Em um novo depoimento, o empresário José Alberto Miri Berger retirou às acusações contra o governador Reinaldo Azambuja, candidato à reeleição pelo PSDB, e o Ministério Público Federal (MPF) pediu à ministra Maria Thereza de Assis Moura, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o arquivamento do inquérito sobre pagamento de propinas ao chefe do Executivo de Mato Grosos do Sul.
Segundo o jornal Correio do Estado, que teve acesso ao pedido do MPF, o empresário disse à Polícia Federal ter sido, na verdade, vítima de golpe de José Ricardo Guitti, mais conhecido como “Polaco”. Investigado perante a 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Campo Grande por supostos crimes tributário, Alberto Berger, sócio-administrador da empresa Braz Peli Comércio de Couros Ltda., declarou ter sofrido sistemática pressão de pessoas ligadas ao Governo do Estado para pagar propinas em troca de continuar usufruindo dos incentivos fiscais, de acordo com os termos do Acordo nº 490/2010.
Ele foi surpreendido, no entanto, com autuação da sua empresa pela Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz) e, por isso, decidiu procurar o governador Reinaldo Azambuja para tratar da questão, porque estava inconformado com a punição dada à empresa depois de pagar propinas a Polaco. Azambuja pediu ao empresário para falar com o então chefe da Casa Civil, Sérgio de Paula, que o encaminhou a Polaco para resolver a questão.
No depoimento, o empresário disse ter feito dois pagamentos a Polaco, sendo um de R$ 500 mil e outro de R$ 30 mil. Polaco teria dito que Sérgio de Paula recebeu o dinheiro da propina e o governador teria “autorizado a fazer o acerto”. Depois de analisar os depoimentos e os documentos juntados no inquérito, o vice-procurador-geral da República, Luciano Mariz Maia, constatou “a inexistência de indícios mínimos de crime a justificar pela continuidade da persecução penal” contra Azambuja.
Para Luciano Maia, “ocorre que o cenário apresentado por José Alberto Miri Berger acabou sendo por ele próprio desconstruído, tornando sem justificativa a existência deste inquérito”. O vice-procurador-geral da República destacou o depoimento do empresário, realizado no dia 4 de junho deste ano, em que declarou ter procurado o governador por “desespero” e se queixou da falta de atenção dele. “Não deu muita atenção para mim, não deu muita bola, muita ênfase ao foco, eu falei governador eu não posso, tal, tal, tal, e nesse meio tempo, nesse meio termo, eu procurei um monte de caminhos porque eu precisava conversar com alguém que me desse uma atenção e eu conheci esse tal de Polaco”, disse Berger à PF.
Já o governador, afirmou o empresário, pediu para tratar diretamente com o “pessoal da Sefaz”. Berger comentou que procurou Polaco por indicação de pessoas do ramo de frigoríficos por ser pessoa próxima a Sérgio de Paula. Ele disse ainda à PF que estava tão nervoso quando foi fazer a denúncia de corrupção ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público Estadual, que “tinha plena convicção, certeza absoluta de que era o governador Reinaldo que estava por trás de tudo isso, manipulando esse esquema todo de corrupção”.
Porém, depois viu que o governador não estava envolvido nesse esquema. “Hoje, eu vejo que fui vítima de um golpe, por Deus, porque esse José Ricardo Guitti [Polaco], para mim, ele é um estelionatário”, afirmou. Por não ter provas contundentes, o empresário ressaltou que “não posso jamais acusar o governador”. Ele chegou à conclusão de que, se Azambuja estivesse envolvido na propina, a sua empresa não estava sendo fiscalizada e multada pela Sefaz.