Investigação revelou que disputa pelo jogo do bicho teve prêmio de R$ 100 mil por morte de chefão

As investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) sobre a disputa pelo controle do jogo do bicho em Mato Grosso do Sul apontaram que foi oferecida recompensa de R$ 100 mil pela morte de Henrique Abraão Gonçalves da Silva, o “Macaulin” ou “Rico”, um dos líderes do grupo MTS, vinculado à estrutura paulista do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Ainda conforme o Gaeco, Macaulin movimentava cerca de R$ 5,4 milhões por mês com o jogo do bicho em Mato Grosso do Sul e utilizou como sede três apartamentos de luxo em Campo Grande entre 2021 e 2024. Ele é considerado um dos homens fortes do líder nacional do PCC, Marcos William Herbas Camacho, o “Marcola”, no Estado e foi denunciado por integrar organização criminosa.

Macaulin pertenceria ao núcleo operacional do PCC da Região Nordeste, tendo como missão a expansão da exploração dos jogos de apostas eletrônicos comandados pela facção. Além dele, foram presos Caio Borgheti Rino Guimarães, Jorge Luiz de Jesus Júnior, o “Duda”, Márcio Macanhan, o “Fábio”, Odiney de Jesus Leite Júnior, o “Barba”, Ricardo Andrade Ferreira, o “Jeferson”, e Ricardo França de Andrade.

O site Campo Grande News teve acesso ao pedido e à decisão judicial que embasaram a operação e apurou que todos os investigados seguem presos, inclusive sem decisões favoráveis à soltura nas instâncias superiores. A estrutura do MTS começou a se estabelecer em Mato Grosso do Sul em junho de 2021, com o primeiro escritório instalado no Centro Empresarial One Offices, na Rua 15 de Novembro.

O contrato tinha validade de um ano, mas foi rescindido em um mês devido ao grande fluxo de pessoas que acessavam a sala sem se identificar, o que gerou reclamações de outros ocupantes do edifício. Depois disso, a organização se transferiu para um apartamento no Edifício Três Irmãos, na Rua Dom Aquino, no Centro, que era mais amplo e, segundo os investigadores, o movimento intenso passava despercebido por conta da própria dinâmica do entorno.

O terceiro ponto de operação do grupo foi o Residencial Green Life, na Avenida Nelly Martins. O imóvel foi alugado em setembro de 2022 e mantinha o mesmo padrão dos anteriores, com grande movimentação de pessoas e veículos, muitas delas já conhecidas como integrantes do MTS.

Em novembro de 2023, o Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado) flagrou a mudança do grupo. Um caminhão retirou móveis do condomínio Green Life e os levou até o depósito da empresa Dois Irmãos Mudanças, no Jardim Batistão.

Após deixar os imóveis de alto padrão, a organização passou a atuar em locais mais discretos nos bairros Guanandi, Caiobá e Santo Antônio, seja para recebimento de malotes, seja para instalação de máquinas caça-níqueis.

Macaulin foi citado em relatórios da Operação Successione e foi identificado pela Decat (Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Ambientais e Atendimento ao Turista) como frequentador dos três escritórios do grupo.

Em meio à disputa pelo controle do jogo do bicho em Mato Grosso do Sul, integrantes da organização rival teriam colocado a “cabeça” dele a prêmio. Inicialmente, o valor oferecido era de R$ 50 mil, mas subiu para R$ 100 mil, segundo interceptações telefônicas.

As conversas envolvem Wilson Souza Goulart, preso na Operação Successione, e Odiney Leite Júnior, que era gerente do MTS no Estado. Wilson comenta: “eu já falei pra vc q a cabeça do rico tá 50 mil aí”, ao que Odiney responde: “disseram q foi p 100 mil”.

Odiney também era o responsável pela segurança do grupo, zelando para que motoqueiros e apontadores não desviassem recursos e para que outras facções não cooptassem integrantes da base. Também era ele quem aliciava comerciantes para instalação das máquinas de jogo.

Caio Borghetti Rino Guimarães era um dos líderes e frequentador dos escritórios do grupo. Jorge Luiz de Jesus Júnior também é apontado como liderança, com passagens por envolvimento com jogos de azar desde 2012 em São Paulo. Márcio Macanhan, o Fábio, auxiliava na liderança.

Ricardo Andrade Ferreira usava o nome falso “Jeferson” para se proteger de investigações e estava preso no Tocantins. Já Ricardo França de Andrade era o elo entre a cúpula paulista e a operação em Campo Grande, com movimentação financeira elevada e bens registrados em seu nome usados por outros membros.