Diálogos interceptados pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) revelaram que o policial penal aposentado Alírio Francisco do Carmo, que foi diretor da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), vendia transferência de presos e informações sigilosas para a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Uma caminhonete Ford F-250 foi dada para que não “dessem bonde” no primo de um traficante do PCC e outros R$ 25 mil foram pagos para transferir e “dar apagão” em um detento. Alírio do Carmo foi preso na sexta-feira passada, em Jaraguari (MS), durante o cumprimento de ordens judiciais da Operação Blindagem, deflagrada para derrubar o tráfico de drogas e de armas comandado por presos em Mato Grosso do Sul.
O policial penal já comandou o Centro de Triagem Anísio Lima, no Complexo Penal do Jardim Noroeste, em Campo Grande, além de ter chefiado a Divisão de Ações de Segurança e Custódia da Agepen, setor responsável pela movimentação carcerária, até se aposentar, com 30 anos de carreira, em setembro deste ano.
De acordo com a apuração do Gaeco, Alírio do Carmo foi cooptado pelos criminosos alvos da operação justamente quando virou chefe na Agepen. “Mediante promessa e o efetivo pagamento de vantagens indevidas, realizou transferências de internos do sistema prisional e apreendeu celulares de presos (desafetos da organização criminosas) a mando do grupo”, registraram os promotores de Justiça Antenor Ferreira de Rezende Neto, Moisés Casarotto, Gerson Eduardo de Araújo e Tiago Di Giulio Freire ao pedirem a prisão do policial.
Tudo foi descoberto a partir da apreensão do celular usado pelo traficante Kleyton de Souza Silva, o “Tom”. À época, o condenado por tráfico cumpria pena no Estabelecimento Penal de Aquidauana. Kleyton é inclusive conhecido no cenário criminal em Mato Grosso do Sul, já que ele é um dos condenados por tráfico de cocaína que foi desviado do depósito da Delegacia de Polícia de Aquidauana e negociado pelo ex-delegado de Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Eder Oliveira Moraes.
Conversas pelo WhatsApp entre o presidiário e outro nome famoso no cenário policial sul-mato-grossense, Thiago Gabriel Martins da Silva, o “Especialista” ou “Thiaguinho PCC”, que foi preso na Bolívia em 2023, “entregaram” o policial penal.
Numa das trocas de mensagens, Kleyton demonstra preocupação com “o bonde” que acontecerá no dia seguinte – transferência de presos. Thiago afirma que vai verificar a situação com “Seu Francisco”, que conforme a investigação, trata-se de Alírio Francisco do Carmo. Neste momento, o criminoso ligado ao PCC revela que já pagou para que o servidor mantivesse um primo no estabelecimento penal onde estava.
“Mané, eu dei uma F-250 pra ele, pra ele blindar meu primo lá que os caras queriam dar bonde, o Wesley foi lá dar bonde, não conseguiu tudinho. A caminhonete vale 75 mil reais, você sabe disso”, diz Thiago a Kleyton. De acordo com a investigação que antecedeu a Operação Blindagem, o ex-diretor então agiu para manter Kleyton no presídio de Aquidauana, com menos rigor na segurança.
Outro pagamento feito ao policial penal, segundo as interceptações, foi para efetivar a transferência de um preso e deixá-lo sem celular. “Da análise das conversas, verificaram-se tratativas com ‘Seu Francisco’ sobre como se daria o pagamento da vantagem indevida no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) que ele receberia para transferir um custodiado (não identificado). Do diálogo, nota-se que foi pactuado que o servidor receberia metade do valor numa sexta-feira e o restante na ocasião em que o interno chegasse ao estabelecimento para onde seria transferido”, diz relatório do Gaeco.
Por fim, para o Gaeco, Alírio do Carmo era um dos integrantes do “setor de inteligência” da organização criminosa. “Há registros de que Alírio […] acessava indevidamente os sistemas SIGO e SEEU, a mando do referido líder criminoso [Thiaguinho PCC], para lhe fornecer dados sigilosos a respeito de quem ele quisesse obter essas informações”.
