Justiça libera investigador ligado a delegado que matou boliviano e deve ser condenado

Delegado foi preso durante operação do Garras (Foto: Anderson Gallo/Diário Corumbaense)

O assassinato do boliviano Alfredo Rangel Weber, 48 anos, no dia 23 de fevereiro deste ano, em Corumbá (MS), ainda deve ter muita repercussão na Justiça de Mato Grosso do Sul. Enquanto o delegado Fernando Araújo da Cruz Junior, autor do homicídio, deve ser condenado e expulso da Polícia Civil, o seu braço direito na execução do crime, o investigador Emmanuel Nicolas Contis Leite, parece que terá melhor sorte, já que a Justiça lhe concedeu liberdade.

O investigador foi detido pela primeira vez em março desde ano, durante a operação que prendeu o delegado, mas foi liberado ao pagar fiança. Em maio, no entanto, voltou para o presídio por ajudar Fernando a atrapalhar as investigações do assassinato. O advogado Wellyngton Ramos Figueira, responsável pela defesa de Emmanuel, explicou que o pedido de liberdade foi feito ao juiz André Luiz Monteiro durante a primeira audiência sobre o caso, que aconteceu na sexta-feira (20).

Em entrevista ao site Campo Grande News, o jurista afirmou que a prisão de Emmanuel foi decretada para preservar a instrução processual e, com o início da fase de instrução do processo, não teria mais motivos de sua manutenção. Emmanuel estava no Centro de Triagem, na Capital, e foi liberado no sábado (21, enquanto o delegado Fernando Araújo continua preso no Presídio Militar de Campo Grande e acompanha as audiências do processo por videoconferência.

Entenda o caso

Segundo as investigações, o delegado esfaqueou e matou a tiros Alfredo Rangel no dia 23 de fevereiro. A desavença entre os dois começou durante as eleições para presidente da associação de agropecuaristas na Bolívia. O sogro de Fernando, Asis Aguilera Petzold (o atual prefeito da cidade de El Carmen), concorria ao cargo.

Durante uma briga, o delegado teria dado três facadas no boliviano. Alfredo foi socorrido e seria transferido para hospital de Corumbá, mas já em território sul-mato-grossense, a ambulância em que estava foi fechada por uma caminhonete preta.

O motorista desse veículo desceu, abriu a porta da viatura de resgate e atirou quatro vezes. Três tiros atingiram a cabeça da vítima, um deles o tórax. Sem ter o que fazer, o motorista voltou com o corpo para o país vizinho.

Ao decorrer das apurações, a Polícia Civil conseguiu interceptar conversas entre Fernando e Emmanuel. Nas mensagens o delegado pede opinião sobre mudanças feitas na caminhonete usada no crime, pede para o investigador levar a arma para uma terceira pessoa na Bolívia e ainda combina maneiras de atrapalhar as investigações sobre o assassinato.

Além de ameaçar testemunhas do crime, a dupla trabalhou na criação e divulgação de montagens com fotos de várias pessoas e os dizeres “Os assassinos de Ganso”, apelido da vítima. A intenção era “culpar” outras pessoas e desviar o foco do delegado.

As conversas entre o investigador e Fernando trouxeram até ameaças aos policiais da DEH (Delegacia de Repressão aos Crimes de Homicídio) e da Corregedoria da Policia Civil, que foram a Corumbá para investigar o caso. Nas mensagens Emmanuel sugere “metralhar” o hotel em que os investigadores estavam hospedados e também a 1 Delegacia de Polícia da cidade.