar com o magistrado. “Eu quero falar com o juiz, por um minuto”, declarou. Prontamente, o advogado entrou em cena, para tentar convencer o cliente de que a oportunidade dele de ser ouvido será no dia 27 de maio, quando está marcado o interrogatório dos réus.
O apelo do réu acabou fazendo a audiência começar em tom polêmico. Ao pedir a palavra, o promotor de Justiça Douglas Oldegardo dos Santos foi interpelado pelo defensor de Jamil Name, que chamou de “desarrazoada” sua fala, antes mesmo da conclusão. Alegou existirem incidentes de insanidade mental quanto a Jamil Name, e que a acusação, exercida por Douglas, estaria se aproveitando da situação, ao se valer de um “evidente prejuízo na capacidade de cognição”.
Notadamente irritado, Douglas dos Santos citou a necessidade de “fidalguia” entre as partes, dizendo que foi interrompido antes mesmo de desenvolver o raciocínio. Ao argumentar, defendeu que o cliente tem direito à “autodefesa”, ou seja, a se manifestar. “Há uma desconexão, desacerto entre autodefesa e defesa técnica”, opinou o promotor de Justiça. “Se estão colidindo, a minha sugestão é que se decida em favor da autodefesa”, completou.
O advogado, então, pediu para que se essa for a decisão do magistrado, que ele pudesse conversar com o cliente antes de ele se manifestar. Em audiência anterior, no ano passado, Jamil Name chegou a oferecer propina milionária ao magistrado em outra audiência. O caso se transformou em mais uma apuração contra ele. Depois disso, foram apresentados os incidentes de insanidade mental, para que ele seja considerado incapaz de gerir a própria vida e seja nomeado um tutor.
Diante do impasse, a autoridade do judiciário decidiu que a audiência de hoje ocorreria normalmente, e no final vai conversar com o réu, em separado, além de permitir a conversa com o defensor. “A situação ocorrida na audiência de hoje aumenta ainda mais a preocupação da defesa com a saúde de Jamil Name. É mais um dos atos que evidenciam que além dos diversos problemas físicos de saúde atualmente lhe falta plena faculdade mental, ao ponto de sequer compreender o procedimento de um processo penal que guarda para o réu o momento de ser interrogado apenas ao final de todos os depoimentos, o que já foi lhe explicado diversas vezes”, afirmou o defensor, Tiago Bunning,
Segundo o advogado, Jamil Name não compreende em quantos processos é acusado e quantas prisões preventivas existem em seu desfavor, sequer tem conhecimento de qual fato é apurado em cada uma das mais de 30 audiências a que já foi submetido. “Ele apenas delira e vem repetindo que “vai morrer se permanecer preso em Mossoró”. O advogado citou a fala de testemunhas que foram ouvidas na data de hoje, que estão presas em Mossoró, segundo as quais é fato notório no lugar que Jamil Name é o mais idoso entre os presos. “Sequer consegue fazer sozinho as suas necessidades mais básicas, tais como tomar banho e cortar as unhas”, afirma Bunning. Com informações do site Campo Grande News