A lista de exploradores do trabalho escravo em Mato Grosso do Sul, divulgada a cada seis meses pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), traz de pecuaristas a exportador de fruta para o mercado europeu.
O “cadastro de empregadores que submeteram trabalhadores a condições análogas à escravidão” traz o exportador de limões Valdinei Aparecido Roque e os pecuaristas Kelis Bezerra da Silva, Virgilio Mettifogo, Lúcio Ferreira Baldonado e Nilson Pereira Bento.
No primeiro caso, Valdinei Roque é proprietário da Fazenda Pedra Negra, em Aparecida do Taboado (MS), onde foram resgatados 20 trabalhadores, incluindo um adolescente de 16 anos.
A empresa tem capital social de R$ 100 mil e fica localizada em Itajobi (SP), conhecida como “Capital Mundial do Limão”, com destaque para o taiti, tendo clientes na Rússia e em países da Europa.
Na Fazenda Pedra Negra, a situação análoga à escravidão foi verificada por fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego, em parceria com o MPT (Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul), no dia 15 de fevereiro de 2024.
O cenário era de alojamentos inadequados, falta de EPIs (Equipamentos de Segurança Individual) e recorrentes acidentes de trabalho. A empresa exportadora de frutas se comprometeu a cumprir as medidas estabelecidas nos acordos, sob pena de multa diária e reversão dos valores para campanhas educativas ou em prol da coletividade.
Pecuaristas
Além do exportador de limões, a fiscalização também autuou pecuaristas, como Kelis Bezerra, proprietário da Fazenda São Joaquim, no município de Angélica (MS), onde 31 pessoas foram encontradas em situação similar à escravidão.
O cadastro do Ministério do Trabalho e Emprego também traz o nome de Virgílio Mettifogo, que é réu no episódio chamado de “Massacre de Caarapó”, um ataque que causou a morte de um indígena e deixou outros seis feridos em 2016.
O trabalho análogo à escravidão foi registrado na Fazenda Marreta, em Dourados (MS), com resgate de sete pessoas. No grupo, estava uma criança de apenas 11 anos e um adolescente de 17 anos, que faziam a colheita manual de milho, inclusive, sem equipamento de proteção individual.
Durante a fiscalização, foi encontrado um galpão pequeno que servia de alojamento dos indígenas. O local sem janelas era utilizado para o grupo dormir e cozinhar. Não havia cama, nem colchão. As vítimas improvisavam local para deitar com tábuas, papelão e palha. Eles não tinham banheiro e por isso, precisavam fazer suas necessidades fisiológicas no mato.
Na “lista suja” em Mato Grosso do Sul, também figura a LLB Prestadora de Serviços Ltda., empresa que atua com “atividades de apoio à pecuária” e fica localizada em Guia Lopes da Laguna (MS), sendo de propriedade de Lúcio Ferreira Baldonado. O flagrante desse empregador foi na Fazenda Campo Alegre, em Corumbá (MS), onde foram resgatados oito trabalhadores.
Destinada à criação de boi, a Fazenda Invernada do Piri, em Porto Murtinho (MS), teve resgate de um trabalhador de 79 anos em 2024, sendo que o proprietário é Nilson Pereira Bento. O caseiro não dispunha de água potável e bebia água trazida em garrafas pets, que estavam enroladas com pedaços de pano para manter a temperatura da água mais fresca.
O líquido não recebia nenhum tipo de tratamento de purificação ou filtragem para seu consumo, com coloração turva. Quando a água trazida pelo empregador acabava o trabalhador bebia água barrenta de um açude. O alojamento era uma choupana.
O trabalhador resgatado não soube informar a data de nascimento, só sabia que o ano era 1945. Ele ainda relatou que frequentou escola somente por duas semanas em toda a vida, portanto, não sabia ler ou escrever.
Mato Grosso do Sul tem 12 fazendas no cadastro divulgado pelo Ministério do Trabalho, sendo metade relacionada à pecuária. O total de resgatados é de 99 trabalhadores. O empregador que entra no cadastro sofre restrição a crédito em bancos estatais. Com informações do site Campo Grande News