Condenado a 23 anos de prisão em três sentenças, o empresário campo-grandense Jamil Name Filho, 46 anos, o “Jamilzinho”, enfrenta o seu 1º júri popular pela execução do estudante universitário Matheus Coutinho Xavier, que começou nesta segunda-feira (17) e deve durar até sexta-feira (21).
O crime brutal – sete tiros de fuzil calibre 762 mm no início da noite de 9 de abril de 2019 – chocou e causou comoção. O alvo da suposta milícia era o ex-capitão PM Paulo Roberto Teixeira Xavier, o “PX”, pai da vítima, que teria “traído” Jamil Name e Jamilzinho na negociação envolvendo a Fazenda Figueira, de 19,1 mil hectares em Jardim (MS).
Cinco meses após o assassinato de Matheus Xavier, o Garras e o Gaeco deflagraram a “Operação Omertà”, que levou para a prisão Jamil Name e Jamilzinho, acusados de comandar um grupo de extermínio em Campo Grande (MS).
A quebra de sigilo dos dados telemáticos dos celulares levou a polícia a interceptar a enigmática e ameaçadora frase de Jamilzinho, em uma conversa com a ex-esposa, de que “promoveria a maior matança da história de Mato Grosso do Sul, de picolezeiro a governador”.
Essa frase passou a estampar faixas de protesto, que pedem a condenação dos acusados, e está em praticamente todos os bairros de Campo Grande. Ele já foi condenado a 23 anos e dois meses em três sentenças da Operação Omertà.
Na primeira condenação, pelo arsenal de guerra encontrado em uma casa no Bairro Monte Líbano, ele pegou quatro anos e seis meses de prisão. O outro réu, Marcelo Rios, foi condenado a cinco anos e quatro meses. Em outra sentença, por organização criminosa, foi condenado a seis anos.
Na terceira sentença, por extorsão armada para tomar a casa mediante ameaças do empresário José Carlos de Oliveira, ele foi condenado à maior pena até o momento, 12 anos e oito meses em regime fechado.
No total, conforme o promotor Gerson Eduardo de Araújo, a Operação Omertà levou o Gaeco a protocolar 19 ações criminais contra os integrantes da organização criminosa supostamente chefiada por Name.
Jamilzinho e o pai, que morreu em junho de 2021 em decorrência das complicações da Covid-19, foram formalmente acusados de serem os mandantes de três homicídios: Matheus Coutinho, do chefe da segurança da Assembleia Legislativa, Ilson Martins Figueiredo, e do empresário Marcel Hernandes Colombo, o Playboy da Mansão.
O juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, pronunciou Jamilzinho pela morte de Matheus e Marcel, mas rejeitou a denúncia em relação a Figueiredo por falta de provas.
Até a deflagração da Operação Omertà, Jamil Name era o poderoso empresário, famoso pelas festas reunindo autoridades da polícia e do judiciário e caciques da política regional. Ele era famoso pela ação social para ajudar os mais pobres na Capital. A esposa, Tereza Name, foi vereadora da Capital e chegou a ser cotada para concorrer ao cargo de vice-prefeita em várias ocasiões.
A partir desta segunda-feira, Jamilzinho enfrenta o júri popular pela primeira vez e pode ser condenado pela morte de Matheus Coutinho Xavier. O pai da vítima espera pela condenação para dar esperança a outras famílias de que não haverá impunidade.
“E que depois desta condenação, outras pessoas, acreditando mais na Justiça do nosso Estado, venha fazer denúncias de crimes até então não esclarecidos”, afirmou Paulo Roberto Teixeira Xavier.
Após quatro anos de silêncio sobre a dor de perder o filho, a advogada Cristiane Almeida Coutinho obteve autorização para atuar como assistente de acusação e vai se somar aos quatro promotores para pedir a condenação dos três réus.
O júri é presidido pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, acostumado com os holofotes dos casos de grande repercussão, como o julgamento da médica Neide Machado pela realização de milhares de abortos na Capital. Ele também foi responsável pela condenação do narcotraficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, em 2009, que também contou com megaesquema de segurança e teve repercussão nacional.
A defesa também conta com pesos pesados. Jamilzinho contratou o advogado Nefi Cordeiro, ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça, e os advogados criminalistas de São Paulo, Eugênio Carlo Balliano Malavassi e Bruno Zanesco Marinetti Knieling Galhardo. O júri deve ouvir 13 testemunhas, sendo cinco de acusação.